quarta-feira, 29 de abril de 2009

Experiência 40


A palavra tolerância, provém da palavra Tolerare que significa etimologicamente sofrer ou suportar pacientemente. O conceito tolerância radica numa aceitação assimétrica de poder:

a) Tolera-se aquilo que se apresenta como distinto da maneira de agir, pensar e sentir de quem tolera;

b) Quem tolera está, em princípio numa posição de superioridade em relação aquele que é tolerado. Neste sentido pode ou não tolerar.

A tolerância pressupõe sempre um padrão de referência, as margens de tolerância e aquilo que se assume como intolerável.

A tolerância pode surgir como a simples aceitação das diferenças entre aquele que tolera e o tolerado, ou como a disponibilidade do primeiro para integrar ou assimilar o segundo.

Num certo Núcleo de um certo clube numa aldeia perto de si... Temos a personificação dessa tal dita tolerância no gerente do referido núcleo... Em 2 horas apenas:

Atendeu 36 pedidos,
Aturou, literalmente, um rapazito que às 13:00 já conhecia toda a Bagdad que é como quem diz, estava podre de "bezano",
Foi levar a neta à explicação e voltou,
"Deixou" que entrassem no núcleo 2 tipos duvidosos: um meio avermelhado e o outro meio azulado... não sei se o primeiro não teria também bebido demais e o segundo levado porrada mas, entraram e foram prontamente servidos,
Teve de acalmar os ânimos de um casal de namorados que se chateou entretanto,
Acordou por 4 vezes um dos clientes porque "ajeitava" o sono no ombro vizinho,
Acabou por de pedir metade da conta que esperava pagar...

Obrigada Oh Ramalho, são pessoas como o senhor que vão escasseando... e isso deixa-me triste mas, far-me-á voltar... pode ser já amanhã??????

terça-feira, 28 de abril de 2009

Imaginário XXXIX - 2ª parte

[Continuação daqui]

... já tão longínquas que nem memórias eram. Já não eram nada.

Mesmo que ela pudesse compreender o que se estava a passar dificilmente o deslumbramento a permitiria converter os flashes em palavras compreensíveis.

Do seu lado de fora os médicos lutavam para a estabilizar e reconheciam nos seus murmúrios moribundos e tentativas de gestos que o tempo dela passava mais depressa que o tempo deles, sabiam por experiência que em segundos não poderiam fazer nada.

Ela, por seu turno, fazia a viagem mais surpreendente da sua vida.

Ela não tinha a percepção que esta sua viagem por si mesma ao longo dos seus 48 anos de existência, onde ela se demorava em alguns episódios e podia até atrasar o tempo, duravam apenas uma fracção de segundo para os médicos.

Do exterior do quarto a filha fitava a máquina que fazia a mãe queixar-se, a máquina dos bip's, e via com os seus olhos o ritmo cardíaco da mãe decair a um ritmo irrecuperável.

Ela, no entanto, perdia-se nos pormenores da mais louca viagem da sua vida. A primeira coisa que queria fazer quando regressasse era contar a todos que a viagem não se faz no sentido ascendente mas no sentido descendente. A viajem é feita do fim para o início. E também que é possível interagir connosco. Enquanto decorria a viagem parecia ter capacidades inimaginadas, conseguia pensa, anotar mentalmente, conseguia reviver, conseguia tocar, falar, não havia limites.

Viajou daquele quarto de hospital cheio de bip's até ao acidente, por aí fora para trás e naquela altura todos os pequenos nadas de que foi feita a sua vida tiveram uma imensa importância. O mais simples gesto de ajeitar o cabelo e a gola da camisa todas as manhãs enquanto o elevador descia eram agora tão importantes como o nascimento da sua filha, como o seu casamento, como a morte dos seus pais e irmão. Tudo era importante. Agora via - sentia - que tudo era importante, mesmo o que parecia desprovido de qualquer sentido.

Viajou da sua idade adulta pela sua vida inteira até ao seu nascimento. No momento em que presenciava - via, sentia, ouvia, cheirava, pressentia, participava - o seu próprio nascimento sentiu uma força.

Os médicos já nada podiam fazer. Os sinais vitais atingiam os valores mínimos e sabiam que a vida se esvaía dela. Nada mais podiam fazer senão esperar o óbito.

Na sua derradeira viagem ela entrava na recta final, no último troço do último percurso da sua vida.
Assim que ela se refugiou naquele ventre que lhe oferecia protecção o seu óbito foi declarado.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Experiência 39


Temos andado em... "maré de sorte"...

De todas as filhas das divindades marinhas de Fórcis e de Ceto... já "nenhuma assusta"...

Poseídon, tem tratado da coisa... até (espero) de pequenas férias (agradáveis esperam-se)... ou então não!

Assim sendo nem de Égide (escudo) necessito... Apenas de S&S!

Portanto a vós, amigos que me sabeis amigo de um copo mas (neste momento não mais do que isso) dai-mo, de uma vez por todas:
- sem entraves ou meias-palavras,
- cerca da berma,
- no interior da taça, que se desenhem cachos de uvas, não deixando dúvidas que naquela taça se servia apenas vinho,
- e depois, bom depois, há que nunca chegar ao fim do copo,
-seguir viagem e saber que ali, já não bebemos mais!

Bons... Cachos!

sábado, 18 de abril de 2009

Imaginário XXXIX - 1ª parte

Não queria que o último som nos seus ouvidos fosse aquele bip irregular que lhe ia lembrando constantemente que em breve estaria morta. Não, queria tanto que aquele bip fosse musical, um som alegre, um chilrear, qualquer coisa em vez daquele som tão desprovido de vida que foi escolhido para traduzir precisamente os seus sinais vitais.
Agora, ali deitada naquela cama impessoal onde nem imaginava quantas pessoas teriam pensado o mesmo que ela, concluía que era perfeitamente aniquilador de qualquer esperança ouvir permanentemente um "Bip, bip, bip" que lhe dizia que cada vez estava mais perto da chegada a um ponto qualquer. Ou de saída de um outro ponto, em breve descobriria.

Já tinha lido sobre "near death experiences" e perguntava-se quando começaria a ver a tal luz brilhante e a ver a vida passar à frente como um filme em "fast-foward". Como seria rever tudo de uma só vez? Iria lembrar-se de alguma coisa que achava esquecida? O que seria essa coisa?
Pensou que não devia estar a bater bem: era suposto estar assustada ou curiosa? Se não fosse aquele maldito bip... Se não fosse estar com tubos por todo o lado e não conseguir dizer a ninguém diria que não há pior que partir de vez a ouvir aquilo. A curiosidade, essa, ficava cada vez maior e o medo cada vez mais para trás.

Começou a sentir-se mais calma. Lembrou-se de quando soube que estava gravemente doente e não sentiu raiva nem tristeza. Sentiu-se como que a ver um filme, faltam as pipocas, pensou.

Ouviu uma voz conhecida e tentou abrir os olhos mas não conseguiu. Sabia que era a sua filha que perguntava nesse momento ao médico o que se passava. Ela respondia à filha que estava tudo bem. O médico respondeu para ela se afastar, que tinha que sair dali.

Tolo do médico, não me ouve? Deixa estar aqui a minha filha. Saberei lá eu se a volto a ver? Sentiu-se a rir calma e docemente, um misto de riso e sorriso e queria tanto conseguir dizer apenas que estava tão bem.

Mas aqueles horríveis bip's, aquelas vozes desconhecidas que não a deixavam ouvir a filha e aqueles malditos tubos que só serviam para a impedir de comunicar com o que ainda era o seu mundo - Será que havia outro? Como será se houver? - e dizer pelo menos para viverem o melhor que puderem que a vida é tão curta para mágoas. Queria dizer que estava bem, talvez não o bem que queriam que estivesse, mas que estava melhor do que tinha estado: leve e sem dores. Queria dizer também que podiam substituir aquele bip que agora já não era enervante e parecia mais um som lá muito longe.
Sorriu ao "ouvir" todos quantos conhecia dizerem em coro que tinha mesmo mau-feitio. Sorriu fracções de segundo depois, num sorriso-réplica, por ver todos ali reunidos de novo.

As vozes dos médicos, o bip, o choro da filha eram agora memórias longínquas...


[Continua]

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Esta tem dedicatória...

Mami, esta é para ti!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Vivência 76...


Há muito que aprendi a "combater-me": não voltar a certos sítios, não ouvir algumas músicas, evitar muitos cheiros...

Hoje, possivelmente por força das circunstâncias, vi com alegria certas fotos, olhei com alguma nostalgia uma parede, cheirei inevitavelmente uns incensos oferecidos num Natal...

E a alegria que aqui não habitava, faz tempo...
As paredes que nunca foram heregidas...
E os cheiros que nunca fizeram grande sentido...
Possivelmente...

Caíram: numa só lágrima!

E depois... Acordei!


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