sábado, 10 de outubro de 2009

Imaginário XLII

Rufam os tambores.

O trapezista está tenso. Quanto mais salta mais confiança tem bem como mais certeza e consciência da perigosidade do salto.

Rufam tambores.

O trapezista olha, mira, avalia, sorri de nervos, sorri de felicidade - ele gosta de saltar.

Rufam tambores, não pode ali ficar para sempre no alto a segurar o trapézio. Tem que saltar, só assim tudo sai do suspenso e volta ao normal. É sua responsabilidade terminar: a sua apneia, a do público.

E se...? E se este é o último? E se for o último? E se... E se eu não pensar e fizer o que sinto e como sinto? E se a rede falha? E se a mão escorrega? E se tudo corre bem e termina como sempre num ruído de palmas entusiastas que lembra o mar agitado de ondas a bater nas rochas ... E se eu perder o medo e for em frente?


Quem no público olhava estarrecido o trapezista não imaginava o medo que ele tinha da altura, de cair, de escorregar, do balancé do trapézio. Via aquela figura imponente no alto, corajosa que fazia parecer fácil o malabarismo corporal no ferro balouçante. Via aquela figura segura sem medo que inspirava.

E ao som de um prolongado "ahhhhh" do colectivo extasiado o trapezista saltou e balouçou e fez o seu número sem nunca ninguém perceber mesmo sem ele esconder o medo que tinha de desapontar o público.


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