quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Vivências 64
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Extra
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Vivências 63
domingo, 21 de dezembro de 2008
Imaginário XXXIII
Ah... endoidei, ela nem sabe o que diz, não podia estar a pensar com mais clareza.
- Desculpa, não consigo conter, não consigo falar - era o que do outro lado se ouvia a custo, entre soluços e longos períodos de silêncio. E lá vinham mais soluços e mais silêncios a cada vez que do outro lado alguém dizia calma, vou aí ter contigo, vem ter comigo.
E ele ria, ria que nem um perdido como se alguém lhe tivesse contado a mais hilariante anedota. Conseguia até lembrar-se da história daquele inglês que tinha morrido de tanto rir a ver uma série de televisão e seria uma pena - pensou - se morresse assim, logo hoje. Seria no mínimo irónico, mas é assim que a vida é, irónica.
- Ele só pode ter enlouquecido - saía por entre mais um soluço - ele... ele vem aí...
E ele pegou no telefone e tomou conta da conversa. Que ele (aquele que estava do outro lado da linha) tinha que ir lá ter a casa. Ele (o que supostamente tinha endoidecido) queria falar com eles (ela e ele que estava ainda do outro lado).
- Vá lá, depacha-te, anda que eu não tenho tempo a perder - disse ao desligar sem dar hipótese de resposta.
E ria, ria que nem um doido enquanto cantarolava Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida, hoje é o primeiro dia do resto da minha vida.
E ela chorava. Não conseguia controlar os soluços que lhe arrebatavam a respiração e a deixavam sem fôlego, cansada, estoirada e com uma ainda mais incontrolável vontade de chorar.
Enquanto ela se prostrava e balançava que nem uma louca lavada em lágrimas numa ladainha de choro irritante ele cantarolava, ria e ia fazendo as malas.
- Vá lá querida, não fiques assim. A sério!, pensa bem, pensa, esquece as penas, esquece tudo e pensa. Isto foi a melhor notícia que tive em anos. Que tivemos. Todos: os três. Vá, canta comigo, hoje é o primeiro dia do resto da minha vida...
E seguia a cantarolar num riso de felicidade que passava o limiar do infantil para o histérico.
- Como podes dizer isso - gritou ela tantas vezes até ficar rouca - como? E alternava o choro, a ladainha e os gritos que já nem se ouviam por não ter voz.
- Eu não endoideci, aliás, devo dizer-te que estou mais lúcido que nunca, louco andava eu feito zombie na vida à espera da morte. Vivo estou eu agora. E se rio é porque vivo.
Entretanto a campaínha toca. Ele vai abrir a porta enquanto lhe diz, carinhosamente, para ela se compôr e não ser dramática.
- Entra e senta-te, vê lá se me ajudas a compô-la que está para aí numa crise de choro que até parece que morreu alguém - e ditas as palavras, que ele próprio ao dizer ouvira, ria ainda mais e mais descontroladamente - Ai que morro de tanto rir - e ria ainda mais.
Ele (o que acabava de chegar) nem sabe por onde começar nem o que pensar. A casa sempre antes tão direitinha num reboliço. Roupas, papeis, livros pelo chão.
- Entra lá, não temos tempo a perder, não te mostro a casa porque sei que já a conheces mas antes que também tu me aches louco deixa-me dizer-te que não te vou matar nem nada que se pareça. Bebes alguma coisa? Um whisky? Cerveja? Chá? Acompanha-me num whisky velho, faz-me o jeitinho, afinal de contas já partilhámos outras coisas - e dito isto voltava a rir como se tivesse dito a piada mais hilariante do mundo. Ai que não posso rir tanto, ainda morro - e voltava a rir da mesma piada que não se cansava de fazer.
Ela soluçava no chão, já em soluços baixinhos, cansados, os olhos inchados, o rímel que esborratava a face, o desespero de quem já nem procurava um lenço para enxugar as lágrimas. Ele (o que acabava de entrar) baixou-se para a abraçar e nesse instante ele (o que ria) diz-lhe em tom sério e sem rir:
- Vou-me embora. (E dito isto ela rompia de novo em lágrimas exaustas, tantas que lhe ardiam os olhos e a cara, tantas lágrimas que já chorava em seco) Vou-me embora, sei de tudo. E o que interessa aqui é que se durante anos fui corno e até me importava mas sempre esperei que ela mo dissesse, hoje não me importo e até agradeço. Agradeço, sim. Sabes, numa questão de segundos tudo se tornou relativo. Com a aproximação da morte tudo se torna relativo, mas (sussurrou ao ouvido dele, o que acabava de chegar) cada um tem a sua hora e só nessa hora percebe a relatividade. E a minha chegou. E sinceramente? Não me importo. Não me importo e estou felicíssimo, creio que vou viver mais estes dias que me restam do que vivi os mais de 40 anos até aqui.
Estava preocupado com ela, sabes, recebeu mal a notícia. Creio que para ela tudo seria imutável: eu cá em casa, tu no hotel ou aqui ou onde quer que fosse e assim seria para sempre. Mas as coisas mudam. Não quero que ela fique só. Nem quero que ela tenha pena de mim, nem tu sequer.
Bebia mais um gole de whisky.
Não é pena que quero, quero que entendam que não ensandeci, apenas tomei consciência naquele minuto do que queria, e o que quero é sair daqui, desta vida - e nisto ria de novo. Sabes, isto entretanto torna-se quase ridículo, porque "vida" e "morte" tomam outros sentidos para mim agora, mas não para vocês. Vá lá, não me olhes com essa cara de espanto. Peço-te que cuides dela. Que venhas cá para casa. Podem vender esta e comprar a vossa, tanto me faz, desde que fiques com ela. Tu e eu somos os pilares da vida dela, eu sei, e por isso nunca me intrometi entre vocês, mesmo sendo o marido, do mesmo modo que - e ria de novo à gargalhada - nunca te meteste entre nós, se é que isso foi possível, nunca te meteste entre nós porque eu não te trouxe e porque não forçaste. Mas - e bebia mais um gole - isto tudo para te dizer que vens para cá. Hoje.
Beijando-a na testa com um imenso carinho saiu de casa a cantarolar hoje é o primeiro dia do resto da minha vida e já não a ouviu dizer sumidamente amparada nos braços do outro o amo-te, não te quero perder, não morras, não estou preparada para te perder para sempre que ela conseguiu dizer antes de desfalacer.
E saiu feliz porque finalmente ia viver nos poucos dias que lhe restavam de vida.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Vivências 62
sábado, 13 de dezembro de 2008
De repente chego aqui, imaginando que me sento com vocês à mesa não tenho vontade de falar, só de ouvir, e o que sinto é que vocês querem ouvir-me a mim e estão aí ansiosos de saber o que vou dizer e eu que não me apetece falar, só estar.
E constrange-me a sensação de vos ver de olhos postos em mim e eu que olho para este pedaço vazio por escrever, virgem, puro, intacto, e eu sem palavras, sem as palavras que queria ter, sem palavras para vos dizer, sem voz.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Vivências 61
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Vivências 60
Diz quem sabe fazer contas de somar que faz hoje um ano desde que o dito Governo laranja tomou posse... Como se este já não fosse um país desgraçado o suficiente e o fado das nossas gentes bastante frustrante, ainda nos calham estes lideres que chumbam na disciplina de liderança à pelo menos um ano! Morram os Pseudo-lideres morram PIM.
Numa nação arrasada pelo servilismo ao produto estrangeiro, que vive na realidade de ser um país de turismo, com uma constante população que se verga ao subsídio mínimo garantido por um lado, e com uma juventude formada sem emprego por outro, e em que agora, até já os frangos não se podem comer... Vemo-nos cada vez mais, confinados a levar com o “Cherne”. Que felicidade, que felicidade! Morram os Peixes morram PAM.
Faz um ano que somos governados por um Governo de Dantas, vendidos, charlatães, indignos e cegos que nadam num mar poluído de "lobbys" e amigalhaços! Morram os Dantas morram PUM.
Um Governo que sofre de uma bulimia mental nervosa compulsiva não pode ser respeitado. Um Governo que sofre de uma verborreia descomedida de ataque permanente aos bolsos da classe média, não pode permanecer em funções. Morram os Dantas morram PIM, PAM, PUM!
Um Governo que se nega a governar e atira areia aos olhos de um povo dando-lhes pão e circo não é um governo, é uma coisa. Pesca tanto de governar que até oferece território açoriano aos estrangeiros. Um Governo que se vende ao tal do Dantas americano sem ao menos ver que é assim que o suposto “amigo” leva avante a fragmentação da unidade europeia, não é um governo é uma amalgama de gente histérica e triste que sofre de falta de visão e, muito provavelmente, de tricotilomania tentando a todo o custo esconde-lo. Basta Pim Basta!
Este Dantas português e os seus fracos seguidores estão em funções à um ano e parece que já fez um século. Dão-nos uma política frouxa mascarada de neofascismo do quero, posso e mando. Não têm noções básicas de democracia e por isso não sabem quem é o Presidente, nem tão pouco do lema “do povo para o povo” porque nem lhe pedem a opinião. Promovem o zero, a impotência e a indecência. Irritam o cidadão inteligente, ofendem o povo lusitano e ainda assim, acham que sabem governar! Morra o Dantas e seus ministros Morram Pim!
Acredito que o Dantas saiba o que é finança, solidariedade, saúde, educação, agricultura, economia, ambiente, defesa nacional, ciência, cultura, justiça, negócios estrangeiros e administração do território – isto é fácil, se o Dantas tiver em casa dicionário para consultar. Saberá tudo este Dantas e creio, que pouco faltará para também este afirmar: “Nunca tenho duvidas e raramente me engano!” Saberá tudo menos governar que é a única coisa que o indigente faz! Morra o Dantas e o seu séquito de ministros Morram Pim!
Portugal que com todos estes ministros e coisas que jandas, continua a merecer o titulo de “(...) país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseiado!”
MORRA O CHERNE MORRA Pim!
sábado, 29 de novembro de 2008
Excerto de um dia atípico da vida dos Thunder's
Então falo daquilo que também são histórias mas das vividas a sério por nós, não das que invento.
Levantámo-nos a uma hora agradável para um sábado. Tínhamos umas compras muito simples para fazer (na verdade o que nos levava ao super seriam iogurtes para a avó). Tomámos o pequano almoço e saímos para deixar o Pootchie com ela.
Tive a "brilhante" ideia de me enfiar no Cascaishopping. Vá lá, à hora que chegámos ainda havia um lugarito no parque descoberto.
Compras de Natal. A maioria estão despachadas. De cada vez que saímos de um sítio o número de pessoas nos corredores parecia ter aumentado.
Continuo a achar "fantástico" as famílias enfiarem-se em peso no centro comercial ao fim-de-semana. Pai, mãe, avós que andam lentos à brava, carrinhos de bebés que ocupam os corredores inteiros e mais: pessoas que entram com os carrinhos de bebés dentro das loljas tornando a circulação extremamente difícil. Crianças que acabam por ficar rabujentas e pais que acabam por ficar sem saber o que lhes fazer quando seria tão simples dividirem-se entre si e um ficaria em casa enquanto outro iria fazer compras.
Há também as típicas pessoas que se esquecem com certeza que estão num local público e passeiam-se como se mais ninguém lá andasse. Param onde lhes apetece nem que isso signifique entupirem o corredor inteiro porque a avó tem uma malha nas meias e o neto não pára quieto e dali a pouco apanha não tarda e o bebé entretanto acordou e põe-se a chorar e o pai vai abanar o carrinho e a mãe não sabe onde está o telemóvel e a filha adolescente está ali com ar de quem mais lhe apetecia estar era com a amiga a ver páginas do Hi5 e o melhor é mesmo ficarem ali todos porque a tia finalmente estacionou e vai ali ter com eles se eles não esperam nunca mais se encontram.
Há aqueles espécimens que eu também gosto (sim, gosto, de ver longe) que têm o marido ou o filho ou a mulher ou quem seja no último lugar de uma fila de 50 pessoas para ir buscar um hamburguer mas já estão a reservar mesa para 10 pessoas que entretanto "limparam" pondo os 4 tabuleiros cheios de restos na mesa ao lado para quem vier a seguir que limpe. As outras que andem de tabuleiro na mão a procurar um sítio, azarito.
Ah, também gosto das senhoras na idade da parvalheira que a menopausa dá, aquelas que acham que como já pariram e já lhes secou a fertilidade são donas do mundo (malditas descompensações hormonais) que mesmo mostrando a senha para o bacalhau e mesmo pedindo educadamente para se desviarem porque a minha vez está a chegar olham como se eu tivesse acabado de sair da creche e ainda gozam. Se calhar devo mesmo, talvez elas não pedissem e se impusessem. Bem, pensando bem foi o que elas fizeram. Cascais? Tiazocas? Benzocas? Na.. de bem não tiveram nada a não ser a arrogância.
Bem, e agora vou arranjar o frango para o wok de amanhã e fazer a canjinha. Natal é quando o homem quer excepto nas grandes metrópoles em que Natal é dia 25 de Dezembro e já é muito bom.
Lamento pelas pessoas que vão fazer compras de Natal que não têm a mínima noção do que ele é.
Talvez seja por isso que eu detesto tanto o Natal.
Ahh! E por falar em detestar. Este ano não se vai fazer árvore, não vamos estar cá e não vamos ter a trabalheira, não nos apetece. Falava no entanto com um colega que dizia que no Natal não dispensava a árvore e o presépio. Achei de uma incongurência enorme.
O paganismo e o cristianismo ali juntos, lado a lado. Na minha opinião as pessoas deveriam escolher se querem festejar o solstíco de Inverno ou o nascimento de Cristo.
É que vejamos, são estas as pessoas que criticam em massa os outros (o critianismo deveria ser uma religião de aceitação e amor ao próximo, digo eu que sou agóstica), que se benzem perante ideias "do demo", que defendem as fogueiras onde se queimavam as bruxas e no fim ali está ele, o símbolo pagão a lembrar como foi que a "Igreja" se apoderou das crenças de todos e os forçou a amar a Cristo mesmo ao lado do símbolo do berço do menino Jesus.
Eu acho incoerente mas aceito que me digam que a árvore e o presépio sejam o símbolo máximo da união entre todos. São pontos de vista. Mas se a abertura é assim tão grande que não seja apenas em Dezembro, afinal Natal é quando o homem quer.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Vivências 59
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Experiência 28
sábado, 22 de novembro de 2008
(A importância de) Sentir na pele
O meu pai era o único adulto que não era velho que eu conhecia que usava óculos sempre e a toda a hora. Nem os adultos velhos os usavam 24/7 e nem os adultos velhos ficavam tão irritados se pegássemos nas "oculetas" deles.
O meu pai era o único que ficava todo abespinhado.
Um dia perguntei-lhe se ele ficava cego se não os tivesse. Na minha ideia pôr os óculos seria como acender uma luz e tirá-los seria como apagá-la. E por isso nunca ele poderia ficar sem eles, senão passava a ver tudo muito escuro.
Ele respondeu que não ficava cego mas que não via nada. E eu não percebi nada do que ele me disse. Mas ele era crescido e eu não e devia ser uma daquelas coisas que só os crescidos é que sabem.
Um dia, tinha eu 13 anos, comecei a usar óculos. Coisa pouca, mas precisava. E lá andava eu toda contente com os meus óculos novos. Ao início tudo parecia igual com a excepção de ter uns vidros à frente dos olhos.
Hoje, 20 anos depois, ao olhar para o relógio digital do quarto lembrei-me da pergunta que fiz ao meu pai teria eu os meus 4 ou 5 anos. Ia jurar que até ouvi a minha voz.
E lembrei-me de ele ter respondido que não ficava cego mas que não via nada.
Porque eu não sou cega e macacos me mordam se eu não via nada a não ser um esborratado colorido disforme.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Vivências 58
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Experiência 27
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Extra
escusada,
sem préstimo,
incapaz,
vão,
leviana...
sábado, 15 de novembro de 2008
Era uma vez um ancião
Essa aldeia tão pequena tinha apenas um habitante, um ancião que ninguém sabe que idade tinha porque ninguém sabia que ele existia, assim como ninguém sabia que a aldeia existia.
E o ancião também não sabia porque a última vez que ele falara com alguém já tinha sido há tanto tempo que ele próprio não se lembrava.
Ele também já não tinha noção do tempo que passava, ele só sabia que a seguir à noite vinha o dia e a seguir ao dia vinha a noite e que a seguir ao Verão vinha o Outono e a seguir ao Inverno vinha a Primavera.
O ancião já não ansiava a vinda de ninguém.
Durante muito tempo, que ele não se lembra nem quando nem quanto foi, ele esperou alguém.
Mas agora, passado todo o tempo que passou, o que ele espera é que não venha ninguém. Assim como desejou em tempos ouvir uma voz deseja agora que nenhuma voz se oiça.
Se alguém por lá passasse (que não passa porque ninguém já quer ir aos lugares que faltam descobrir porque acham que estão todos descobertos) ia com certeza ter muita pena do ancião. E se alguém por lá passasse nunca ia compreender como é que o ancião podia ser assim tão rude.
Na verdade ninguém poderia compreender porque todos estão sempre tão habituados e dependentes de estar rodeados de tudo o que é supérfulo que não lhes caberia no entendimento que alguém possa viver assim (E ainda por cima ser feliz, que horror, como é possível!! - quase dá para a ouvir as exclamações), com se "assim" fosse de um modo deplorável.
Por isso o ancião apenas ansiava uma coisa. Poder viver tanto tempo quanto quer que fosse o tempo que lhe restava sem que ninguém ali aparecesse para lhe roubar a paz. Todos os dias abençoava ter sido mais um dia a sozinho (mas não "só", que estar só e estar sozinho são coisas bem diferentes). E todos os dias sentava-se no pelourinho antes de ir para o seu casebre e olhava o céu. E todos os dias pensava no que seria que estava no centro do universo.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Vivências 57
Verdade ou não... decidi, vivê-la sem ter em conta a opinião dos outros...
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Experiência 26
“Porque nunca me perguntas nada?”, disse-lhe ela, e ele pensou que o problema não estava nas perguntas mas nas respostas.
“Porque nunca me perguntas nada?”, disse-lhe ela, e ele olhou-a, interrogativamente.
“De que cor é o mar?”, perguntou-lhe ela, e ele olhou-a à procura de uma resposta.
“De que cor é o mar?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu-lhe que era da cor do seu olhar.
“Porque estás tão calado?”, perguntou-lhe ela, e ele abriu-se num sorriso caloroso.
“Porque estás tão calado?”, perguntou-lhe ela, e ele pensou em responder-lhe com uma pergunta.
“Tens alguma coisa a dizer-me?”, perguntou-lhe ela, e ele ficou à espera do que ela tinha para lhe dizer.
“Tens alguma coisa a dizer-me?”, perguntou-lhe ela, e ele disse a si mesmo que só lhe restava negar tudo com veemência.
“O que queres da vida?”, perguntou-lhe ela, e ele sentiu de imediato a presença da morte.
“O que queres da vida?”, perguntou-lhe ela, e ele teve vontade de lhe apertar o pescoço.
“O que queres dizer com isso?”, perguntou-lhe ela, e ele disse a si mesmo que o melhor era não acrescentar coisa alguma.
“O que queres dizer com isso?”, perguntou-lhe ela, e ele apressou-se a dizer-lhe que não era nada do que ela estava a pensar.
“És feliz?”, perguntou-lhe ela, e ele sentiu a dúvida a instalar-se nele.
“És feliz?”, perguntou-lhe ela, e ele amaldiçoou-a por isso.
“Estás a dizer-me a verdade?”, perguntou ela, e ele começou a duvidar de si mesmo.
“Estás a dizer-me a verdade?”, perguntou ela, e ele mentiu-lhe mais uma vez.
“Quanto tempo consegues aguentar sem sexo?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu com um cauteloso “depende”.
“Quanto tempo consegues aguentar sem sexo?”, perguntou-lhe ela, e ele disse-lhe com um sorriso que atingira o seu limite.
“Por que me olhas tão intensamente?”, perguntou ela, e ele olhou-a como se ela mesma fosse a pergunta.
“Por que me olhas tão intensamente?”, perguntou ela, e ele despertou finalmente do seu sonhar acordado.
“O que é escrever?”, perguntou-lhe ela, e ele agarrou numa caneta e escreveu a pergunta na palma da mão esquerda.
“O que é escrever?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu que era isso mesmo, e não disse mais nada.
“Porquê o ser e não o nada?”, perguntou-lhe ela, e ele percebeu que nunca antes tinha sentido em si tanta vontade de ser.
“Porquê o ser e não o nada?”, perguntou-lhe ela, e ele repetiu a pergunta para si mesmo, breves instantes antes de deixar finalmente de ser.
“Por que nunca acreditas em mim?”, perguntou-lhe ela, e ele olhou-a nos olhos, ainda com mais desconfiança do que era habitual.
“Por que nunca acreditas em mim?”, perguntou-lhe ela, e ele acreditou nela pela primeira vez.
“Por que te esforças tanto?”, perguntou-lhe ela, e ele ficou a pensar no exacto sentido da pergunta.
“Por que te esforças tanto?”, perguntou-lhe ela, e durante várias horas ele fez o possível e o impossível para lhe explicar a razão.
“Quem sou eu?”, perguntou-lhe ela, e só então ele percebeu que não sabia a resposta.
“Quem sou eu?”, perguntou-lhe ela, ele olhou-a como se a visse pela primeira vez. Só assim lhe poderia verdadeiramente responder.
“É verdade que me trais?”, perguntou-lhe ela, e ele calou-se, mas ficou a pensar que até não era uma má idéia.
“É verdade que me trais?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu que não, sem hesitações, sem mesmo pensar. Se havia uma coisa que nunca faria era trair-se a si mesmo.
“Qual é o teu desejo mais profundo?”, perguntou-lhe ela, e ele nada disse: o desejo devia ser profundo e todo ele era superficialidade.
“Qual é o teu desejo mais profundo?”, perguntou-lhe ela, e ele caiu em si à procura de uma resposta e nunca mais voltou.
“É melhor estar vivo ou estar morto?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu que preferia estar vivo. Viveu ainda muitos e muitos anos, tantos que várias foram as vezes que implorou pela morte.
“É melhor estar vivo ou estar morto?”, perguntou-lhe ela, mas ele nem tentou responder. Havia muito que estava completamente morto.
“Serias capaz de prescindir de sexo por amor?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu para si mesmo que sim, sim, sim, mal podia esperar para levá-la para a cama.
“Serias capaz de prescindir de sexo por amor?”, perguntou-lhe ela , e ele respondeu que sim, claro, sem dúvida, o que não faria por amor. Estava há muito habituado a mentir por sexo.
“Por que me amas?”, perguntou-lhe ela, e ele começou a falar-lhe com entusiasmo do último livro que lera. Então ela sorriu de felicidade, pois, tal como ele, também ela não sabia por que o amava.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Vivências 56...
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Experiência 25
sábado, 1 de novembro de 2008
Resumindo muito...
O Universo que ninguém sabe explicar muito bem o que é mas sabe-se intuitivamente - porque a palavra impõe respeito, tomara que o houvesse mesmo - que a sua vastidão vai além do que o próprio nome que lhe deram dá a entender.
O Universo formou-se, aquelas partículas todas criaram afinidades umas com as outras e resumindo a história, cá estamos nós, seres vivos e seres não vivos. Seres. Não somos mais que uma afinidade de partículas.
Resumindo muito outra vez, depois de toda a evolução (para os evolucionistas) ou de toda a criação (para os criacionistas) o homem (sim, com letra minúscula) - homens e mulheres - ganhou uma caracteristica: consciência do que o rodeia. Adjectivação. Tenha sido pelo ganho de superfície cerebral às custas de cada vez mais sulcos (evolucionistas) ou tenha sido graças a uma trinca na maçã (criacionistas) o certo é que o mundo que o rodeia começou por ser aproveitado. Depois observado. Depois esmiuçado. Depois esventrado. Hoje é escravizado.
O substracto que nos criou (seja por uma mutação na agregação de partículas - evolucionistas - ou porque da lama se fez a costela de Adão - criacionistas), que nos sustentou, que nos prendou com recursos, que fez do homem o Homem (desta vez com letra grande) foi, em dois escassos séculos de uma história tão mais vasta, avidamente esgotado.
Quando o homem saiu do seu núcleo reduzido, motivado seja pelo que quer que tenha sido (crescei e multiplicai-vos - criacionistas - ou procura de comida e paragens calmas onde fosse possível ter alimento e protecção - evolucionistas) ele conheceu novos locais. Fixou-se. Aprendeu as artes da defesa, da agricultura, do pastoreio. Iniciou a perigosa busca do saber. Perigosa porque há linhas que não se podem atravessar. Mas sempre e ao longo dos séculos o homem foi timidamente aproximando-se cada vez mais dessa linha.
O homem, achando que está cada vez mais próximo da sabedoria absoluta, auto-entitula-se "Homem", homem todo-poderoso, acima dos seres vivos e não vivos, acima de tudo, acima até do Universo.
A Humanidade, como ela gosta de se chamar a si mesma, não passa hoje de uma enorme organização trituradora onde de um lado coloca pedras, animais, árvores, água, pessoas e do outro obtém dinheiro, dinheiro e até mesmo dinheiro.
A palavra de ordem é seguir em frente sem olhar aos meios para atingir os fins. O que interessa é lá chegar.
Chegar? Onde? Será que alguma vez alguém parou para pensar onde se vai chegar?
O homem nasceu no seu berço, vagueou um pouco por todo o mundo, fixou-se aqui e ali onde para cada grupo havia melhores condições, prosperou, cresceu mais, onde havia pequenos núcleos passou a haver aldeias, organizou-se, dividiu tarefas, especializou-se, aumentou ainda mais, as aldeias deram lugar a vilas, a cidades, hoje em dia são metrópoles que mais parecem países, conquistam-se territórios, separam-se bens. Para quê?
Mais tarde ou mais cedo as grandes metrópoles esgotar-se-ão. Os escravos da era moderna que ainda permanecem nos campos a alimentar as cidades - quais vassalos a alimentar os nobres e reis - mas que ao invés da época medieval em que tinham protecção dos seus senhores estão hoje desprotegidos e inferiores em número, não conseguem já tirar das terras o sustento da suposta Humanidade.
As civilizações estão a entrar em declínio, vítimas de si mesmas.
Chegará o dia em que o colapso será inevitável. Mas ao invés de se dar em períodos longos em que a suposta Humanidade se pode adaptar, não. Desta vez não haverá adaptações. Seremos esmagados por nós mesmos, dizimados pela nossa desmesurada ambição.
E o pior é nunca chegarmos a saber exactamente o que ambicionávamos. Porque deus (deuses), a existirem, não aceitam homens no seu espaço.
Bem-vindos à época catastrófica do "format c:" global. Seja por castigo de Deus (criacionistas) seja por esgotamento dos recursos que nos sustentam (evolucionistas). Não vai sobrar ninguém para contar a história que nunca chegou a ser feita.
Um dia (e ninguém sabe explicar muito bem como apesar de haver inúmeras teorias) o Universo extinguir-se-á.
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Humanidade
do Lat. humanitate s. f.,
o conjunto dos homens;
o género humano;
natureza humana;
clemência;
benevolência;
amor do próximo;
(no pl. ) estudos clássicos.
(http://www.priberam.pt/)
Sabor a Thunderlady
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
...And Justice for All
Do tempo em que os Metallica eram os Metallica...
...e um pensamento que me ocorre neste momento, para quando a justiça para todos...?
Sabor a Thunderdrum
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Vivências 55
do Lat. mentita, sob o influxo de mentir?
afirmação contrária à verdade;
falsidade;
ficção;
ilusão;
juízo errado;
indução em erro;
persuasão falsa.
Mentir de uma maneira que piore um conflito em vez de diminuí-lo, ou que se vise tirar proveito deste conflito, é normalmente considerado como algo antiético. Não devemos então mentir? Ou para evitar um mal maior é até requerido mentir-se?
Existem pessoas que afirmam que é com frequência mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa Grande Mentira dita muitas vezes, do que numa pequena verdade dita apenas uma vez. Esta frase foi proferida pelo Minístro da Propaganda Alemã Joseph Goebbels no Terceiro Reich.
No entanto, durante anos não se matou por Grandes mentiras? E não esses, na sua dimensão, cheios de razão para acometerem os actos mais bárbaros
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Experiência 24
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Em Fogo 29 - Dias de Chuva
São dias assim, que passam do céu azul para um cinza mais claro, escurecendo à medida do tempo e eu protegido na minha casa a olhar pela janela da sala recordo... o cinza torna-se mais escuro e cai uma gota, depois outra de... inicialmente a um ritmo lento e depois mais rápido, transformando-se numa tempestade em tarde de Inverno ti.
Sabor a Carpe Diem
sábado, 25 de outubro de 2008
Imaginariamente real
Certo certo é que ainda não tinha acordado totalmente. Apesar de já ter passado uma hora desde que o despertador tinha tocado, todas as tarefas matinais rotineiras tinham tido uma precisão meramente maquinal, desde o levantar ao café e cigarro antes de sair de casa. Mas certo certo é que, como eu dizia, ainda não tinha acordado totalmente, coisa que não se devia fazer fora de casa - acordar totalmente - sabe-se lá o que aconteceu pelo caminho!
Mas, dizia eu - que mania de me perder entre pensamentos e acrescentar mais uns pormenores sem importância nenhuma, certo, certo é que ainda não tinha acordado totalmente e vai de ainda estar meia letárgica e achar que era uma patetice mas aquela luz estava diferente, a luz que me chegava pelo canto do olho, não a que me espreitava de frente por trás da esquina da casa.
Claro que me voltei para trás para perceber o que era e juro-vos que o que me salvou foi ter a tensão baixa, que quando dei de caras com ela fiquei logo acelerada e foram-se os restos de apatia que me sobravam da noite mal dormida.
Ao olhar para o sítio de onde vinha aquela luz em brilho fragmentado - perdoem-me a falta de eloquência mas não sei que outra expressão usar - não dou de caras como disse no parágrafo anterior - claro que vocês, bons leitores que são para mim, captaram a ideia na expressão utilizada - por nos ser a ambas fisicamente impossível, fisicamente em dois sentidos, o primeiro porque ela não tem cara e o segundo porque a ter estaria ao nivel da minha pube, mas deparo com o tenebroso, mais que tenebroso - sinistro!, cenário dela lá instalada, e oh! que bem instalada estava ela mesmo no centro daquela trama ardilosamente tecida. Lá estava a dita, velhaca instalada no covil, à espera.
O cenário, podem crer, era medonho. Na teia, enorme acreditem(!!), reluziam ainda as gotas de orvalho que resistiam estoicamente ao sol da manhã e mais firmemente ainda à sede da fera. Espalhadas ao acaso cascas de outrora viris moscas esvoaçantes estavam prisioneiras na teia e nem as sobreviventes se atreviam a reclamar os despojos porque ali estava ela, de olhar triunfante, a dona do covil, a senhora das oito patas. Ela viera, chegara e conquistara o território. Só não ria maleficamente porque as aranhas não riem, muito menos maleficamente, mas que lhe ia assentar muito bem um sorriso maquiavélico, lá isso ia, garanto-vos.
Pois foi nessa manhã que me tornei heroína aos meus próprios olhos - que não o sendo aos olhos de ninguém posso muito bem aos meus ser o que eu quiser e nesse dia asseguro-vos que me tornei fã de mim mesma.
Entrei em casa decidida dos passos a seguir. Tinha a estratégia bem definida mentalmente. O plano devia ser seguido ao pormenor. Não havia espaço para dúvidas ou falhas, a missão era arriscada mas tinha-me sido confiada, logo e justamente a mim, valente cagarola que foge (fugia!!) do mais raquítico aranhiço pateta (por favor não leiam aqui "pátéta"; leiam antes "pâtêta" que as aranhas têm patas e não pernas, logo perneta nunca podia um aranhiço, raquítico ou não, ser). Sem margem para hesitações abri a porta da dispensa. Todos os segundos eram cruciais para o sucesso da operação "morte à aranha tenebrosamente assustadora". Peguei no spray mata-moscas (mas que é que querem? Ainda não fizeram um mata-aranhas!...) e corri para o alpendre.
Respirei fundo. Sem dó nem piedade e muito decidida posicionei-me de frente para ela e sem um adeus sequer, sem misericórdia nenhuma carreguei no spray e fiz sair uma dose, pensava eu letal, de veneno.
Mas querem saber o que aconteceu? Pois a venenosa iniciou a fuga não demonstrando o mínimo sinal de ter sido afectada. Missão abortada? Não!! A saga estava apenas a começar, a corrida contra o tempo, a batalha entre a minha coragem e a veloz fuga da monstra. Eis que ela põe aquelas oito patas a mexer e ala que se faz tarde! desata a correr teia abaixo. Nisto eu volto à carga e despejo-lhe mais spray em cima, desta vez uma quantidade maior. Como resposta a tipa desenovela um fio e começa uma fuga descendente em direcção aos malmequeres do canteiro. Nessa altura percebi que tinha que ser mais rápida que ela se não queria perder a guerra para sempre.
Agarrei a lata com força com as duas mãos e despejei sem interrupção o vapor venenoso até ela dar sinais de estar combalida. Nessa altura não interrompi, claro que não, continuei até ela tombar. E não satisfeita com ela ali, pendurada pelo fio de patas recolhidas, despejei ainda mais. E pelo sim pelo não abanei o arbusto, nunca se sabe se ela estaria a fingir-se de morta e ia esperar que eu me voltasse de costas para me atacar com menos misericórdia do que eu a ataquei a ela.
Por fim estava tudo terminado. Ela jazia ali à espera das 17horas, hora em que viria o meu salvador de aranhas buscá-la e mandá-la para bem longe - para um sítio qualquer onde os meus olhos não chegassem.
Ainda hoje recordo essa manhã com nojo.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Vivências 54
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Experiência 23
sábado, 18 de outubro de 2008
A outra espatifadela, a que fez há mais de um mês, está lá ainda. Sim, aquela que fez quando tropeçou nas escadas da entrada, bateu com a canela no degrau e agarrou-se à roseira - Ó D. Natália, não tinha sítio melhor para se agarrar? Ai ai ai... - mas já não adianta, nesta idade não aprende, só desaprende - sim, essa, ainda lá está.
E a conversa é sempre a mesma e resume-se sempre ao mesmo. A mãe dela que morreu com 104 anos e que toda a vida esteve lá para tratar dela e não está agora, agora que ela tanto precisa da mãe porque está velhinha e a mãe é que devia lá estar para tomar conta dela como esteve toda a vida e não está agora, a mãe que sempre tanto sofreu e sempre a protegeu e agora não protege porque morreu, morreu há 10 anos mas ela já não sabe quanto tempo são 10 anos, podiam ser 10 minutos - a dor, essa, é a mesma.
E a crosta de há mais de um mês lá está. E ainda não caiu e está lá outra. Não, não outra crosta, outra ferida. Mais ou menos 10 cm acima.
Foi ontem de manhã. Quando lá cheguei estava ela ainda de robe. De robe, Não tens frio? Mas ela estava meio atordoada, percebi que estava a comer - a boca cheirava a migas de café, as migas que ela faz com o pão que deixa endurecer com medo que acabe, com receio que nos esqueçamos dela e não lhe levemos pão fresco - come o pão, nós trazemos mais amanhã - mas todos os dias é a mesma coisa, já não vale a pena, nesta altura ela já não aprende, só desaprende e nós temos que ir aos poucos desaprendendo com ela. Não filha, quer dizer, olha... e vi a perna.
Custa sempre olhar e ver a perna dela espatifada. Não sabia se havia de começar por desinfectar, por pôr gelo, pelo quê. Com sangue frio tirei o penso da crosta mais antiga, precisava de ver se estava aberta outra vez. O receio - não sei se da possível imagem da ferida aberta ou se das consequências da ferida ter aberto - remoeu-me o estômago. Não. A crosta lá estava, resistente e forte e bem agarrada. Pus tintura. Pus tintura como te vejo a fazer na outra, disse-me ela com orgulho. Fizeste bem, é assim mesmo, tentava eu disfarçar o estômago ruim.
O procedimento foi o que se repete há um mês. Desinfectar, pôr um cicratizante, cobrir.
Agora vais ficar com gelo na perna, este inchaço tem que desaparecer.
Deixei-a a acabar o pequeno almoço. Uma manta a cobrir os ombros, uma perna esticada e gelo, um olhar meiguinho e um sorriso na cara - sempre e sempre e todos os dias um sorriso. Ela diz que a melhor hora do dia é a da manhã, em que me vê e lhe encho o dia e falo com ela e a faço rir.
No fim a perna dela lá está, espatifada, a perna que já tem 87 e faz 88 anos em Dezembro mas que não sabe que estamos em Outubro porque as estações parecem todas iguais, a pele que já tem 87 anos e faz 88 em Dezembro mas que não sabe que estamos em Outubro porque as estações parecem todas iguais, o corpo que está velhinho e já não cura, só descura, a cabeça que está velhinha e já não aprende, só desaprende.
Porque a esta altura as estações, essas, são todas iguais.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Vivências 53
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Experiência 22
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Em Fogo 28 - O Clique
Sabor a Carpe Diem
sábado, 11 de outubro de 2008
Resumo da semana I
Tinha pensado escrever sobre o fecho do meu Blog que era para não ter nome mas teve de ter, ou sobre o tão falado tema da semana que é o descalabro da economia mundial e de como as pessoas entram em pânico (ainda ontem, no messenger, tive uma pessoa em quase histerismo a dizer-me para levantar dinheiro do BPN porque sabia de fonte segura que ia fechar. Não digo que não seja verdade, mas calma...!) - é caso para preocupações mas vamos lá a aguardar, sim? - e até tinha pensado escrever sobre uma coisa que ontem tinha estado a falar com a minha amiga C. (uma delas, porque quando me pus a pensar nas minhas amigas, as três grandes que tenho, verifiquei que os nomes de todas elas começam por "C".), aquela que geograficamente está menos acessível, e que comentava comigo que seríamos eternamente a geração à rasca.
Bem, sobre o meu blog não tenho afinal muito para dizer. Deixou de me dar prazer.
Não, não foi escrever nele que deixou de me dar prazer... os que me liam atentamente e com o que eu chamo "olhos de ler" conhecem-me o suficiente (de certeza, e se não sabem isso foi porque nunca leram com os tais olhos de ler) para saber que eu não consigo ficar sem escrever. Por muito parvas que as coisas sejam, são as minhas coisas parvas. No fundo o que me deixou de dar prazer foi escrever neste bairro que cada vez tinha uma vizinhança mais invasiva, ao género de num dia não estamos em casa e levam um pezinho de salsa emprestado deixando um bilhete sem agradecimento, nós calarmos porque mais pé menos pé não há crise e quando reparamos foi-se o vaso e nós sem coragem de abrir a boca (Thunder, isto não te faz lembrar dois vasinhos que demos a uns certos jardineiros, pois não??).
A bem dizer isso foi uma das partes que contribuiu para o todo. Esta vizinhança tem o hábito de fazer algo que tenho as minhas reservas que é justificar-se por tudo e por nada. Eu não sou assim. Não gosto de me justificar nem gosto de ler / ouvir justificações. Se as pessoas são as certas não precisam delas para nada. Para as dar às erradas mais vale ficar calado - se são erradas não saberão o que fazer com elas. Por isso um dos outros factores (estes dois directamente ligados à blogosfera) foi pôr um espelho no ditado que diz "nas costas dos outros vemos as nossas" e começar a ver as dos outros nas minhas.
E pronto, blog arrumado. Sim, arrumadinho num canto diferente, ou acham que ia deitar fora todos os meus quase 5000 posts, alguns deles tão pessoais que só eu sei ler o que lá está escrito e alguns tão profundos que nem eu me lembro de onde vieram?
Depois há o tema da crise financeira. Nos EUA a bolsa não estava tão em baixo desde 1933. Em Portugal se não estou em erro foi há 30 anos. E pelo resto do mundo não sei nem me interessa. Não sei porque não percebo mesmo nada de economia - a não ser a doméstica, onde sou mesmo muito boa (sem falsas modéstias) e consigo gerir os poucos recursos que esta empresa que são os Thunder's tem e por vezes ainda conseguimos lucro, mesmo que baixo - e não me interessa porque tudo tem uma sequência cíclica e agora está em baixa amanhã vai estar em alta e a vida continua, não pára só porque as bolsas estão em queda - não pára para alguns porque decerto muitos já se mandaram da janela abaixo em Wall Street - e a minha vida pouco se rege pela bolsa que pobre que se preze felizmente não tem muito a perder - do mesmo modo que muito nunca há-de ganhar.
E no seguimento deste tema encaixa-se a conversa com a C. A famosa geração à rasca. À rasca desde a concepção na época tumultuosa e indefinida do pós 25 de Abril de 1975, à rasca por ter sido cobaia de uma série de políticas experimentais no campo da educação até se descobrir que o modelo está em não educar mas impingir conhecimento, à rasca com os desempregos - desemprego é na nossa geração uma profissão extenuante - à rasca porque estando na transição entre as épocas pré e técnológica poucos acreditam que saibamos fazer o que quer que seja, à rasca porque basta dizer que estamos na casa dos 30 para sermos catalogados como uma porcaria de gente que nasceu na geração errada. Pior que tudo seremos ainda a geração à rasca na 3ª idade porque vamos apanhar o completo colapso do sistema de segurança social e tendo essa visão 40 anos antes sabemos que desempregos + baixos salários são incompatíveis com poupanças para sobreviver na reforma.
Assim, o que nos resta?
Resta aguardar que se confirme o fim do mundo em 23 de Dezembro de 2012 conforme previsto pelo calendário Maia.
Até lá pondero viver estes últimos 4 anos da minha vida como nómada e arranjar sustento em feiras a fazer terérés.
Até tenho um slogan: "Prepara-te para o fim do mundo. Aproveita a promoção téréré. Na compra de 10 oferta do 11º".
Sabor a Thunderlady