quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vivência 78...

Varekai (na língua cigana: qualquer lugar)... e que grande verdade!

Entrámos no Sushi-bar a grande velocidade: estamos como crianças sedentas por todas as iguarias adiadas.

Findado o primeiro prato, eis que surge a conversa:

- Não interessa a idade que se tenha haverá sempre nesta vida coisas que vão escapar ao entendimento mesmo que as compreenda.

Acenei afirmativamente com a cabeça.

- Se não queria uma coisa séria para quê a mentira para que dizer que sim para quê o teatro... a fantochada!

Olhei, fixei os seus olhos vidrados e perplexos. Percebi que se senti-a verdadeiramente traído no meio daquele circo. Podia ter sido com qualquer pessoa, em qualquer lado mas... não foi naquele ser que de repente me pareceu minúsculo no seu metro e setenta e cinco. deixei que continuasse...

- Terei cara de palhaço? Serei entretenimento?

Aí esgotou-se a paciência, não estava à minha frente um deficiente ou doente mental, estava ali, um tipo inteligente, sentimental, e sim: um pouco crente demais para idade que tem e, para o meu gosto. Disse-lhe apenas:

- Podemos jantar e esquecer quem não tem interesse?

Olhou-me espantado e apenas referiu entre dentes:

- Tens razão! Há sempre na vida um momento em que somos malabaristas, outros em que somos trapezistas sem arame e outros em que somos o apresentador.

Passou um breve momento de silêncio.

E depois rimos o resto da noite falando de nós. Do que tínhamos feito durante todo o tempo que não nos tínhamos visto e de algumas pessoas... As que de facto, juntamente connosco, importavam de facto!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vivência 77...


Era uma vez uma cadeira, não, uma "chaise longue", esperem... um cadeirão.

Era coisa que pertencia à família há uma montanha de anos... tinha passado de geração em geração e, por vezes, nem sempre pelos melhores motivos.

Era agradável de se ter e a manutenção era fácil... mudava-se de tempos em tempos as palhinhas, lixava-se por vezes a madeira e coloca-se de novo verniz. Era uma beleza: ficava nova... de novo!

Como era coisa de família e com tradição, só lá se sentavam os "escolhidos"... ao fim do dia, normalmente, a dona da casa lia mais umas páginas do seu livro, bebericava um único copo de vinho e descansava as costas que por vezes lhe doiam sem saber muito bem porque seria.

Ai de quem tivesse a ousadia de sentar sem ser, préviamente convidado... era bronca pela certa... E houve muitas! Chegou até a ser alvo de discussão entre irmãos, namorados e outras pessoas da família...


Depois como não duramos para sempre, os filhos foram esquecendo a tradição e o significado daquele cadeirão... Foi vendido em hasta pública, colocado num sitio comercial e hoje, qualquer "bicho careto" lá se senta!


A tradição? A tradição já não é o que era!

sábado, 2 de maio de 2009

Imaginário XL

Memórias de uma semana de cão*

(Dog speaking here*)

Dia 1 (5ª feira 9 de Abril): Ói??, a minha dona a passear-me a esta hora da manhã? Isto não é normal! Que fixe!
Hmmm, nunca tinha reparado no cheirinho que estas flores emanam logo pela manhã, que boa ideia dona, que fixe, que fixe, és a melhor dona do mundo!

Dona? Então vamos para casa outra vez? Ah, percebi, vais beber cafezinho. Hmm, está bem, vamos lá, mas olha que estou ansioso de ir para casa da avó que eu e o Ramika ontem ficámos a meio de um jogo muito giro!

Dona...? Dona?? DONA!!! Olha D. dona, vou ficar aqui a gritar até me ouvires, ouviste? Esta brincadeira não é gira, nada gira, nada nada!
Ou então.. será que não é brincadeira? Dona...! Esqueceste-te de mim? Dooooooooooonaaaaaaaaaaaaaaa!!!

Hmmmm, porque é que ela... hei! Hei!! Anda cá! Destranca a porta! Consegues ouvir-me? Anda cá, onde é que te enfiaste? Vou ficar aqui a chamar por ti até me ouvires!


(Depois de almoço...)
Dona.. onde é que vais agora? Não me digas que vais outra vez sair. E eu? Não tenho direito? Ai é? Vou entrar aqui nesta dispensa e procurar uma ferramenta para conseguir abrir a porta. Eu sei onde o dono guarda as coisas, eu vejo.. Ah pois é, vocês pensam que eu estou a dormir sossegadinho mas eu vejo tudo!

Ei... EI! SOCORRO! A porta fechou-se, tirem-me daqui, tirem-me daqui, tenho medo do escuro, socorro!

»Mete-se o fim-de-semana da Páscoa»

Dia 2 (Domingo de Páscoa): Olha... onde será que vamos? Neste carrito? Eles vão todos aperaltados, deve ser coisa importante deve.
Ai dona, esse perfume cheira muito, prefiro quando não pões nada, cheiras melhor, a sério. Mas eu gosto de ti na mesma. És uma dona muito linda, até me fizeste um corte de cabelo giríssimo e depois deste-me um banho que eu detesto mas eu sei que é para meu bem, eu sei, mas detesto! Detesto, detesto, detesto!

Ó donos.. onde é que vocês vão? Quem é este que eu não gosto nada porque nunca me faz festinhas? Que ... que sítio é este? Ei!! Ei, estão a ouvir? Não me deixem aqui fechado. Vá lá... levem-me com vocês...
Ai é? Não me ligam? Não me ouvem? Vou puxar por estas coisas aqui de lado, vocês põe sempre isto e qundo saem do carro tiram, por isso se eu tirar devo sair daqui, não é?

Bolas, estou farto de roer isto e o carro não se abre.

Ei, alguém me ouve? Socorro! Quero ir ter com os meus donos! Quero ir fazer xixi! Ei!!

Ninguém me ouve, é melhor roer mais, pode ser que consiga sair mais depressa.

Olha..., olha são eles! Boa, já não preciso roer mais, já posso estar aqui sossegadinho que eles estão a chegar.

Donos!! YES! Que fixe, chegaram, vocês ouviram-me! Não precisei roer aquilo tudo até ao fim!
Errrr... mas.. mas... porque é que estão a ralhar comigo? Eu pensava que se saía daqui se tirássemos isso.

Dia 3 (2ª feira 13 de Abril): Não sei porquê mas hoje já não tenho a casa toda para mim.
Mas como raio vou eu entreter-me? A piada estava em estar à porta de casa a gritar para a minha namorada me ouvir. Agora como é que ela me vai ouvir? Vou ter que gritar ainda mais alto. Estes meus donos não percebem nada.

Espera lá, porque é que ela virou a toalha para cima da mesa. Ah... estou a ver, deixa-me aqui a falar para o boneco, vai embora e ainda me esconde alguma coisa boa.
Isso é que era, não me chamassse eu Pootchie Nunes.Vou já ver o que é que está ali em cima da mesa.
Ups... ai ai ai... ela vai aborrecer-se. O cinzeiro. A caixa do pão. Opá... vai achar que sou um trapalhão. Quando ela chegar a 1ª coisa que vou dizer é que foi sem querer!

Olha, veio a casa comer. Acho que não está muito aborrecida, felizmente! É que foi mesmo sem querer. Ela é tão compreensiva... Boa! De tarde vou ajudá-la. Vou ver se consigo tratar de outras coisas cá em casa, como ... o lixo!

Dia 4: Esta dona... um cão a ajudar como pode e ela dificulta tudo. Tentei dizer para não perder tempo com o lixo que eu levava mas ela prefere assim, tudo bem. Vou ver o que posso fazer com estas caixas de cartão.

Dia 5: Hoje estou cansadito. Desculpa lá dona mas não te consigo ajudar em nada! Vou ficar aqui a descansar que chamar tanto por ti cansa, parece que não mas cansa. Já estou rouco!

Dia 6: Hoje também estou cansadito. Porque é que ela fecha a porta da cozinha? Deve achar que é muito engraçado ficar aqui fechado, deve. Aqui não tenho nada para fazer!
Vou ali fora. Caraças, como raio é que isto se abre? Eles põem a mão, puxam e.. já está ! Oh yeah! Afinal abrir portas é fácil, como é que não tentei isto antes? Que delícia, vou ali para ao pé da porta dizer a todos que estou crescido e já sei abrir portas!

Dia 7: Olha, ela fechou a porta outra vez, deve ter-se esquecido que já aprendi a abrir.Ou então é um jogo! Que giro, é isso, é um jogo!
Este jogo tem regras diferentes. Assim não vale, dona! Fizeste batota, trancáste a porta, assim não vale, esta brincadeira já não é gira!
Doooooooooooooonaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! (Ai que já estou a ficar cansadito. Se for bem a ver já não sou propriamente novo. Mas esta dona acha que sou um jovenzinho, é? Já nem consigo ouvir a minha voz!)

»Mete-se o fim-de-semana«

Dia 8 (2ª feira 20 de Abril): Óh dona, donaaa??!! Mas isto agora é todos os dias? Então agora fico aqui neste espacinho minúsculo que nem dá para me coçar, aqui sozinho à tua espera? Se isto é gostar de mim vou ali e já venho.
Já que não me ligas vou beber qualquer coisa, estou com sede.
Vou fazer sumo. Ouviste dona? Vou fazer s-u-m-i-n-h-o!

(Ouço a chave da dona na porta. AI como lhe vou dizer que correu mal?)

Sabes dona, sabes, sabes? Sabes? Dooona... Ai que nem imaginas, fez tanto barulho, isto é pesado, eu não sabia, ai que me assustei tanto dona... E agora... ainda tentei limpar isto tudo mas não encontro os panos. Ó dona... desculpa. Não, não. Não me cortei nem nada e o sumo assim é tão doce, blergh, não gostei, mas... deeeeescuuulpaaaa, não queria fazer isto. Desculpa sim? Desculpa... Desculpa, desculpa.
Eu ajudo-te a limpar... dona?? Banheira? Nãããão! Tu sabes que eu detesto! Ainda por cima a frio? Fogo! Estás mesmo aborrecida, isto é tortura, há leis dos direitos dos animais! Vou fazer queixa! SOCORRO!!

Uff, foi rápido. Eu ajudo-te a limpar, sim? Vá lá, deixa-me ajudar, deixa!

Olha que lindo que ficou! Adoro-te dooona!

E agora de tarde vou preparar um leitinho para o dono para quando ele chegar ver que me portei bem.
Ups. Porque é que isto está a esguichar por todos os lados...???





*Versão da dona neste post: Memórias de uma semana de cão (Versão da dona) [http://historiascommemoria.blogspot.com/]


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