sábado, 31 de maio de 2008

Imaginário a mais

Era uma vez

Naquele dia,

Quando abri a cortina

Sentei-me naquele banco de jardim e

Subitamente

Num esgar os seus olhos fixaram-se nos dele.

Foi assim que

...

Hoje não há sushi.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ice Ice Baby - Vanilla Ice

Sim, estava na moda na altura, sim eu ouvia...e gostava(?)... mas esta versão é melhorada:

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Vivência 33...


Acabei de ler ontem a Sonata de Kreutzer de Tolstoi, li outras obras dele sem nunca o compreender de facto, ao contrário desta vez - burrice certamente ou pura falta de visão - para o caso, porém, não interessa.
Na Sonata, Tolstoi fala do ciúme, contudo, o essencial não está no que ele diz mas, eventualmente a forma como escreve sobre o assunto e o que daí poderemos retirar. Trata o ciúme, como se fosse uma obra-prima, provavelmente porque ele próprio era de natureza doridamente sensual e, terrivelmente ciumenta.
Não obstante, depois de se ler a obra, optamos por ser Tolstoi (irão compreender se lerem) ou por sermos algo diferente e, por vermos que o ciúme, na sua essência não passa de uma forma mesquinha e desprezível de vaidade. Também eu, conheço bem esse sentimento. Conheci-o, senti-o e vivi-o de forma intensa. Quase me matou. Ainda assim, nada a lamentar, porque entretanto já paguei um elevado preço para vencer a vaidade.
Venceu-se o ciume, ganhou-se a racionalidade. Só somos, fundamentalmente ciumentos por duas razões: uma, porque deixamos o "verme" reproduzir-se e tomar conta de nós sem sentido, outra, porque quem está ao nosso lado, nos dá razão para acreditarmos que o ciúme é a coisa mais acertada a sentirmos apenas porque não nos dá nada de novo: nem amor, nem atenção, nem orgulho, nem companhia, nem... Enfim, dá-nos a pouca coisa que tem: a sua enorme vacuidade, o seu imenso nada! Ah, quase me esquecia, dá-nos também a noção ilusória, fantasiosa de que somos especiais em algo que nunca fica bem definido, expresso, dito...
Há uma forma de matarmos essa espécie de doença que se apodera em pouco tempo tempo de cérebro, coração, sangue e bílis e, que de certo modo, nos vai danificando alma e corpo, é uma espécie de fusão entre a demência e a loucura para a qual, creio, ainda não inventaram nome mas que denomino de Alzheimer-Psicótica.
Não damos por ela mas, aos poucos vai-se cedendo a todas as manias, mentiras, perseguições silenciosas, abusos calados que nos vão fazendo e no fim, impõem-nos uma forma de estar, uma vida inteira de contenção verbal e física. No fim, o "animal" quebra da pior forma: afasta-se da sua boa humanidade, nasce nele uma mágoa incontrolável e por fim, que nem leoa ferida, deita-se à sombra do embomdeiro e espera morrer.
Foi assim que um dia, bem antes de ler Tolstoi, entendi que o ciume naquela força humilhante, não faz "mossa" ao outro (o outro, recordem, é vazio, também de sentimentos) mas, em reverso da medalha, destrói-nos o sorriso que em tempos gostávamos de ver reflectidos no espelho e isso, é a forma mais triste de, também nós, nos tornarmos em nada.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

maGIcais ao sushi #15

Num lírio descansando
a formiga que labuta,
pensa: "Que vida filha da *uta"

segunda-feira, 26 de maio de 2008

BURACO NEGRO I


Imagem Google

"Existem astrónomos, que acreditam que os buracos negros são possíveis passagens para outros Universos ou então para pontos diferentes do nosso Universo e que através deles, é possível o nascimento de um novo Universo. Assim sendo, o Homem poderia viajar através do espaço e percorrer longas distâncias em pouco tempo".

Esta visão, não comprovada, dos cientistas, permite todas as interpretações...das mais prosaicas às mais ousadas e fantasiosas.
Convicções à parte, parece-me sempre que do outro lado do funil absorvente do buraco negro, se encontra um mundo paralelo a este em que vivemos e onde tudo se passará ao contrário, como se de um dicionário de antónimos se tratasse:

Onde se lê guerra lá seria paz...
Onde se lê ódio lá seria amor...
Onde se lê viagem lá seria pensamento..
.
Que bem se viverá nesse mundo às avessas...

Onde a nossa fome de pão será abundância de trigo
Onde a nossa sede de vingança será manancial de justiça
Onde os gestos de violência serão afagos de ternura
Onde os loucos serão realmente detentores da Verdade!

domingo, 25 de maio de 2008

Experiência 1


Um dia veio ter comigo uma mulher...
Amava tanto outra mulher que a matou.
Não a matou com uma faca, nem veneno mas, porque não lhe dava tréguas, queria-a toda para si queria subtrai-la do mundo. Tinham discutido longamente. Um dia a mulher, a outra, cansada, de tanto pedido, de tanta trégua, de tanta verdade, cansou-se e morreu.
A outra mulher sabia porquê. A mulher partira porque estava, pura, simplesmente... cansada de tanta discussão.
O amor também se pode transformar num enorme egoísmo. É preciso amar com humildade e ter fé. - (a primeira parte julgo já ter aprendido a segunda creio nunca vir a aprender).
Há algo em nós, e que eu chamo de "anima", que está desprovido de valores económicos mas, repleto de uma verdadeira fé. Fé essa que é a única que nos faz suportar uns aos outros e... claro, o mundo! Não sejamos cínicos é isso, ou dinheiro que nos faz continuar...
No entanto, voltando à historia principal do texto:
A falsidade na sua concepção mais atroz, decadente, menos ética e bíblica, traz às pessoa certos proveitos: Omitir a sua condição, ou mostrar-se de forma diferente para ganhar algumas vantagens ou para obter lucros, a ascensão social, ou até para desmoralizar outras pessoas entre outros, "correctamente", de tudo um pouco... porém, dizem (dizem!!!!) que quem ama sem humildade tornar-se-á um grande peso para o outro e, acima de tudo, para si!
Não será por acaso que as almas apaixonadas são orgulhosas... julgaremos, portanto, que também sofram muito!
Azar... o dos fracos!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vivências 32...


"Natália,

O Carlos morreu, sento-me à beira da sua cama, não há mais ninguém para o chorar, no rosto dele não existe mágoa, saudade, raiva, desejo, vingança ou clemência, nada, nada... Apenas uma suprema perfeição de indiferença pura.

O Carlos um dia veio ter comigo, antes de toda esta loucura, antes desta falta de sono, destas emboscadas, abafados neste calor que não suportamos e disse-me, que amava tanto a mulher que tinha medo de a perder.

Relatou que no passado que não lhe dera tréguas, que era egoísta, orgulhoso e pouco humilde, e que, acima de tudo, nunca lho dissera.

Há pouco confessou-me que a mulher não o deixou, apenas porque veio para o Ultramar, e que aqui nesta distância abissal, o mundo, a violência... a selva... o tinha tornado, inesperadamente mais humano, eventualmente... mais digno dela.

Entendeu, nos seus últimos momentos de oxigénio que aquela forma passada de ser era apenas uma forma medíocre de estar com os outros e que isso o fazia, o tornava, também, menor!!!!!!!

Portanto, a selva, horas antes de o matar, ensinou-o a amar... equilibradamente. Até ali a sua paixão desmesurada tornara-o no homem com quem poucos gostariam de " tomar um copo", e de quem poucas mulheres se aproximavam... Agora sabia, que o verdadeiro amor é infinito, é paciente e sabe esperar.

Natália, escrevo-te, de novo em tão pouco tempo, porque esta nossa distância me parece a cada dia mais insuportável... Queria saber tudo o que sinto e o que me faz falta de ti, do meu mundo, do nosso mundo...

Mas sabes, mais medo tenho dessa "espécie de vida" que o Carlos experiênciou e que nem consigo descrever...

Até já, espero,

António."




António voltou... mais ou menos bem do Ultramar... Levou depois Natália a visitar, de mochila às costas, todo o país, dizendo-lhe: "ÉS MUNDO!".

Uma ideia ainda hoje o atormenta de forma única, como ao seu camarada e amigo Carlos: Já nada deseja... Apenas a VERDADE!

domingo, 18 de maio de 2008

Vivências 31...


"Oh, vá lá... tosse!" - Pedia ela com delicadeza.
"Eh pá não mas que raio de disparate agora esse de tossir..." - Dizia ele já algo impaciente.
"Oh vá lá, não te custa nada... Gosto de ouvir a tua voz depois de tossires." - Ao dizê-lo ficou envergonhada e ele riu fazendo-lhe a vontade e tossindo umas duas ou três vezes.
"Bom agora está na hora, tenho de me levantar e ir trabalhar." E foi...
O Gargarito era um homem dito 'porreiro'. Uma espécie que, habitualmente, é vista pelos vizinhos e colegas de trabalho como uma boa pessoa.
Naquele dia, Gargarito não estava nem constipado, nem com febre. Mas tinha uma tosse seca que irritava, porque as securas que lhe assaltavam a garganta faziam com que, ao sair do prédio, os vizinhos assomassem à janela e dissessem:
"Oh Senhor Gargarito, está doente?"
Gargarito que detestava que lhe falassem pela janela dizia: "Não. Obrigado, Dona Alzira. Vou indo bem, isto não é nada."
Mal sabia a dona Alzira do olhar nauseado dos olhos através dos óculos de Gargarito, pensava para si: Estupor da mulher, não terá meias para coser?
E esta faceta de Mr. Hide só ele a conhecia. Uns passos mais à frente riu de novo lembrando-se do pedido da sua mulher e voltou a tossir de felicidade e depois falava para se ouvir um pouco, encolheu os ombros e pensou: "caramba, não oiço nada de especial!"
Parou à porta da leitaria da esquina, mas nesse dia não entrou. Estava farto de dar explicações sobre a sua tosse, e foi tomar, pela primeira vez, o pequeno-almoço à Suíça, para depois descer a pé até ao escritório na Praça da Figueira.
O Rossio estava cheio de pombos que mergulhavam o bico na água das duas fontes e Gargarito pensou com os seus botões: Se eu fosse Presidente da Câmara, mandava exterminar estes bichos. Que praga! Já me cagaram o carro todo.
Entrou no escritório e prepara o largo sorriso no elevador. Ao entrar encontra o Matos que lhe dá uma grande palmada nas costas, o que lhe provoca um grande ataque de tosse, desta feita, sem querer.
O parvo do Matos, que naquele dia tinha um particular e mais acentuado mau-hálito, bem perto da sua cara diz-lhe: Eh pá, desculpa! Não sabia que estavas assim tão desequilibrado!
Gargarito solta um esgar e espetando as unhas na palma da mão, diz: Oh meu amigo, não é nada, isto está quase a passar. Foi uma corrente de ar quando estava na casa-de-banho.
Precisas é de arranjar gaja - disse rindo alarvemente o Matos, provocando novo ataque de tosse em Gargarito, levando-o quase ao engasgão sufocante... Tal foi o "atrapalhamento traqueano" que nem houve hipótese de dizer aquela besta que mulher já a tinha há mais 8 anos.
Nisto entra no elevador a Ana e diz-lhe: "Oh António, que bela voz essa que te fica depois de uma tossidela!". O Gargarito sorriu abertamente e corou... lembrou-se de novo da mulher.
Nesse dia todo ele foi sorrisos. À noite quando regressava a casa já não se incomodou com as "cagadelas dos pombos" e antes de entrar porta dentro deu uma forte tossidela e disse: Olá querida!

sábado, 17 de maio de 2008

Imaginário XXVII

Morreu, provavelmente, do mesmo modo que viveu: sem que ninguém desse por isso. Ou assim se pensou durante algum tempo.

Quando os polícias entraram em casa depois de os bombeiros arrombarem a porta tiveram que sair tal o espetáculo que se lhes oferecia era horrendo. Era difícil conter os vómitos que a visão de tal cena provocava.

- A medicina legal -

No relatório da autópsia consta que já estava morta há muito tempo, tanto que não foi possível determinar.

Os melhores médicos legistas foram chamados para analisar um caso tão raro e interessante, já que todos os orgãos estavam mirrados, secos, o cérebro parecia um balão vazio, as veias quebravam-se ao mínimo toque e o coração, esse, estava literalmente petrificado.
Mas o mais curioso naquele cadáver concentrava-se na vesícula biliar e não se restringia a um pormenor.
Aquele saco, que nas pessoas normais tem a forma e dimensões semelhantes a uma pêra, tinha naquele cadáver o tamanho de uma bola enorme, produzindo o calculado em cerca de 20 vezes mais bile que uma pessoa "normal" e como se isto não fosse bizarro o suficiente, o seu pH revelava uma alcalinidade máxima, fixando-se nos limites quase hipotéticos do valor 14. Mas o mais extravagante, se os aspectos anteriores não fossem por si extravagantes o suficiente, era que o ducto cístico estava ligado directamente ao cérebro. Do cérebro não havia qualquer tipo de vestígio de irrigação arterial ou venosa, saindo sim um outro canal contendo vestígios de bile que se ligava numa rede estranha ao sistema circulatório, deduzindo-se que seria transportada e distribuída ao corpo a partir do que seria suposto ser o cérebro.

Apesar de em ocasião alguma se lhes ter deparado um caso daqueles, nem sequer nos legados dos antigos estudiosos, a medicina em conjunto com a bioquímica conseguiu determinar a causa da morte a partir de um detalhe que quase passaria despercebido: um corte na língua.
Análises porteriores puderam certificar que apesar de lhe correr nas veias tanto fel, esta criatura não tinha o seu sistema inunizado e num simples descuido uma mordidela na língua revelou-se fatal.

O que teria provocado tal corte? Para ter sobrevivido quase 50 anos saberia que o seu fel era letal para si mesma.

- A investigação forense -

A hipótese apontada pelos criminalistas não excluía o suicídio. Ela sabia muito bem o quão venenosa era, conforme resultados de análises encontrados numa gaveta advertiam. Não havia na casa impressões digitais de mais ninguém, o que sugeria que ela era a única pessoa com acesso à mesma. Da interrogação aos vizinhos confirmou-se o seu total isolamento social.

Todos os consumíveis eram adquiridos on-line conforme a equipa de especialistas informáticos confirmou.

Miss F (de fel) não tinha uma única fotografia em casa. Uma única carta. Não havia nada naquela casa que sugerisse que não estava só, nem mesmo os registos informáticos.

Não havia sinais de luta, nem de entrada forçada nem qualquer tipo de feridas defensivas e ninguém tinha ouvido gritos ou ruídos anormais.

- As conclusões -

A análise dos dados forenses e da medicina legal não foi conclusiva.
O suicídio não foi descartado dado o elevado isolamento da criatura e a morte acidental por uma igualmente acidental trincadela na língua também não foi posto de lado apesar de considerado pouco provável dada a elevada toxicidade do fel e a idade dela.

Miss F acabou num caixão de vidro, preservada de modo a poder ser exposta em qualquer sala de aula, museu, conferência ou palestra em segurança - não para ela, autopreservada no seu fel único mas para quem dela se aproximava, curioso, e se expunha aos elevados riscos químicos que dali emanavam.

Nunca antes se tinha visto e nunca se voltou a ver semelhante coisa.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Vivências 30...


Os "Caga-Tacos" são aquelas criaturas que quando abrem a bocarra ou sai m... ou entra mosca. Detentores de uma sabedoria extraterrestre estes abutres almiscarados dão força à velhinha máxima de que quem muito fala, pouco acerta.

Eles conhecem tudo, viram tudo, ouviram tudo, sabem tudo, são umas verdadeiras enciclopédias falantes. E o mais ABOMINÁVEL é que ninguém os cala. Pode vir o rei de Espanha e dizer "porque não te calhas oh coño!" ou o padre da paróquia tentar pôr-lhes um freio na língua que certamente não os vão fazer calar. E se alguma alminha se lembra de os contradizer aí cai o Carmo a Trindade e a Virgindade pois quem fala verdade são sempre eles.

Quando estou bem disposta gosto de os ouvir conversar. Eles falam, falam, falam e não dizem nada, mas eu no final parto a mioleira a rir com tanta bacorada junta. Os caga-tacos geralmente fazem as perguntas e dão as respostas. Dizem que uma pedra é um pau e ainda julgam que a ida do homem à lua não passou de um filme hollywoodesco. No entanto têm autênticas pérolas verbais para nos oferecer que por certo fariam corar qualquer comediante da nossa praça.
São pessoas que usualmente pequenas, metro e meio de altura já é uma loucura e devido a isso ou não, "quiça", são detentores também de uma certa dose maú-feitio, que se resume quase sempre à vingança. Essa vingança é também ela, normalmente, feita pela calada (da noite, do dia...) porque se formos a ver bem, não têm os ditos "tomates" (aplicável a homens e mulheres) no sítio para chegar ao pé da pessoa e dizer-lhe: "És isto, aquilo e mais aqueloutro e fizeste isto e mais umas botas.." preferem, por ser mais fácil, observar que nem coiotes quem é a vitima mais fraca (ou psicologicamente mais susceptível de perecer às suas mãos) e depois darem o golpe final na jugular no "animal" mais forte usando o tal outro para entrarem na festa.
A animal que deixa entrar o outro no seio é banido e deixa de ter "família"...
O "Caga-tacos" não ganha nada porque afinal, rei morto, rei posto... e o próximo sabe
reconhecê-lo...
A vingança nunca o é porque no fundo acabamos apenas para olhar o "Caga-tacos" com desprezo e pensar: "Paciência... melhores dias virão!!!!"

terça-feira, 13 de maio de 2008

Em Fogo 18 - De olhos bem abertos

Chovia... olhei para a rua e pensei porque teria combinado encontrar-me contigo numa esplanada num dia de chuva, estaria louco? É certo que apenas nos conheciamos há uns meses mas, cada vez que nos encontravamos era como se partilhassemos um tesouro.
Chovia... olhei para a janela na minha frente e, por momentos, reflecti sobre o que estava a sentir, estaria louco? Apesar de me sentir eu próprio quando estava contigo e poder fazer tudo aquilo que não esperam de mim, pensei que apenas nos conheciamos há uns meses.
Chovia... enquanto me vestia para ir ao teu encontro pensava, curioso... quando gostamos de alguém qualquer roupa fica bem, qualquer penteado representa o que somos e um sorriso aflora constantemente o rosto... apenas nos conheciamos há uns meses.
Chovia... quando conduzia ao teu encontro pensava o quanto é engraçada a Vida... num momento estamos sós e no seguinte encontramos uma pessoa que nos compreende, que ri do nosso humor, que partilha o mesmo silêncio... será isto tudo possivel quando apenas nos conhecemos há uns meses?
Chovia... quase a chegar à esplanada pensei, será isto que chamam Amor, a loucura de sentar numa esplanada à chuva com outra pessoa? Ou trata-se apenas de um engano deturpado pela solidão continuada? Apenas sabia que quando te via tudo parava, só ouço o som dos teus passos e o teu sorriso desfaz-me completamente mesmo que apenas te conheça há uns meses.
Chovia... escolhi a mesa e esperei... curioso como temos sempre de esperar por uma mulher, a diferença está sempre se vale ou não a pena fazê-lo... pensei que por ti valia apesar de apenas te conhecer há uns meses.
Chovia... tu finalmente chegaste e, para mim a chuva parou, olhei para ti de olhos bem abertos... reparei na forma como te aproximavas da mesa, reparei no teu cabelo encaracolado que te dava pelos ombros, notei os teus óculos de armação vermelha acabados de comprar e depois... depois esse sorriso... mesmo a chover como estava, tu sorrias e mesmo assim aproximavas-te da mesa, eramos os unicos na esplanada e ambos estavamos totalmente molhados, apenas tinhamos olhos para o outro.
Chovia? Sinceramente não notei, o teu sorriso deixou-me sem defesas e, simplesmente, deixei-me ir... Apenas nos conhecemos há meses? Não notei, parecia que estavas presente na minha Vida este tempo todo...
Sentaste-te na cadeira ao meu lado, a chuva caia, os nossos olhos não se separavam... não disseste nada e eu nada respondi... não me beijaste e eu também nada fiz... apenas ficamos assim sentados, a ouvir a chuva a cair ao nosso redor como se fosse a musica Karmacoma dos Massive ou uma balada de Bebo & Cigala... ficamos assim sentados por horas a partilhar o silencio de uma rua deserta devido à chuva.
Quando parou de chover levantámos-nos e demos o beijo mais profundo do tempo que nos conhecemos como se por causa dele o Sol quisesse espreitar e ver o que faziamos... dei-te a mão e tu seguiste a meu lado... quando chegamos ao carro disseste a única frase do nosso encontro, "sou tua", eu respondi "só te quero se tu me aceitares primeiro". Com isto abriste esses labios vermelhos num imenso sorriso que me bastou para entender a tua resposta, entramos no carro e seguimos o horizonte... tinha voltado a chover.
Carpe Diem.

domingo, 11 de maio de 2008

Vivências 29...



O trolha esse Troll misterioso...

Os trolhas, são conhecidos por lançar bocas foleiras as senhoras, que distraidamente passam a beira das inúmeras obras existentes por esse país fora. Mas o trolha é uma espécie que não pode ser caracterizada apenas por isso, pelo contrario, o trolha é um ser interessante e que deveria ser estudado pelos cientistas.

O trolha é um especialista nato na arte de esvaziar "mines", aliás, o trolha é o principal responsável pelo êxito da "mine" no mercado nacional. Enquanto o comum dos mortais bebe uma imperial, o trolha amarra meia dúzia de "mines". É esta enorme capacidade de se embebedar que lhe permite pensar que é um ser humano.

O trolha tem uma parede abdominal extremamente desenvolvida, o que para muitos será uma grande pança, na realidade trata-se de um deposito que lhe permite armazenar enormes quantidades de liquido no Inverno, daí que o possamos ver todo o ano sempre de manga à cava normalmente com pequenos buraquinhos. Para além disso o líquido serve para compensar as percas de agua que derivam da transpiração motivada pelas altas temperaturas a que estão sujeitos no verão.

O trolha , apesar da sua exuberante massa muscular, facilmente confundido com um atleta olímpico , é dotado de uma veia artística de altíssima qualidade. É frequente vê-los pendurados nos andaimes a declamar belos versos para as "damas" que passam. Podemos realçar de todos esses versos, o que recentemente foi imortalizado pelo anuncio publicitário :

" O QUE EU COMIA AGORA ERA UM ATUMZINHO COM TOMATE E MOLHO DE COUVE LOMBARDA ".

Outra das características que nos permite reconhecer facilmente um trolha na via publica é a sua inconfundível coloração de pele. Excepção feita aos africanos cuja pele é totalmente negra, o trolha caracteriza-se pelo bronze que ostenta com orgulho até a região do cotovelo, sendo o restante corpo branco. A t-shirt que vulgarmente utiliza permite-lhe obter este bronze a que se deu o nome do seu criador... " bronze de trolha ".
O cheiro também os torna facilmente reconhecíveis , sendo um misto de transpiração e feijoada com 15 dias de exposição ao sol.

Este cheiro tão peculiar, não passa de uma técnica, utilizada com o intuito de conseguir os melhores lugares nos transportes públicos , sem que ninguém os incomode.
Dificilmente verá um ser humano, sentado num banco de autocarro ao lado de um trolha, a menos que essa pessoa esteja com o nariz de tal forma congestionado que apenas consiga respirar pela boca.

Outra das características do trolha é as tatuagens nos braços, é vulgar ver a inscrição de " Guiné 68 " embora o mais perto que ele tenha estado da Guiné tenha sido a Cova da Moura.
Este ser que abunda na sociedade, poderá igualmente ser visto a passear na sua motorizada de marca FAMEL (que na sua tradução livre é: Foda-se que A Mota É Linda!).

Resumindo o trolha é, apesar de tudo aceitável no turbilhão de gente que por nós se cruza... o que não é aceitável é sonhar-se com trolhas, sobretudo quando estes, são amantes de "amigas nossas" e fazem barracas com galinheiros no meio do sonho.

Pequeno conselho, Oh Cátia Vánessa: da próxima vez que sonhares com um trolha e este seja um ex-namorado acompanhado por gaija que deveria ser neo-intelectual e naquele momento está a cuidar do galinheiro, põe-te a paú! Isso só pode dizer 1 coisa: o tipo pensa que sabe fazer casas mas no fundo não sabe e, a tipinha diz que lê muito mas afinal... não!!!!!!!

Talvez com um cházinho isso passe... Quiçá!!!!!!

sábado, 10 de maio de 2008

Imaginário XXVI

Nessa noite foi difícil dormir. Ali estava ele deitado na mesma cama da mulher com quem, muitos anos antes, uma vida antes, lá do alto da sua juventuda que sorria e preparava a vinda da vida, tinha acreditado que o futuro era brilhante e que com ela... bem... nesta altura já não sabia bem se alguma vez teria sonhado um futuro com ela. Tudo parecia vago.

Pensava nas voltas que a vida dá. Que a vida lhe deu. Uns dão a volta à vida, a outros dá a vida a volta. Que tipo seria ele? Do tipo de "uns" ou do tipo de "outros"? Não sabia. Há muitos anos que viver era um sossego, que es coisas eram estáveis. Que tinha trocado as armas de guerra por ferramentas.

Agora estava ali. Sem ferramentas e sem armas. Qual armadura? Qual arma? Ali, sem um único companheiro de batalha, sem um único colega de vida. Só, com aquela mulher que tendo conhecido tão bem lhe era agora totalmente desconhecida.

As voltas que a vida dá. Ou que a vida lhe deu.

Ali estava ele, deitado de barriga para cima, a olhar para o tecto amarelo do fumo do tabaco. acende mais um cigarro, vê o fumo desfazer-se no ar. E pensa que mais vale não pensar.

Tinha casado com ela há mais de trinta anos, teriam sido alguma vez felizes? Teria sido isso que ele realmente queria fazer? Já nem se lembra. Não há nada que reconheça nela. Nem sequer o sabor amargo do abandono. Nem a alegria dos filhos. Nada.
O reencontro aconteceu casualmente, quando ao sair do trabalho se cruzaram. Do como estás de circunstância dele ao desbobinar da vida dela, vão beber um café.

- Estou a alugar um quarto, diz ela, as despesas são muitas agora que estou sozinha.
- Preciso de alugar um quarto, diz ele - sem acrescentar mais nada - com aquele olhar sombrio e distante que o caracterizava.

Ela pensou que ele não tinha mudado. Ele nunca falava. Ela reconhecia nele o mesmo rapaz por quem, aos 12 anos, se tinha apaixonado.

Ele pensou que ela não se calava, que não queria saber de nada, que eram desconhecidos, que a desconheceu mais tempo da vida do que o tempo que a conheceu.

Depois de tudo acertado ele mudou-se. Deixou um bilhete em casa do filho e da nora a dizer que se tinha mudado para não se preocuparem.

- Sabes a quem aluguei um quarto?, disse ela no domingo seguinte com aquele ar eléctrico que lhe era característico
- A quem?, responde ele sem grande interesse, pouco lhe interessava o que a mãe fazia desde que não sobrasse para ele.
- Ao teu pai.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Vivências 28...



Os brasileiro têm palavras para descrever situações e pessoas que são simplesmente deliciosas… Haverá outras que, como tudo, nos deixam sem palavras de tão arcaicas e descabidas que são.

Por cá Sogra é sogra, por lá é: Jararaca, cascável, bruxa, encrenqueira, bruáca, urubu...

Em geral, esses são os "adjectivos" dedicados às sogras de todo o mundo. Elas têm fama de inconvenientes, chatas e in-su-por-tá-veis. Ao longo do tempo, o rótulo de "cobras" foi designado a essas figuras que sofrem com piadas e arrogâncias do tipo: "Feliz foi Adão que não teve sogra." No entanto, o que ninguém sabe é que, ao contrário das piadinhas e implicâncias com as sogras, há muitos genros e noras que gostam delas.

Nos namoriscos que fui tendo e que não passaram de projectos bem acalentados, no casamento que se foi dissolvendo e nas relações mais ou menos sérias que tive fui conhecendo um número considerável de sogras e claro, sogros!

Na verdade e ao contrário daquilo que é vigente na nossa sociedade, não me posso queixar grandemente da maioria das “cartas” que me calharam… mais valia, possivelmente, queixar-me da falta de “trunfos” que fui tendo no que diz respeito aos “futuros disto e daquilo”. Ainda assim, como queixar-me não faz parte do meu feitio nem adianta grande coisa na minha felicidade não é disso que vos falo hoje.

Venho hoje em jeito de relato “futebolístico” contar-vos o que ocorreu certo dia com uma ex-sogra minha: Eu e a dita, sempre fomos amigas, uma dizia “mata” e a outra ainda que não dissesse “esfola” lá ia rindo e dizendo: “Eh dá-lhe lá mais um pontapézinho!”

Tínhamos portanto, grande cumplicidade, degustámos grandes sardinhadas e muita quantidade de bons vinhos, um dia desses de Inverno, não sabemos bem porque raio, o “amor” esgotou-se (um pouco como tudo na vida) e deixámos de fazer estas pequenas coisas que tanto prazer nos davam.

Ora bem, os dias, os meses os anos foram passando e, no dia do trabalhador, em que ninguém trabalha telefona-me “meia-esbafurida” e diz-me:
-“Ah e tal está um bom dia, o marido não está cá, os filhos têm a vida deles…”
Antevendo o que me queria dizer mas faltava coragem, antecipei dizendo:
-“Estava a pensar mesmo nisso, vamos lá a uma sardinhada!”

Gentilmente (quase que “gentleman-mente”) ofereci-me para a ir buscar no meu carro, sei que tem o dela (um belo MG “bólide do caraças”) encostado numa garagem que lhe dá uma data de dores de cabeça para o tirar de lá pois sempre que o faz, o maldito do carro que tem paixão assolapada pela parede, lá vai e dá-lhe um "beijinho"…

Chegada a sua casa dei um toque para o telemóvel e desceu… passada meia-hora com o subtil sorriso entra-me carro adentro e pergunta:
-“Não demorei pois não?!”
Subtilmente e também de sorriso nos lábios digo-lhe:
-“Não! Foi só o tempo de retocar a maquilhagem, tomar café, cumprimentar um amigo que mora aqui perto e ver a pressão dos pneus.”
Não desarmou, e no seu ar de “gueixa” impecável diz-me:
-“Ora ainda bem! Vamos lá então!”

Antes de chegarmos ao “botequim” ali para os lados de Alfama ainda se queixou umas quantas vezes no mau estado do piso e da velocidade a que ia: a loucura dos 40 Km/h que muito lhe fustigava o cabelo.

A meio do caminho, chegadas a um cruzamento, atravessa-se um carro “atabalhoadamente” conduzido por alguém que num primeiro momento me ia batendo (vindo ainda por cima da minha esquerda). Ora quando já estava pronta para dizer um extenso repertório de asneiradas verifico com espanto e desagrado quase que “excressencial” que… Precisamente à minha frente, ia um ex-namorado meu, com a sua mãe e a sua ex-presente-futura namorada. A minha ex-sogra (desta feita, a que ia no meu carro) “topou o caso a milhas” e disse-me:
-“Ui é aquele tipinho horroroso com quem tiveste assim uma coisa depois do meu filho não é?”
Não querendo dar mais valor a algo que de facto não o tinha disse:
-“Então e não é que é mesmo?!”
-“Ai querida também te deixou por uma grande bruáca… Aquilo que os brasileiros chamam às sogras, sabes?”

Ri-me, disse-lhe que sim que sabia e pensei: Ora, ora, agora as namoradas passaram a ser também… Jararacas!!!!! Sim senhor!!!!!!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

maGIcais ao sushi #14

Há estradas
sem ida, sem volta
onde, no entanto, desaparecemos.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Em Fogo 17 - Passos


Segui os teus passos... ias mais à frente e eu não reparava em mais nada, apenas na forma como os teus passos deslizavam no passeio, o modo como os teus sapatos faziam uma espécie de bailado naqueles pequenos quadrados de calçada.
Tu nunca olhavas para trás, mas eu seguia-te com o olhar... primeiro ouvia os teus passos e eram eles que me guiavam a ti como uma melodia, depois subi o olhar para as tuas costas direitas e firmes como se demonstrasses que eras dona de ti própria e não precisavas de mais ninguém, acabando por olhar o teu cabelo longo que me deu logo vontade de tocar com a ponta dos meus dedos e sentir a sua suavidade.
Ias apressada, contudo para mim, os teus passos pareciam descrever um momento de dança num dia de chuva ou um passe de magia no meio de um sonho... segui-te, não para saber onde ias, mas para te perguntar se sabias onde os teus passos te levavam.
Quando o sinal ficou vermelho, para ti, consegui alcançar-te e, pela primeira vez, vi-te de frente... reparei nos teus olhos de um intenso castanho perscutadores à procura do que não encontram, a tua boca com lábios carnudos que me deram vontade de ta calar com a minha, o teu rosto doce e suave... olhei para ti mas não me viste, estavas com pressa... não tive coragem de te abordar e, quando o sinal ficou de novo verde, avançaste e eu atrás de ti como sempre.
Repara, não te perseguia, não queria saber onde ias, queria apenas saber se eras feita de sonho e se sabias onde os teus passos te levavam... quando alcançaste o fim da rua sentiste-te perdida e quando perguntaste qual o caminho que devias tomar, fizeste a pergunta a quem estava mais próximo de ti, eu... não ouvi o que perguntaste e apenas te respondi que melhor do que te dizer onde ficava o teu destino seria guiar-te até lá, tu sorriste e disses-te que sim.
Fomos os dois, caminhando lado a lado, sem trocar uma palavra já que os nossos passos dialogavam uns com os outros... os teus suaves e confiantes e os meus pesados e hesitantes, percorrendo o caminho até ao teu destino.
Quando lá chegamos agradeceste-me e perguntaste se podias fazer alguma coisa por mim, eu disse que sim... podias responder-me a duas perguntas. Disseste que bastava que perguntasses e eu assim o fiz:
- És feita de sonhos?
Tu respondeste:
- Sou fruto de um sonho de amor e espero um dia ser o sonho de alguém que me ame e me saiba dar valor.
Perguntei de novo:
- Sabes onde te levam os teus passos?
Tu respondeste:
- Espero que me levem à minha felicidade.
Olhei para ti e, por momentos, perdi-me no teu olhar e tu no meu... parecia que conseguiamos ver o interior do outro e, assim ficamos, até largos minutos se passarem... depois, impulsivamente, roubei-te um beijo nessa boca que me parecia intensa, tu correspondeste... olhámos de novo um para o outro e sem mais palavras seguimos destinos opostos.
Ainda consegui ouvir os teus passos suaves e confiantes enquanto, ao mesmo tempo, pensava porque seria que hoje em dia existe tanta dificuldade em arriscar na Vida e em ser espontâneo. Medo? Ideias pré-concebidas do que "parece bem"? Receio de uma negativa? Só vivendo se experimenta e se sente mesmo que com isso se sofra...
Carpe Diem.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Estranged - Gn'R

Esta música fez (faz) parte da minha adolescência, naquela idade das "crises existênciais...
Triste, mas forte, talvez a melhor música dos Gn'R.
Uma das bandas mais geniais de todos os tempos, que se perdeu por causa de um ego enorme...

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Vivências 27...


Hoje, com imensa paciência, findaram-se os últimos preparativos...
Colocámos titulos, preços e deram-se os últimos retoques:" Mais direita, mais para esquerda, PORRA assim não!!!"...
Vai haver bom vinho, comida "à la carte" e uns amigos especiais...
Abrimos uma nova exposição no Restaurante "Merca Tudo" na rua com o mesmo nome... sítio simpático, com uma dona que é um amor de pessoa... pertinho de Santos onde os putos do IADE perdem as noites a beber e a dizer "baboseiras" às moças nas janelas entreabertas dos casebres que por ali se vão plantando...
Mais uma que dá apenas um ou outro prazer mundano: o de estarmos com pessoas importantes, em sítios banais mas que têm o cheiro e o sabor das gentes de Lisboa!
Enjoy!


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