sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Perdi-me

Perdi-me no teu corpo, durante horas,
durante horas perdi-me no teu corpo...

Perdi-me no cheiro do teu pescoço, no toque da tua pele, na côr dos teus olhos, no sabor do teu sopro...

Caminhar nos teus seios, vaguear no teu cabelo, banhar-me em cada gota de suor e respirar da tua boca...

Ao percorrer cada centímetro da tua pele, durante horas...perdi-me.

Subir pelos teus braços, descer pelas tuas costas, desaparecer no meio das tuas coxas, bem dentro de ti...

Apesar de o saber de cor, perdi-me no teu corpo...

Bem fundo nos teus olhos, senti naquele momento, uma força, uma paixão, um calor...

Foi como se mais nada existisse, como se fossemos únicos no mundo...

Perdi-me no teu corpo...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Imaginário XVII

Sentei-me à secretária depois de a ter limpo cuidadosamente.

O estado de caos em que se encontrava não me permitia ter o mínimo de concentração. E como eu precisava de concentração. Precisava de me concentrar não tanto para escrever mas para separar os sentimentos que se começavam a aflorar, a invadir o “meu” espaço intelectual, sentimental, emocional de segurança. Se não conseguisse acalmar estes sentimentos que emergiam que nem monstruosos seres hediondos dentro de mim corria o risco de ser mal interpretada. De não dizer o que realmente queria. De me perder em detalhes que não eram o mais importante.

Assim comecei por limpar a secretária. Com o antebraço afastei toda a papelada e objectos que se iam acumulando lá em cima. Tudo o que eu ia depositando enquanto dizia “a ver se um dia destes dou um jeito nisto”. Hoje era “um dia destes”.

Apesar de saber exactamente onde estava cada coisa preferi mandar tudo para o chão. Deixar que os objectos se misturassem para que eu não soubesse de olhos fechados onde estavam. Tinha que perder esta mania de caos organizado, tinha que perder esta mania de que “eu sei onde está tudo e quando começar a arrumar mentalmente sei onde vou pôr cada coisinha” porque era por causa de pensares destes que cada as coisas se iam acumulando cada vez mais.

Por isso tomei esta decisão. Apesar de ter muita pressa para escrever para não me esquecer de nada do que queria dizer-te, preferi arrumar primeiro. Arrumar a secretária, arrumar os sentimentos.

E não me perguntes por que é que arrumar esta me ajuda. Não me perguntes porque preciso de a desarrumar para a voltar a arrumar. Não me perguntes porque é que, estando arrumada pelos meus padrões precisei de alterar tudo para colocar as coisas em sítios diferentes e porque é que isso tinha que ser feito antes de escrever.

Só sei que quem olha para ela a vê arrumada. Arrumada e limpa. Eu sei que está tudo mais caótico que antes. Agora não sei onde estão as coisas. Mas enquanto as “desarrumei” ordenei outras coisas, agora os sentimentos estão arrumados.

No fim fui buscar uma vela de cheiro.

Está aqui do meu lado direito. Alumia e aquece. Olho para ela e perco-me a ver a sombra da chama na parede, as formas que a cera forma ao derreter. E começo a escrever.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Em Fogo 8 - Tempo

Olhei para o relógio e estavas atrasada, senti um aperto no estômago porque não sabia se ias aparecer... espreitava a esquina na esperança de vislumbrar o teu cabelo ao vento, as tuas longas pernas, os teus olhos que apenas sabem responder aos meus.

Mas... tu não vinhas... o tempo, esse maldito, estava a afastar-me de ti porque vivemos escravos das horas, dos minutos, das tarefas que temos de cumprir, dos locais onde temos de ir, das pessoas com quem temos de partilhar 8 horas por dia e que nada nos dizem... eu só queria estar contigo e tu não vens...

Penso na forma como passamos a nossa Vida: acordamos de manhã estremunhados pelo relógio despertador, vamos para um emprego onde passamos horas a fim, saimos do emprego para regressar a casa e onde fica a emoção? Onde fica o prazer da descoberta? Fica para quando tivermos tempo?

Tu não vens e eu desespero... sinto o tempo a fugir-me pelos dedos... os minutos e segundos que podia estar a aproveitar para me perder nos teus olhos estou a olhar no horizonte como um marinheiro em alto mar em busca de terra firme...

Dizem que o tempo cura tudo, só não cura a dor de estar distante de ti... o sentimento de querer estar contigo e não poder... a sensação de desperdicio quando as nossas mãos não se tocam... a dor de não calar constantemente a minha boca com a tua...

Tu disseste uma vez "... o tempo é sempre o melhor conselheiro..." e eu acreditei e por isso esperei... esperei pelo teu olhar como espero o nascer do Sol... esperei pelo toque da tua pele como uma brisa veranil... esperei pela tua boca como se voasse numa nuvem...

O Tempo apenas não me avisou que tudo tem sempre um fim... pode ser bom ou mau mas ele aparece... só não me peças para perder mais Tempo porque ele para mim é precioso.

Tudo se aprende na Vida mas, não há duvida, que o Tempo ensina-nos sempre o melhor caminho a percorrer.

Carpe Diem.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Peixe Cru regado com um pouco de Freud

Sei que por vezes o nosso estado de espírito nos obriga a ficar fechados numa concha, tentando fugir ao nosso dia-a-dia e a todas as nossas responsabilidades. Que fazemos os possíveis e os impossíveis para que ninguém nos olhe de frente e nâo inicie uma daquelas conversas de treta que só os beneficia.
Outras vezes andamos tão exuberantes que só nos apetece gritar e dizer o quão bem andamos com o mundo, beijar pequenas crianças e apanhar flores silvestres. Dias em que a vida parece ser o qua mais importante podemos ter no mundo.

Conseguimos manter a balança naquele ponto certo em que nem estamos bem nem estamos mal a grande maioria das vezes. O nosso grande leque de opções fica mais fechado, mas conseguimos aguentar o dia sem nos apercebermos do quão mau ou bom foi.

Isto tudo para dizer o seguinte: Porque raio é que as nossas emoções parecem ser algo estranho e incontrolável quando vemos aquelas imagens na TV que nos fazem sofrer? Quando até tivémos sexo de manhã, em que o pequeno-almoço foi acompanhado de uma excelente conversa com a nossa cara-metade, em que o banho nos lavou o corpo e a alma?

Tudo está bem, tudo parece ir assim ficar, e de repente aparece o nosso primeiro-ministro com mais uma das suas resoluções para o país e nós começamos a chorar que nem meninas?

Não percebo...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Peixe Cru com pitadas de Altruísmo

O meu pai sempre me disse que eu era bom demais. Que um dia me lixaria por ser tão bonzinho. Mas, convenhamos, o meu pai acredita que todos o querem assaltar e que os computadores são uma coisa do demónio. Desta vez teve razão.
Estava eu atrasado para uma reunião que iria ter, onde se decidia o meu futuro na empresa, quando, parado num semáforo, vi um senhor de idade a empurrar uma carrinha que provavelmente já teria tido melhores dias. Obviamente, aproveitei o semáforo ainda estar vermelho, e saí a correr do carro para o ajudar. Com esforço e insultando alguns dos transeuntes que se riam da situação mas que não ajudavam, lá conseguimos empurrar a carrinha para bom porto. E bem a tempo, visto que regressava ao carro quando o semáforo passou a verde.

Senti-me bem pela acção, apesar de cansado. Suei e o corpo dava mostras disso, exalando um odor mais característico de fim de dia do que de manhã fresca.

Ao chegar ao escritório vi que ainda tinha tempo para me lavar um pouco. Pelo menos conseguiria eliminar parte do cheiro que ainda não tinha chegado à roupa. Certifiquei-me que não estava ninguém na casa de banho e lá me despi da cintura para cima e lavei os braços e os sovacos. E tudo estava a correr como previsto se não fosse o facto de eu me ter encostado ao lavatório enquanto me lavava. Uma mancha de água percorria-me a área genital, dando a tremenda impressão de que eu era incontinente.

Já não tinha tempo para deixar secar aquilo, portanto retirei as calças e coloquei-as o mais junto possível do secador para ver se ainda conseguia entrar na reunião a tempo sem o ar de miúdo de 6 anos que teve um azar.

Claro que quando eu estava de boxers com as calças na mão inclinado para o secador, era mesmo a altura ideal para me entrar o gerente pelo WC adentro. Que obviamente ficou a olhar para mim perplexo.

Era uma história grande demais para ser contada, por isso limitei-me a dizer:

- Mijei-me!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Exposição de Pintura

Amigos e blogo-viajantes que param aqui ocasionalmente e outros ainda que aqui vieram ter por acidente, tenho o prazer imenso de vos anunciar que a Me Hate... esperem!

Vocês ainda se lembram da Me Hate, não lembram? Eu espero bem que SIM! A Me Hate afastou-se das blogosferices mas volta em grande a 17 de Novembro para a sua primeira exposição de pintura.

Ó minha gente! Exposição mas a sério, na galeria, não é virtual!

Ah, agora já estão mais atentos, não é? E querem saber detalhes, não é? Pronto. Eu digo tudo, vou descoser-me. Mas é só porque é para vocês e porque a Me Hate até faz umas pinturas catitas e giras (e que eu queria uma para a minha casa mas já sei que já está reservada. Bolas!)

Pormenores, pormenores!!

Onde? Onde?
Centro Cultural Isaltino de Morais, Sala Elisário Carvalho, Alto da Loba, Paço de Arcos.
(Rua José Pedro Silva, nº14-B)

Então e quando, ein?
A exposição vai estar aberta ao público às 6ªs, sábados e domingos das 15h às 19h, entre 17 a 25 de Novembro. No dia 17 de Novembro, o dia da inauguração, vai estar aberta entre as 17h e as 24h.

Quem vai expor?
Ora aí está uma boa pergunta.
Podia ser só a Me Hate, mas realmente ela não vai expor sozinha. Mais 3 artistas vão ter as suas obras expostas na Sala e que são a Ana Oliveira e Costa* (pintura), a Lú Branco e a Lú Alves (ambas expõem fotografia).

*A Ana Oliveira e Costa dirige o Atelier de Artes Decorativas do Bugio, onde ensina várias técnicas de pintura em tudo que seja "pintável". Podem contactá-la para mais informações pelos nºs 214 412 177 ou 917 120 554

Deixo-vos com uma pequena amostra do regalo para os olhos que vai ser a exposição.

Ajudem a divulgar e apareçam!


1. Peças da Me Hate

2. Peças da Ana Oliveira e Costa




3. Fotografias de Lú Branco




4. Fotografias de Lú Alves




terça-feira, 13 de novembro de 2007

Em Fogo 7 - Impressões


As tuas mãos... se tivesse de olhar para ti e ver o rumo da tua Vida olharia para as tuas mãos. Foram elas que tocaram as paredes que percorreste, foram elas que sentiram a pele dos teus amantes, foram elas que segurararam aqueles que caiam e te pediram ajuda, foram elas que tocaram no ombro de quem chorava para reconfortar e são elas que se mexem quando exprimes o que sentes.
Quando descobriste que não ouvias como os outros sentis-te perdida, olhavas em redor e era como uma parede de silêncio que te rodeava, eras uma estranha no meio da multidão... o sufoco de querer comunicar e as palavras sem sairem da tua boca como a tua mente pretendia, o desejo de ouvir a voz dos teus pais, mas apenas sentindo o carinho de um toque e o olhar doce... tu sentias que o Mundo estava vedado ao teu conhecimento.
Tudo mudou quando descobriste que podias falar com as mãos, que podias comunicar com o corpo, que podias recorrer à linguagem labial... tudo isso te aproximou da Vida, deu-te um sentido como uma bussola. Soubeste usar as mãos para exprimir o que o teu coração dizia, conseguiste criar palavras no ar.
Alguns olhavam para ti com desprezo e outros com curiosidade, mas ninguém te ficava indiferente. Tu não falavas apenas com as mãos mas com todo o corpo, com o olhar, com a boca... consegues ser mais viva do que os "normais", que procuram viver deixando o tempo passar... tu vives tocando, sentido, olhando, absorvendo... não ouves mas sentes, dás valor aquilo que não tens e não dás por garantido uma coisa que todos dão.
Só quando perdemos o que temos ou o nosso Mundo é abalado severamente é que damos valor às coisas... tu sempre foste lutadora e acreditaste que existia solução para o teu caso e serias capaz de comunicar com e como os outros.
Certa vez olhaste pra mim e disseste que não precisavas de saber a entoação das palavras ou de ouvir a minha voz porque os sentimentos saem do coração e os sonhos estão no fundo dos nossos olhos... para quê perder tempo com a melodia das palavras se o olhar e um toque dizem tudo?
As palavras podem magoar mas o olhar e um toque são sempre sinceros... fico sempre fascinado quando falas porque as tuas mãos movimentam-se de forma suave como se criassem desenhos no céu... tu es a artista e eu sou a tua tela, onde vais compondo melodias surdas com os teus dedos na minha pele.
Olho para as tuas mãos com dedos longos, suaves, que me percorrem o corpo lentamente como se fossem descobrir um tesouro precioso... tu sentes cada parte do meu corpo como se fosse uma melodia de Chopin ou Wagner...
Ser diferente não é mais do que saber aproveitar aquilo que a Vida nos dá e com isso ser feliz, só ultrapassando as dificuldades sentimos que nos tornamos pessoas melhores e damos valor às pequenas coisas.
Carpe Diem.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Peixe Cru com um toque a revolta

Mas porque raio de razão é que eu tenho para me preocupar com os sentimentos e as responsabilidades dos outros? Se vives num país onde os próprios dirigentes se desresponsabilizam de tudo o que se passa no país, porque hei-de eu preocupar-me com isso?
Sinto-me revoltado por observar aquilo que os outros esperam de mim. Assumem que tenho de ser a mais correcta pessoa à face da terra. Assumem que eu hei de tapar todas as falhas que os outros deixam abertas. Em todos os aspectos da minha vida.
Por isso decido hoje não me preocupar mais. Precisam de mim? Procurem a melhor forma de me agradar. Existe um problema que só eu posso resolver? Quero uma garantia que algo será feito para meu proveito. Simples.
Durante toda a minha vida adulta vi a minha carreira e a minha profissão a ser pisada por todos. Porque eu os deixava passarem-me à frente, porque eu me baixava para ser usado como degrau. Agora levantei-me a uma altura onde só eu vejo o céu e só eu sei o chão que piso.
Isto tudo para te dizer Vicente, que me estou a cagar para o queres que faça por ti e pela tua organização. Não me vou sacrificar porque vocês precisam. Porque não me pagam o suficiente para eu me estar a moer por te dizer que não.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

"Fora de Controlo"

De salto alto encostado à parede,
veste um top de alças, mini-saia, meias de rede, que subindo até às coxas, terminam num cinto de ligas que ocasionalmente deixa revelar... Vi-a do fundo da sala, a marcar o ritmo com o estalar dos dedos, e pensei:
“Ela quer estar só.” Não me vou atrever...
Num movimento rápido, os nossos olhos cruzaram-se, não tive escolha, senão dançar com ela...
As luzes cheias de côr movem-se em todas as direcções, a batida controla-nos e faz-nos girar, o cheiro do corpos suados, as bocas que se tocam, braços no ar...
Os nossos corações batem juntos, os nossos corpos misturam-se, o suor arrefece, o sons confundem-se com pensamentos, estamos fora de controlo, escravos da música...
As ancas balançam, os pés não param, o cabelo solto agita-se no ar...
“Oh, meu Deus, é a minha música favorita...”
Puxo-a para mim e ela começa a cantar...
Não conseguimos abrandar, mesmo se tentássemos, enquanto a música tocar, somos só nós os dois no mundo, Ela gosta de dançar e tem sabor a lágrima...
Agarra-me e diz: “Não pares de dançar...”
Não temos onde ir, não temos nada a provar, em vez de dançar sozinho, estou a dançar contigo, esta música deixa-me fora de controlo...
Ou talvez sejas somente Tu...

Baseado numa tradução livre e horrível da letra da música “Out of Control” de She Wants Revenge, do álbum “She Wants Revenge”.
Pensei que iria ficar melhor, mas a falta de imaginação foi terrível...mas também poderia ter ficado pior, prometo que não o torno a fazer.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Imaginário XVI - Imaginário?

(Já publicado nesta entrada do meu blogue)

E no início é rocha. Bruta, potencial, maciça, disforme, oculta.

No ínicio é rocha, coesa, agregada, firme, imutável.

No início a rocha é imponente, com todos os seus minerais agregados, unos. A rocha é una. Bruta, coesa e una.

E depois vem o vento. E depois vem a chuva. E depois vem o sol. E depois vem o vento e a chuva e o vento e o sol e o sol e a chuva e o vento.

E a chuva descobre uma falha. E sempe que chove passa a ocupar esse espaço. E a rocha deixa de ser coesa. E deixa de ser una. E depois vem o sol e leva a água. E fica o espaço, desocupado de rocha, a cicatriz. A primeira. Depois da primeira a segunda... e num instante a rocha fica minada.

Já não é una: parece. Já não é sólida: parece. Já não é resistente: parece.

Um dia cada fenda, cada cicatriz começa a juntar-se a outras fendas fazendo cicatrizes cada vez maiores. Um dia as cicatrizes maiores são tão grandes que a rocha se desmembra. Vai-se perdendo de si.

Aos poucos vai-se fragmentando em pedaços que variam conforme a cicatriz.

A rocha vai rolando por si abaixo.

E a chuva e o sol e o vento não páram. E chegam todos os dias. E fazem mais cicatrizes. E fazem novas cicatrizes nos pedaços de rocha que se soltam.

A rocha é agora um conjunto de pedaços de si mesma. Cada pedaço que se solta torna-a mais vulnerável. Cada pedaço de si que se solta e rola, ajudado pela gravidade, ajudado pelo vento, pela chuva.

Um dia, se a rocha deixar, se as suas cicatrizes deixarem, ela aceita-se desmembrada e aceita-se fértil.

Um dia, depois de muita chuva, depois de muito sol, depois de muito vento, que a transformam, moldam, dividem, fragmentam, quebram... um dia, depois da dor passar, quando ela já anestesiada se vê amaciada, um dia... ela gerará vida.

E esquece os pedaços de si que vão rolando. Rolados pelas colinas, levados pelos rios, lançados nas praias... pedaços de si que estão longe. Cada vez menores, cada vez mais fragmentados, cada vez mais frágeis.

Cada pedaço que se parte e solta, anguloso e vivo, é um pedaço frágil que se julga novo e resistente. Cada pedaço não sabe que apesar de cheirar e ter cores novas está a caminhar rapidamente para o fim.

E cada pedaço estagna num areal. E permanece os seus dias rolando em cada espriaio, voltando a cada ressaca.

E cada pedaço nem percebe que está a mirrar.

Já não tem memória da rocha imponente, coesa e una que foi, há tempos. Agora vê-se disperso num areal que ainda não é o seu e que foge debaixo de si, cada vez mais fino, para o mar. Também esse areal foi, em tempos, uma rocha... Também esta rocha vai ser, um dia, um extenso areal...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Em Fogo 6 - Opostos


Num dia de Verão olhaste-me nos olhos e perguntaste o que via eu em ti... respondi ao teu olhar e disse que conseguia ver o que tu representavas, eras simplesmente a Mulher que me completava e da qual podia dizer que adoro o exterior e o interior.
Tu estranhavas a minha resposta e perguntavas o que via eu no teu interior... eu respondia, sem perder o teu olhar de vista, que o mais importante não está à distância de um toque ou ao alcance do olhar, mas deve-se à tua personalidade e forma de encarar a Vida que me fazia sentir leve e fora de mim.
Tu achavas estranho eu sentir-me fora de mim quando estava contigo já que sentias não ser uma pessoa especial... eu respondia-te que o ser especial está no coração de quem ama e que mesmo o mais vulgar se pode transformar num diamante.
Tu perguntavas o que mais gostava em ti... eu respondia que era o teu sorriso, só isso me deixava leve, como se pudesse abrir as asas e voar, tu tinhas esse efeito sobre mim como se de um feitiço se tratasse.
Tu agradecias por eu estar presente naquele momento especial... eu tentava dizer que não precisava de agradecimentos porque o meu coração era teu, mas aquilo que ficou na minha mente foi o toque dos meus dedos na palma da tua mão para te relaxar.
Tu perguntavas que é isso do Amor... eu respondia que o Amor é quando estamos com alguém e conseguimos ser nós próprios, sem que tenhamos de procurar cativar a qualquer preço ou ser aquilo que nunca seremos, apenas para agradar.
Tu perguntavas como era possivel eu amar-te sendo nós tão diferentes... eu respondia que isso é apenas uma ideia pré-concebida, os opostos nem sempre se atraem, mas nós dois tinhamos tudo para dar certo, principalmente nas nossas imperfeições.
Tu perguntavas o que eu sonhava... eu respondia que sonho contigo e no dia que conseguirei que tu olhes para mim e me vejas da mesma forma que eu te vejo e possamos assim voar os 2 nas asas do Sonho.
Tu dizias que eu era louco... eu respondia que a loucura torna a Vida mais aliciante e, se queremos que os nossos sonhos se realizem, devemos ser loucos e arriscar, porque enquanto não temos medo de dizer o que sentimos, somos capazes de amar.
Tu dizias que tinhas outros gostos... eu respondia que, apesar de tudo, te respeitava e esperava que um dia visses que o meu amor é válido quanto qualquer outro.
Tu perguntavas para onde vamos quando morremos... eu respondia que não sabia, mas que esperava que quando esse dia chegasse estaria a teu lado para te apoiar onde quer que fosses.
Tu dizias "Acorda" e eu abria os olhos do sonho de ter quem me ame.
Carpe Diem.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Peixe Cru com travo de sangue

No meio da guerra, o sangue já não me assustava. Os corpos empilhados no meio da rua também não. Passeava-me no meio deles como se fossem pequenos canteiros de flores.

Ia encontrar-me com um dos capitães. Precisava de um visto para um dos meus familiares distantes, daqueles que só se lembram de nós quando podemos ser úteis. E desta vez, eu era útil.

Não que seja bom rapaz, nem nada dessas tretas, apenas quero ver-me livre deste familiar em especial. Nunca o faria se não tivesse uma razão especial, algo que me levasse a mexer-me sem ser em proveito próprio.

O capitão estava de mau humor. Segundo parecia a sua companhia tinha sofrido graves baixas numa tentativa frustrada de ganhar terreno ao inimigo. E não quis saber de mim, nem do meu visto.

Ao chegar a casa do meu familiar distante, ia já convencido da atitude que iria tomar. Ele queixou-se que eu não fora convincente, que não fizera tudo ao meu alcance. Ouvi-o queixar-se enquanto observava a sua mulher. Que corpo fabuloso. Cada curva era convidativa ao mais baixo instinto sexual. Queria possui-la naquele momento.

Farto de tal conversa, peguei na arma e abati-o com um tiro na cabeça. Olhei-a nos olhos e beijámo-nos. Dirigi-a para o quarto enquanto lhe tirava a roupa. O corpo podia esperar.

domingo, 4 de novembro de 2007

Quem me leva os meus fantasmas

Autoria e contribuição de Xana, do blogue Andamos Nisto


Já não quero mais. Não quero mais. Já não quero aprender com as agruras da vida, tornar-me forte na tormenta, descobrir forças escondidas onde não sabias que havia. Não quero consolar, apaziguar, esconder as minhas lágrimas para secar as dos outros, dar força a quem não a tem.

Não quero mais.

Não quero mais sopa. Tragam-me a sobremesa.

Não quero mais servir de exemplo, portar-me bem, ter bons empregos, boas notas, boas avaliações. Não quero mais resistir às tempestades. Não quero mais tempestades. Tragam-me a sobremesa, o sol, pessoas vivas que não morram nunca.

Parem, quero ir ali fora respirar ar puro.

- Onde? Não existe lá fora.

Quero que exista. Tem que existir. Tem que haver um sítio sem fantasmas. Isto assim, já não quero mais. Não quero mais sopa, tragam-me a sobremesa. Quero respirar fundo, que nada me aconteça, que ninguém me falte. Não quero mais a dor, a ausência, a saudade.

- Não percebeste? Não há mais nada. Não há lá fora para apanhar ar. Não há "Parem". Não há segunda pessoa do plural. É isto. Os teus fantamas pertencem-te e não te largam. Se reclamam mais, tens que lhes dar, tens que os deixar engrossar as fileiras com os teus amores. Não há lá fora para apanhar ar.

Assim já não brinco.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Ontem passei por ti...



Na rua, vi-te de relance, por um instante...estavas linda como sempre e irradiavas uma estranha luz que era assustadora mas ao mesmo tempo reconfortante. Não consegui desviar os olhos de ti.Os nossos olhares nunca se cruzaram, as nossas vozes nunca se entrelaçaram e as nossas mãos nunca se tocaram, mas no entanto, sei o que sinto por ti, sei que te quero. Não tenho a coragem de me aproximar, nem sequer penso nessa hipótese. Prefiro assim, de longe, saber que te amo, que te desejo, imaginar falar contigo, tocar-te, cheirar-te, amar-te...

Não quero mais, tenho medo de mais...

Medo de que a nossa relação, até agora tão bela e pura, se transfigure e mude para sempre. Não, eu estou bem assim, amo-te na minha solidão e imagino que me amas também. Assim sei que te vejo todos os dias, sem falta, no meio da multidão anónima e apressada.

Desde sempre que me lembro de ti.

Sozinha, sempre te vi só. Talvez chegues a casa e prepares uma pequena refeição, antes de adormecer em frente à televisão, (des)atenta a um programa qualquer.
Imagino-te à noite, isolada no (des)conforto do teu apartamento, um gato ou um pequeno peixe dourado como companhia. E choras...

Choras porque estás longe de mim e eu de ti...

Mas ris, quando estás comigo e eu te abraço, agarro-te pela cintura e elevo-te no ar, rodopiando como miúdos na brincadeira, quando assistimos a um filme na televisão que nos faz sorrir, quando chego a casa e te conto as peripécias do meu dia...mas sou só eu a imaginar, porque...

Ontem passei por ti...


Blog Design by ThunderDrum. Based on a Blogger Template by Isnaini Dot Com and Gold Mining Companies. Powered by Blogger