quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Vivências 64


De novo... calha-me a estranheza de escrever algo acerca do Ano que acabou, do que irá começar... E mais uma vez um sentimento de inércia e vazio apodera-se do "matraquilhar maquinal" dos dedos e nenhuma ideia sai...

Tenho uma ou outra ideia, todas mal "alinhavadas" mas acima de tudo, sinto um sentimento que identifico como sendo o mais intenso de todos: o de ver as coisas assim a mudar... É estranho pensar no bem que uns fizeram e o mal que outros perpetuam.

Lembro-me de pensar, com tanta pena e nostalgia, nos dias que não viriam, e achar, com uma distância de estrelas, que em breve também seria, mais uma vez, primavera. Gostar da vida, das pessoas, de amar, era como respirar debaixo de água, e toda a vida era apenas o que se partilhava sem maldade.

Hoje no entanto tudo tem a complacência de um entardecer a insinuar um eco ausente, de dever ter entendido melhor o contexto perene das palavras. E vieram morar em cada um de nós (dos que passaram e dos que permanecem) novas pessoas que já não se conhecem, que no espeljho já não reconhecemos, que eclipsaram qualquer tradução coerente dos seus passados com uma recusa inexpugnável.

Porque depois de tudo prometido e tudo quebrado, é fácil a negação plausível das profundidades que atingimos e há afinal um arrependimento.

No fundo, todos os anos são promessas não cumpridas daquilo que gostávamos encontrar amanhã na transparência que nos fizesse aceitar as coisas, e ela surgiu, em que pudessemos desmentir os contratempos, largar a pele e fazer de novo.

Contudo, a cada ano que passa, creio que esse sentimento só irá emergir quando a dor já dorma no meu colo como um animal de companhia. Sim, o que queremos tão pouco é aquilo que precisamos. O remédio para a dor foi a própria dor. E agora a sua ausência até é estranha. Afinal todos falam de liberdade, mas até esta pode ser uma prisão se nada nos dissolve além das abruptas margens dos sentidos...

Ultimamente tudo teve o seu golpe de estranheza como se não andasse num mundo real e objectivo. Apesar de tudo acordar é sempre bom quando a chuva me faz companhia, a cair de propósito e a deixar-me ancorar em si a breve errância matinal. E já não fico tão à prova de sentimentos.

Hoje e apenas hoje: falo!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Extra


Legenda do cartoon:

Fua e Jenny, as lésbicas viajantes no tempo, resgatam Moisés do rio.“Certo,” diz Jenny, “esta religião vai sofrer algumas mudanças”.

E entretanto, a minha já foi alvo de mudança... depois de muito esforço e de uma noite entre reunião e montagem, está patente no Monumental (Saldanha) a partir de hoje e até fim de Janeiro de 2009 uma nova exposição minha.

Não apreçam... é apenas mais do mesmo!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Vivências 63


Escrever sobre Natal... que coisa mais sem jeito e sem maneira...

Palavras para quê??? Mas depois... e eu, já se sabe, tenho sempre um depois... pensei, pensei e: correcto! Palavras mas com conteúdo. Sorri interiormente e dei-me conta da redundância, ainda assim... Ocorreu-me que talvez haja mais mensagem no subtil do silêncio inclinado de um não-dito, como no branco que fica do papel em que se escreve, do que num texto incompletamente cogitado e vago de uma ideia.

Há demasiada informação erudida até no acto de pensar um pensamento ou de sentir um sentimento... em mim, as palavras são por vezes barragens que irrompem sem mais nem porquê. Gasta-mo-las por acharmos que são nossas e crermos que, numa dada altura, foram nossa propriedade... mentira: outros já falaram, outros já sentiram... não somos originais. Nos dias que correm, creio-as imperfeitas, e muitas foram as vezes que sacrifiquei o conceito inenarrável tentando exprimir algo.

Para quem não sabe escrever e teve um dia, problemas na expressão, como acontece comigo, este é um constante dilema de perfeccionismo, uma faca de dois gumes: se por um lado a linguagem surge pela necessidade de comunicação, ao mesmo tempo acaba por subverter essa fuga da abstracção. E há todo um universo de subjectividade até só num "sim", num "pois" ou num "fui para casa às cinco da tarde" que a própria linguagem ás vezes me parece mais um muro de opacidade a rodear a totalidade suspensa das minhas intenções, do que o canal necessário para as verbalizar.

Parece-me (mas apenas de há pouco tempo para cá) que há uma especificidade progressiva nesta história da linguagem, uma necessidade de condensar as aptidões de inteligência e habilidade para dar num crescendo de manifestação instantânea do potencial, na amplificação máxima do indivíduo, ou na subdivisão em "existências" individuais, neste último caso, de modo a não ter que tratar algo no seu uníssono de visões e, à boa maneira do "divide and conquer", tratar cada uma de uma forma mais inteira..

Mas não sei, não acho que transformar uma imagem num puzzle e observar cada peça individual e minuciosamente seja a premissa necessária. No fundo depois dessa desconstrução e reconstrução, a imagem que surge é a de nós mesmos a montar o tal puzzle, desfigurando a suposta identidade a descobrir e manifestar num caleidoscópio interminável de "eus".

Acho que hoje, porque não sei o que escrever ou apenas porque não me ocorre assunto, que prefiro o traço imperfeito, o risco calculado... E pensando bem até há algo no rigor que não me seduz, talvez uma ausência de ansiedade, uma normalidade não desejada...

Sempre haverá naufrágios no que dizemos e fazemos e acabam por ser também um ingrediente essencial na matéria invisível do poema vivido. Nessa aceitação serena (não resignação) do desconhecido, do que não se controla, é que talvez se forme o túnel de luz por onde podemos levar uma vida, ainda que não exacta no seu traçado, plena nos seus significados...

Por isso: hoje, calo-me!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Imaginário XXXIII

- Acho que ele endoidou de vez - conseguiu ela dizer entre soluços a quem falava ao telefone.

Ah... endoidei, ela nem sabe o que diz, não podia estar a pensar com mais clareza.

- Desculpa, não consigo conter, não consigo falar - era o que do outro lado se ouvia a custo, entre soluços e longos períodos de silêncio. E lá vinham mais soluços e mais silêncios a cada vez que do outro lado alguém dizia calma, vou aí ter contigo, vem ter comigo.

E ele ria, ria que nem um perdido como se alguém lhe tivesse contado a mais hilariante anedota. Conseguia até lembrar-se da história daquele inglês que tinha morrido de tanto rir a ver uma série de televisão e seria uma pena - pensou - se morresse assim, logo hoje. Seria no mínimo irónico, mas é assim que a vida é, irónica.

- Ele só pode ter enlouquecido - saía por entre mais um soluço - ele... ele vem aí...

E ele pegou no telefone e tomou conta da conversa. Que ele (aquele que estava do outro lado da linha) tinha que ir lá ter a casa. Ele (o que supostamente tinha endoidecido) queria falar com eles (ela e ele que estava ainda do outro lado).
- Vá lá, depacha-te, anda que eu não tenho tempo a perder - disse ao desligar sem dar hipótese de resposta.

E ria, ria que nem um doido enquanto cantarolava Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida, hoje é o primeiro dia do resto da minha vida.
E ela chorava. Não conseguia controlar os soluços que lhe arrebatavam a respiração e a deixavam sem fôlego, cansada, estoirada e com uma ainda mais incontrolável vontade de chorar.

Enquanto ela se prostrava e balançava que nem uma louca lavada em lágrimas numa ladainha de choro irritante ele cantarolava, ria e ia fazendo as malas.

- Vá lá querida, não fiques assim. A sério!, pensa bem, pensa, esquece as penas, esquece tudo e pensa. Isto foi a melhor notícia que tive em anos. Que tivemos. Todos: os três. Vá, canta comigo, hoje é o primeiro dia do resto da minha vida...

E seguia a cantarolar num riso de felicidade que passava o limiar do infantil para o histérico.

- Como podes dizer isso - gritou ela tantas vezes até ficar rouca - como? E alternava o choro, a ladainha e os gritos que já nem se ouviam por não ter voz.

- Eu não endoideci, aliás, devo dizer-te que estou mais lúcido que nunca, louco andava eu feito zombie na vida à espera da morte. Vivo estou eu agora. E se rio é porque vivo.

Entretanto a campaínha toca. Ele vai abrir a porta enquanto lhe diz, carinhosamente, para ela se compôr e não ser dramática.

- Entra e senta-te, vê lá se me ajudas a compô-la que está para aí numa crise de choro que até parece que morreu alguém - e ditas as palavras, que ele próprio ao dizer ouvira, ria ainda mais e mais descontroladamente - Ai que morro de tanto rir - e ria ainda mais.

Ele (o que acabava de chegar) nem sabe por onde começar nem o que pensar. A casa sempre antes tão direitinha num reboliço. Roupas, papeis, livros pelo chão.

- Entra lá, não temos tempo a perder, não te mostro a casa porque sei que já a conheces mas antes que também tu me aches louco deixa-me dizer-te que não te vou matar nem nada que se pareça. Bebes alguma coisa? Um whisky? Cerveja? Chá? Acompanha-me num whisky velho, faz-me o jeitinho, afinal de contas já partilhámos outras coisas - e dito isto voltava a rir como se tivesse dito a piada mais hilariante do mundo. Ai que não posso rir tanto, ainda morro - e voltava a rir da mesma piada que não se cansava de fazer.

Ela soluçava no chão, já em soluços baixinhos, cansados, os olhos inchados, o rímel que esborratava a face, o desespero de quem já nem procurava um lenço para enxugar as lágrimas. Ele (o que acabava de entrar) baixou-se para a abraçar e nesse instante ele (o que ria) diz-lhe em tom sério e sem rir:

- Vou-me embora. (E dito isto ela rompia de novo em lágrimas exaustas, tantas que lhe ardiam os olhos e a cara, tantas lágrimas que já chorava em seco) Vou-me embora, sei de tudo. E o que interessa aqui é que se durante anos fui corno e até me importava mas sempre esperei que ela mo dissesse, hoje não me importo e até agradeço. Agradeço, sim. Sabes, numa questão de segundos tudo se tornou relativo. Com a aproximação da morte tudo se torna relativo, mas (sussurrou ao ouvido dele, o que acabava de chegar) cada um tem a sua hora e só nessa hora percebe a relatividade. E a minha chegou. E sinceramente? Não me importo. Não me importo e estou felicíssimo, creio que vou viver mais estes dias que me restam do que vivi os mais de 40 anos até aqui.
Estava preocupado com ela, sabes, recebeu mal a notícia. Creio que para ela tudo seria imutável: eu cá em casa, tu no hotel ou aqui ou onde quer que fosse e assim seria para sempre. Mas as coisas mudam. Não quero que ela fique só. Nem quero que ela tenha pena de mim, nem tu sequer.

Bebia mais um gole de whisky.

Não é pena que quero, quero que entendam que não ensandeci, apenas tomei consciência naquele minuto do que queria, e o que quero é sair daqui, desta vida - e nisto ria de novo. Sabes, isto entretanto torna-se quase ridículo, porque "vida" e "morte" tomam outros sentidos para mim agora, mas não para vocês. Vá lá, não me olhes com essa cara de espanto. Peço-te que cuides dela. Que venhas cá para casa. Podem vender esta e comprar a vossa, tanto me faz, desde que fiques com ela. Tu e eu somos os pilares da vida dela, eu sei, e por isso nunca me intrometi entre vocês, mesmo sendo o marido, do mesmo modo que - e ria de novo à gargalhada - nunca te meteste entre nós, se é que isso foi possível, nunca te meteste entre nós porque eu não te trouxe e porque não forçaste. Mas - e bebia mais um gole - isto tudo para te dizer que vens para cá. Hoje.

Beijando-a na testa com um imenso carinho saiu de casa a cantarolar hoje é o primeiro dia do resto da minha vida e já não a ouviu dizer sumidamente amparada nos braços do outro o amo-te, não te quero perder, não morras, não estou preparada para te perder para sempre que ela conseguiu dizer antes de desfalacer.

E saiu feliz porque finalmente ia viver nos poucos dias que lhe restavam de vida.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Vivências 62


Aqui o estaminé está um desassossego... Em parte, claro está, devido à minha pessoa, outra parte devido às loucas das coleguinhas, outra ainda devido à novidade da forma de trabalhar e, uma última mas não menos importante devido aos putos que por aqui são mais do que as mães e me fazem pensar, precisamente se quero ser mãe... Já sei é que também não posso pensar muito senão dá disparate e qualquer dia...

A minha parte é a de sempre... Meto-me onde não devo e depois dou-me mal... Quis conhecer as minhas colegas, saber das suas histórias de vida, dos seus gostos e contra-gostos... Uma a uma foram-me contando excertos das suas vidas, vivências e falta dela. Partilharam-se gostos musicais, de leitura e tive o "azar" de dar um "conselho de leitura" e musica a uma delas que dizia que gostava de ler algo diferente do que tem lido... Na minha boa fé lá lhe disse para ler o "Livro do Desassossego" do Bernardo Soares (aka Fernando Pessoa) e que aquilo que estava a ouvir no computador tinha sacado da net no dia anterior (era "Lakmé" do Delibes, aka Clément Philibert Léo)...

O que eu não esperava é que a coisa a afectasse tanto, ontem chega-me cá e começa: "Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos - a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo. Todos estes meios tons da inconsciência da alma criam em nós uma paisagem dolorida, um eterno sol-pôr do que somos...O sentirmo-nos é então um campo deserto a escurecer, triste de juncos ao pé de um rio sem barcos, negrejando claramente entre margens afastadas." Assim, sem olhar para o livro sem nada... eu, a da brilhante ideia tive de ir confirmar se tal excerto seria assim ou não... Era mesmo! Pensei: Mau, mau Maria! Então mas agora isto vai ser assim todos os dias????? Resposta pronta no gatilho que me desarmou: É das coisas mais bem escritas que alguma vez li... "Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou." por fim, leio algo de jeito!".

Olhei para ela de soslaio e afastei-me já amaldiçoando a ideia (idiota!) que tive. Resmunguei mais uns 5 minutos e pedi-lhe que não me chateasse mais o cabeção com coisas do género porque tinha que trabalhar e os miúdos já estavam a olhar para ela... Agradeceu e disse-me que falávamos então ao almoço...

Pisguei-me com toda a velocidade na minha hora de almoço (como aliás faço sempre) e ao chegar, tive logo uma das outras colegas a dizer-me: "Bela merda! Agora anda-me a recitar livros e a dizer que chora sempre que ouve um dueto qualquer de flores não sei do quê!. Ainda agora chegaste e já andas a estragar-nos a vida... Ai que ainda te dou uma caxaporra nessa cabeça!". Coleguinha nada violenta na qual, não reconheço de todo, as tais raízes alentejanas que diz ter... Calei-me encolhendo os ombros e suspirando... Hoje aturo-a eu...

Entretanto os putos quando entram aqui lá vão gozando com a Callas e com os Depeche Mode... não sabem quem foram... nem uma nem outros... E como o feitiço vira-se sempre contra o feiticeiro, dizem entre dentes e sorrisos malandros: Freak de musica!

Mas em confessionário um ou outro já admitiu que esta musica é: "Muito calminha... pena é ser tão triste." ... Ouvia-se "Madame Butterfly"...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Não sei quando foi que olhar para uma folha em branco passou a intimidar-me.

De repente chego aqui, imaginando que me sento com vocês à mesa não tenho vontade de falar, só de ouvir, e o que sinto é que vocês querem ouvir-me a mim e estão aí ansiosos de saber o que vou dizer e eu que não me apetece falar, só estar.

E constrange-me a sensação de vos ver de olhos postos em mim e eu que olho para este pedaço vazio por escrever, virgem, puro, intacto, e eu sem palavras, sem as palavras que queria ter, sem palavras para vos dizer, sem voz.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Vivências 61


É com extrema contentação (NOT!) e estranheza que me vejo a escrever só, num blog de 6... é bem possível que aqui o estaminé tenha sido acometido pelo mesmo vírus marado que, segundo dizem, atingiu o Alberto João há alguns anos e mais recentemente, todo um país: ele são dirigentes partidários, ele são os professores, ele são os alunos, nada lhe escapa... e a coisa teima em alastrar senão, verifiquem a situação da Grécia... By the way, alguém me sabe explicar porque raio tudo começou???? Mataram um estudante e agora há revolução pela certa mas, antes, antes disso, porque raio se revoltaram os putos????

Bem, vou perguntar ao Dr. House e venho já...

E pronto... apenas mais questões, alguém puder ajudar...

1- Mas porque raio está o PSD preocupado com o acolhimento de prisioneiros de Guantánamo? Isso já não é História????

2- Como é que o Manel O. chega aos 100 anos se a Ana O. nunca passou dos 40? Não era suposto haver aqui uma parte genética que fosse boa para todos os familiares????

3- O que interessa ao português que a Liga Portuguesa tenha os jogadores mais baixos da Europa? Não somos todos "portuguese baixote people"????

4- E será que os portugueses não sabem que perderam poder de compra entre 2005 e 2007 relativamente à média da União Europeia e que Portugal surge na cauda da lista dos 15 países da Zona Euro? Ou lemos todos o Ensaio sobre a Cegueira e neste momento além de cegos somos surdos, parvos e estúpidos???? E já agora, por uma questão geográfica, porque é que somos sempre a cauda de algo e nunca a cabeça???? E somos a cauda, onde está a cabeça???? (A Europa começa a parecer-me um pouco deficiente... ou caduca... ou com Alzeihmer...ou...).

Bem tou perdida... como sempre... Se puderem arranjem-me uma bussula, um quadrante, um mapa das estrelas... Many thanks!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Vivências 60


Nota introdutória: há uns anos atrás, em 2003, para ser mais precisa, escrevi um Manifesto Anti-cherne, vulgo, Durão Barroso, baseado num outro Manifesto, escrito por Almada Negreiros (ainda mais antigo). Na altura tínhamos um governo PSD, hoje temos um PS... espantei-me o quanto actual continua a estar. Por isso, fica aqui a reprodução do referido Manifesto... é caso para dizer: Vira o disco e toca o mesmo!


BASTA PUM BASTA


Diz quem sabe fazer contas de somar que faz hoje um ano desde que o dito Governo laranja tomou posse... Como se este já não fosse um país desgraçado o suficiente e o fado das nossas gentes bastante frustrante, ainda nos calham estes lideres que chumbam na disciplina de liderança à pelo menos um ano! Morram os Pseudo-lideres morram PIM.

Numa nação arrasada pelo servilismo ao produto estrangeiro, que vive na realidade de ser um país de turismo, com uma constante população que se verga ao subsídio mínimo garantido por um lado, e com uma juventude formada sem emprego por outro, e em que agora, até já os frangos não se podem comer... Vemo-nos cada vez mais, confinados a levar com o “Cherne”. Que felicidade, que felicidade! Morram os Peixes morram PAM.

Faz um ano que somos governados por um Governo de Dantas, vendidos, charlatães, indignos e cegos que nadam num mar poluído de "lobbys" e amigalhaços! Morram os Dantas morram PUM.

Um Governo que sofre de uma bulimia mental nervosa compulsiva não pode ser respeitado. Um Governo que sofre de uma verborreia descomedida de ataque permanente aos bolsos da classe média, não pode permanecer em funções. Morram os Dantas morram PIM, PAM, PUM!

Um Governo que se nega a governar e atira areia aos olhos de um povo dando-lhes pão e circo não é um governo, é uma coisa. Pesca tanto de governar que até oferece território açoriano aos estrangeiros. Um Governo que se vende ao tal do Dantas americano sem ao menos ver que é assim que o suposto “amigo” leva avante a fragmentação da unidade europeia, não é um governo é uma amalgama de gente histérica e triste que sofre de falta de visão e, muito provavelmente, de tricotilomania tentando a todo o custo esconde-lo. Basta Pim Basta!

Este Dantas português e os seus fracos seguidores estão em funções à um ano e parece que já fez um século. Dão-nos uma política frouxa mascarada de neofascismo do quero, posso e mando. Não têm noções básicas de democracia e por isso não sabem quem é o Presidente, nem tão pouco do lema “do povo para o povo” porque nem lhe pedem a opinião. Promovem o zero, a impotência e a indecência. Irritam o cidadão inteligente, ofendem o povo lusitano e ainda assim, acham que sabem governar! Morra o Dantas e seus ministros Morram Pim!

Acredito que o Dantas saiba o que é finança, solidariedade, saúde, educação, agricultura, economia, ambiente, defesa nacional, ciência, cultura, justiça, negócios estrangeiros e administração do território – isto é fácil, se o Dantas tiver em casa dicionário para consultar. Saberá tudo este Dantas e creio, que pouco faltará para também este afirmar: “Nunca tenho duvidas e raramente me engano!” Saberá tudo menos governar que é a única coisa que o indigente faz! Morra o Dantas e o seu séquito de ministros Morram Pim!

Portugal que com todos estes ministros e coisas que jandas, continua a merecer o titulo de “(...) país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseiado!”


MORRA O CHERNE MORRA Pim!

sábado, 29 de novembro de 2008

Excerto de um dia atípico da vida dos Thunder's

Bem sei que é sábado e dia de sushi, mas o tempo não dá para tudo e apesar de o fim-de-semana ser dos prolongados e apesar de ter o esboço de uma história (mais uma das minhas secas) na cabeça não vai dar para desenvolver.

Então falo daquilo que também são histórias mas das vividas a sério por nós, não das que invento.

Levantámo-nos a uma hora agradável para um sábado. Tínhamos umas compras muito simples para fazer (na verdade o que nos levava ao super seriam iogurtes para a avó). Tomámos o pequano almoço e saímos para deixar o Pootchie com ela.
Tive a "brilhante" ideia de me enfiar no Cascaishopping. Vá lá, à hora que chegámos ainda havia um lugarito no parque descoberto.

Compras de Natal. A maioria estão despachadas. De cada vez que saímos de um sítio o número de pessoas nos corredores parecia ter aumentado.

Continuo a achar "fantástico" as famílias enfiarem-se em peso no centro comercial ao fim-de-semana. Pai, mãe, avós que andam lentos à brava, carrinhos de bebés que ocupam os corredores inteiros e mais: pessoas que entram com os carrinhos de bebés dentro das loljas tornando a circulação extremamente difícil. Crianças que acabam por ficar rabujentas e pais que acabam por ficar sem saber o que lhes fazer quando seria tão simples dividirem-se entre si e um ficaria em casa enquanto outro iria fazer compras.

Há também as típicas pessoas que se esquecem com certeza que estão num local público e passeiam-se como se mais ninguém lá andasse. Param onde lhes apetece nem que isso signifique entupirem o corredor inteiro porque a avó tem uma malha nas meias e o neto não pára quieto e dali a pouco apanha não tarda e o bebé entretanto acordou e põe-se a chorar e o pai vai abanar o carrinho e a mãe não sabe onde está o telemóvel e a filha adolescente está ali com ar de quem mais lhe apetecia estar era com a amiga a ver páginas do Hi5 e o melhor é mesmo ficarem ali todos porque a tia finalmente estacionou e vai ali ter com eles se eles não esperam nunca mais se encontram.

Há aqueles espécimens que eu também gosto (sim, gosto, de ver longe) que têm o marido ou o filho ou a mulher ou quem seja no último lugar de uma fila de 50 pessoas para ir buscar um hamburguer mas já estão a reservar mesa para 10 pessoas que entretanto "limparam" pondo os 4 tabuleiros cheios de restos na mesa ao lado para quem vier a seguir que limpe. As outras que andem de tabuleiro na mão a procurar um sítio, azarito.

Ah, também gosto das senhoras na idade da parvalheira que a menopausa dá, aquelas que acham que como já pariram e já lhes secou a fertilidade são donas do mundo (malditas descompensações hormonais) que mesmo mostrando a senha para o bacalhau e mesmo pedindo educadamente para se desviarem porque a minha vez está a chegar olham como se eu tivesse acabado de sair da creche e ainda gozam. Se calhar devo mesmo, talvez elas não pedissem e se impusessem. Bem, pensando bem foi o que elas fizeram. Cascais? Tiazocas? Benzocas? Na.. de bem não tiveram nada a não ser a arrogância.

Bem, e agora vou arranjar o frango para o wok de amanhã e fazer a canjinha. Natal é quando o homem quer excepto nas grandes metrópoles em que Natal é dia 25 de Dezembro e já é muito bom.

Lamento pelas pessoas que vão fazer compras de Natal que não têm a mínima noção do que ele é.

Talvez seja por isso que eu detesto tanto o Natal.

Ahh! E por falar em detestar. Este ano não se vai fazer árvore, não vamos estar cá e não vamos ter a trabalheira, não nos apetece. Falava no entanto com um colega que dizia que no Natal não dispensava a árvore e o presépio. Achei de uma incongurência enorme.
O paganismo e o cristianismo ali juntos, lado a lado. Na minha opinião as pessoas deveriam escolher se querem festejar o solstíco de Inverno ou o nascimento de Cristo.
É que vejamos, são estas as pessoas que criticam em massa os outros (o critianismo deveria ser uma religião de aceitação e amor ao próximo, digo eu que sou agóstica), que se benzem perante ideias "do demo", que defendem as fogueiras onde se queimavam as bruxas e no fim ali está ele, o símbolo pagão a lembrar como foi que a "Igreja" se apoderou das crenças de todos e os forçou a amar a Cristo mesmo ao lado do símbolo do berço do menino Jesus.

Eu acho incoerente mas aceito que me digam que a árvore e o presépio sejam o símbolo máximo da união entre todos. São pontos de vista. Mas se a abertura é assim tão grande que não seja apenas em Dezembro, afinal Natal é quando o homem quer.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Vivências 59


Para a semana vou ser aquela rapariguinha ali do meio à direita...
Lindo... o que eu sempre desejei ser na vida: uma mulher do fim do século XIX...
A ver vamos!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Experiência 28


Durante muito tempo tentei não tirar férias e trabalhar que nem um camelo... Era um objectivo... um alvo... um fim a atingir... um propósito... um intuito...
Uma maluquice... uma avaria... a extinção de um dos lobos cerebrais... sei lá...
Hoje cedi e disse: Está bem! Vou-me! Até ao meu regresso!

sábado, 22 de novembro de 2008

(A importância de) Sentir na pele

Lembrei-me há pouco que quando era miúda (e não serei eternamente uma miúda? ainda que uma miúda a encarquilhar, a descair e a esbranquiçar?) me perguntava muitas vezes o que veria o meu pai, que usava óculos permanentemente e sempre que lhe pegávamos nos óculos ele dizia rispidamente "dá-me cá isso que eu não vejo nada sem eles" como se algo de muito mau lhe pudesse acontecer, um tom de voz que era um misto de receio e de ordem.

O meu pai era o único adulto que não era velho que eu conhecia que usava óculos sempre e a toda a hora. Nem os adultos velhos os usavam 24/7 e nem os adultos velhos ficavam tão irritados se pegássemos nas "oculetas" deles.

O meu pai era o único que ficava todo abespinhado.

Um dia perguntei-lhe se ele ficava cego se não os tivesse. Na minha ideia pôr os óculos seria como acender uma luz e tirá-los seria como apagá-la. E por isso nunca ele poderia ficar sem eles, senão passava a ver tudo muito escuro.
Ele respondeu que não ficava cego mas que não via nada. E eu não percebi nada do que ele me disse. Mas ele era crescido e eu não e devia ser uma daquelas coisas que só os crescidos é que sabem.

Um dia, tinha eu 13 anos, comecei a usar óculos. Coisa pouca, mas precisava. E lá andava eu toda contente com os meus óculos novos. Ao início tudo parecia igual com a excepção de ter uns vidros à frente dos olhos.

Hoje, 20 anos depois, ao olhar para o relógio digital do quarto lembrei-me da pergunta que fiz ao meu pai teria eu os meus 4 ou 5 anos. Ia jurar que até ouvi a minha voz.

E lembrei-me de ele ter respondido que não ficava cego mas que não via nada.
Porque eu não sou cega e macacos me mordam se eu não via nada a não ser um esborratado colorido disforme.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Vivências 58


"Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. (...)

A cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há que ser instruído, para encher com coisas do espírito as longas noites do coração (...)....

Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjôo. (...) Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, "a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego".

Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia."

Machado de Assis, Vae soli: "Gentil viúva...", 1892

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Experiência 27


O melhor da solidão é a sensação de ela nunca acabar que nos envolve como um abraço que vem de antes do tempo, mas que paira exacto no instante. E igualmente a sensação de nos podermos expandir interminavelmente como uma nave decidida a perder a rota para encontrá-la, sabendo que ter rota nenhuma é o caminho autêntico para tudo, desde que se tenha um gosto pirata no olhar, na boca, em todos o sentidos - um gosto conquistador de quem venceu o medo em sentido lato e viaja junto dele na pura expectativa de quem consegue a cada nova inspiração a maravilha.
A experiência do satori assim torna-se contínua e precisa, e tão natural que nem se dá por isso e por ser o estado natural do espírito que igualiza a dor e a alegria, o ganho e a perda, o inferno e o paraíso, nele não há rejeição nem aceitação de coisa alguma e assim o homem torna-se nuvem e passa com uma leveza de pássaro sem oposição a coisa alguma.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Extra


O Marco tinha uns olhos azuis profundos e francos. Um sorriso agradável e sincero. Era um portento de generosidade como vi em poucas pessoas.

O Marco teve uma uma vida conturbada. Chegou até mim num dia de chuva: cansado, dorido, só.

O Marco tornou-se meu utente. Durante meses partilhou comigo a sua vida. Mais tarde a sua alma e, no fim, os seus medos.

Nunca chegou a saber quais eram os meus. Tínhamos uma relação profissional e as coisas ficaram assim.

Saiu da Instituição onde eu trabalhava por razões que nem ele, nem eu concordámos mas que o meu superior achou serem as melhores.

Ele nunca chegou a saber a quantidade de discussões que essa saída gerou entre mim e a minha chefia.

Creio que nunca questionou que foi graças a essas constantes divergências (sobre ele e outros casos) que mais tarde, também eu saí da Instituição e o senti como alivio.

Telefonava-me muitas vezes. Umas apenas para partilhar o dia, outras para me pedir a opinião e outras ainda, para me pedir orientação.

Nunca chegou a ter conhecimento que muitas vezes eu não partilhava o meu dia com ninguém, que eu não tinha quem me desse uma opinião e, acima de tudo me proporcionasse uma orientação.

O Marco tinha uma doença da qual ele sabia que nunca iria recuperar, da qual ele não falava quando tinha uma nova namorada e, sobretudo, a qual ele tentava deixar cair no esquecimento de si próprio.

Foi uma doença "ganha" nos excessos de uma vida que na altura ele tentava deixar para trás.

O Marco morreu. Deu entrada no Bloco operatório e disse o médico: "Já não havia nada a fazer!"

No momento em que a família me deu a noticia estava frio, chovia lá fora e eu por momentos senti que o mundo parava ali de alguma forma...

Dei-me conta das discussões e da futilidade de algumas delas. Dei-me conta das frustrações e da inutilidade de muitas delas. Dei-me conta da quantidade de energia gasta em alguns casos/pessoas e do quanto improfícuo foram na maioria delas.

desnecessária,
escusada,
sem préstimo,
incapaz,

inábil,
frívola,
vão,
leviana...

A vida por vezes É isto! E outras vezes a lista continua...

Cheguei assim, de forma abrupta, ao fim da minha opção profissional...

Há que saber quando já não aguentamos mais, quando já não conseguimos fazer mais... Os homens/mulheres não se medem aos palmos mas, por vezes, a humanidade e o que nos resta dela: sim!

sábado, 15 de novembro de 2008

Era uma vez um ancião

Mesmo mesmo no meio do universo havia um mundo. E mesmo mesmo mesmo no meio do mundo havia uma floresta. E mesmo mesmo no meio da floresta, mesmo mesmo lá no meio, havia uma pequena aldeia. Tão pequena que já só tinha um casebre, um poço e, mesmo mesmo no meio, um pelourinho.

Essa aldeia tão pequena tinha apenas um habitante, um ancião que ninguém sabe que idade tinha porque ninguém sabia que ele existia, assim como ninguém sabia que a aldeia existia.
E o ancião também não sabia porque a última vez que ele falara com alguém já tinha sido há tanto tempo que ele próprio não se lembrava.
Ele também já não tinha noção do tempo que passava, ele só sabia que a seguir à noite vinha o dia e a seguir ao dia vinha a noite e que a seguir ao Verão vinha o Outono e a seguir ao Inverno vinha a Primavera.

O ancião já não ansiava a vinda de ninguém.

Durante muito tempo, que ele não se lembra nem quando nem quanto foi, ele esperou alguém.

Mas agora, passado todo o tempo que passou, o que ele espera é que não venha ninguém. Assim como desejou em tempos ouvir uma voz deseja agora que nenhuma voz se oiça.

Se alguém por lá passasse (que não passa porque ninguém já quer ir aos lugares que faltam descobrir porque acham que estão todos descobertos) ia com certeza ter muita pena do ancião. E se alguém por lá passasse nunca ia compreender como é que o ancião podia ser assim tão rude.
Na verdade ninguém poderia compreender porque todos estão sempre tão habituados e dependentes de estar rodeados de tudo o que é supérfulo que não lhes caberia no entendimento que alguém possa viver assim (E ainda por cima ser feliz, que horror, como é possível!! - quase dá para a ouvir as exclamações), com se "assim" fosse de um modo deplorável.

Por isso o ancião apenas ansiava uma coisa. Poder viver tanto tempo quanto quer que fosse o tempo que lhe restava sem que ninguém ali aparecesse para lhe roubar a paz. Todos os dias abençoava ter sido mais um dia a sozinho (mas não "só", que estar só e estar sozinho são coisas bem diferentes). E todos os dias sentava-se no pelourinho antes de ir para o seu casebre e olhava o céu. E todos os dias pensava no que seria que estava no centro do universo.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Vivências 57

A minha vida tal como ela é, dizem, tem algo de:
Mas eu, acho isso... demasiado:




Verdade ou não... decidi, vivê-la sem ter em conta a opinião dos outros...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Experiência 26


Todas as perguntas que nunca fizeste... todas a respostas que nunca te dei!


“Porque nunca me perguntas nada?”, disse-lhe ela, e ele perguntou a si mesmo por que seria.

“Porque nunca me perguntas nada?”, disse-lhe ela, e ele pensou que o problema não estava nas perguntas mas nas respostas.

“Porque nunca me perguntas nada?”, disse-lhe ela, e ele olhou-a, interrogativamente.


“De que cor é o mar?”, perguntou-lhe ela, e ele fechou os olhos para ver melhor.

“De que cor é o mar?”, perguntou-lhe ela, e ele olhou-a à procura de uma resposta.

“De que cor é o mar?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu-lhe que era da cor do seu olhar.


“Porque estás tão calado?”, perguntou-lhe ela, e ele foi todo ouvidos.

“Porque estás tão calado?”, perguntou-lhe ela, e ele abriu-se num sorriso caloroso.

“Porque estás tão calado?”, perguntou-lhe ela, e ele pensou em responder-lhe com uma pergunta.


“Tens alguma coisa a dizer-me?”, perguntou-lhe ela, e ele soube que as perguntas ainda mal tinham começado.

“Tens alguma coisa a dizer-me?”, perguntou-lhe ela, e ele ficou à espera do que ela tinha para lhe dizer.

“Tens alguma coisa a dizer-me?”, perguntou-lhe ela, e ele disse a si mesmo que só lhe restava negar tudo com veemência.


“O que queres da vida?”, perguntou-lhe ela, e ele disse a si mesmo que lhe bastava estar vivo.

“O que queres da vida?”, perguntou-lhe ela, e ele sentiu de imediato a presença da morte.

“O que queres da vida?”, perguntou-lhe ela, e ele teve vontade de lhe apertar o pescoço.


“O que queres dizer com isso?”, perguntou-lhe ela, e ele arrependeu-se imediatamente de o ter dito.

“O que queres dizer com isso?”, perguntou-lhe ela, e ele disse a si mesmo que o melhor era não acrescentar coisa alguma.

“O que queres dizer com isso?”, perguntou-lhe ela, e ele apressou-se a dizer-lhe que não era nada do que ela estava a pensar.


“És feliz?”, perguntou-lhe ela, e ele pensou nisso pela primeira vez há muito tempo.

“És feliz?”, perguntou-lhe ela, e ele sentiu a dúvida a instalar-se nele.

“És feliz?”, perguntou-lhe ela, e ele amaldiçoou-a por isso.


“Estás a dizer-me a verdade?”, perguntou ela, e ele respondeu para si mesmo que sim, claro, que coisa, estava a dizer a sua verdade.

“Estás a dizer-me a verdade?”, perguntou ela, e ele começou a duvidar de si mesmo.

“Estás a dizer-me a verdade?”, perguntou ela, e ele mentiu-lhe mais uma vez.


“Quanto tempo consegues aguentar sem sexo?”, perguntou-lhe ela, e ele calou bem fundo um sentido “Ainda mais?”.

“Quanto tempo consegues aguentar sem sexo?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu com um cauteloso “depende”.

“Quanto tempo consegues aguentar sem sexo?”, perguntou-lhe ela, e ele disse-lhe com um sorriso que atingira o seu limite.


“Por que me olhas tão intensamente?”, perguntou ela, e ele mergulhou ainda mais dentro de si mesmo.

“Por que me olhas tão intensamente?”, perguntou ela, e ele olhou-a como se ela mesma fosse a pergunta.

“Por que me olhas tão intensamente?”, perguntou ela, e ele despertou finalmente do seu sonhar acordado.


“O que é escrever?”, perguntou-lhe ela, e ele olhou-a intensamente até que ela se viu reflectida no seu olhar.

“O que é escrever?”, perguntou-lhe ela, e ele agarrou numa caneta e escreveu a pergunta na palma da mão esquerda.

“O que é escrever?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu que era isso mesmo, e não disse mais nada.


“Porquê o ser e não o nada?”, perguntou-lhe ela, e ele sentiu em si um profundo abalo metafísico mas fez como se nada fosse.

“Porquê o ser e não o nada?”, perguntou-lhe ela, e ele percebeu que nunca antes tinha sentido em si tanta vontade de ser.

“Porquê o ser e não o nada?”, perguntou-lhe ela, e ele repetiu a pergunta para si mesmo, breves instantes antes de deixar finalmente de ser.


“Por que nunca acreditas em mim?”, perguntou-lhe ela, e ele nem queria acreditar no que ouvia.

“Por que nunca acreditas em mim?”, perguntou-lhe ela, e ele olhou-a nos olhos, ainda com mais desconfiança do que era habitual.

“Por que nunca acreditas em mim?”, perguntou-lhe ela, e ele acreditou nela pela primeira vez.


“Por que te esforças tanto?”, perguntou-lhe ela, mas ele nem a ouviu, tão concentrado estava a tentar agradar-lhe.

“Por que te esforças tanto?”, perguntou-lhe ela, e ele ficou a pensar no exacto sentido da pergunta.

“Por que te esforças tanto?”, perguntou-lhe ela, e durante várias horas ele fez o possível e o impossível para lhe explicar a razão.


“Quem sou eu?”, perguntou-lhe ela, e ele lembrou-se do tempo em que tinha uma resposta simples para essa pergunta.

“Quem sou eu?”, perguntou-lhe ela, e só então ele percebeu que não sabia a resposta.

“Quem sou eu?”, perguntou-lhe ela, ele olhou-a como se a visse pela primeira vez. Só assim lhe poderia verdadeiramente responder.


“É verdade que me trais?”, perguntou-lhe ela, e ele disse a si mesmo que sim, sim, sim, bem podia ficar à espera de uma resposta.

“É verdade que me trais?”, perguntou-lhe ela, e ele calou-se, mas ficou a pensar que até não era uma má idéia.

“É verdade que me trais?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu que não, sem hesitações, sem mesmo pensar. Se havia uma coisa que nunca faria era trair-se a si mesmo.


“Qual é o teu desejo mais profundo?”, perguntou-lhe ela, e ele ficou a pensar se ela tornaria o seu desejo realidade caso ele lhe dissesse qual era.

“Qual é o teu desejo mais profundo?”, perguntou-lhe ela, e ele nada disse: o desejo devia ser profundo e todo ele era superficialidade.

“Qual é o teu desejo mais profundo?”, perguntou-lhe ela, e ele caiu em si à procura de uma resposta e nunca mais voltou.


“É melhor estar vivo ou estar morto?”, perguntou-lhe ela, e ele nem hesitou: disse-lhe que preferia estar morto. Acho que foi isso que lhe salvou a vida.

“É melhor estar vivo ou estar morto?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu que preferia estar vivo. Viveu ainda muitos e muitos anos, tantos que várias foram as vezes que implorou pela morte.

“É melhor estar vivo ou estar morto?”, perguntou-lhe ela, mas ele nem tentou responder. Havia muito que estava completamente morto.


“Serias capaz de prescindir de sexo por amor?”, perguntou-lhe ela, e ele ergueu sobressaltado o olhar dos seus generosos seios e pediu-lhe para repetir a pergunta.

“Serias capaz de prescindir de sexo por amor?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu para si mesmo que sim, sim, sim, mal podia esperar para levá-la para a cama.

“Serias capaz de prescindir de sexo por amor?”, perguntou-lhe ela , e ele respondeu que sim, claro, sem dúvida, o que não faria por amor. Estava há muito habituado a mentir por sexo.


“Por que me amas?”, perguntou-lhe ela, e ele não só não lhe respondeu como fez tudo para esquecer a pergunta. Tinha bastante medo de, caso um dia soubesse a resposta, deixar de a amar.

“Por que me amas?”, perguntou-lhe ela, e ele respondeu-lhe sem hesitar: Porque desconheço a razão! Foi nesse exacto momento que ela começou a amá-lo.

“Por que me amas?”, perguntou-lhe ela, e ele começou a falar-lhe com entusiasmo do último livro que lera. Então ela sorriu de felicidade, pois, tal como ele, também ela não sabia por que o amava.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Depeche Mode - New Life

New life???

Quem sabe?

Pelo menos alguma mudança tem que haver...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vivências 56...


Acordar bem cedo.
Tomar banho.
Colocar uma roupa apresentável e que não pareça que vim ou vou para a tasca ali do lado.
Pintar-me.
Pentear-me e dar um jeito nas sobrancelhas.
Engolir algo liquido.
Sair com tudo certinho dentro da mala.
Ter a certeza do percurso que tenho de fazer: rápido e bem!
Comprar viagens de metro.
Tomar café. Outro.

Chegar a horas ao trabalho.

E saber que depois nos pagam 3,25€ à hora... que deve ter sido isso que gastei só nas viagens de metro...

Há dias em que não se devia sair da cama!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Experiência 25


Há dias em que dizer que me sinto só, parece-me ser palavra desadequada, pobre ou eventualmente, feminina mas, de facto, não há como reter. Não há como impedir, Não há como controlar. Esta dor de alma sobe por mim a uma velocidade estonteante, segue-me como sombra. É mais do que eu, em muitos dias em que eu, sou mais do que os outros.

Não choro. Não porque o macho não chora mas, por vergonha.

Não me queixo. Não porque macho não se queixa mas, por saber que não serei ouvido ou tido em conta.

Não telefono aos amigos. Não porque o macho é orgulhoso mas, porque eles têm os seus problemas e os únicos que vou tendo nem sempre me apetece chateá-los.

Não conto à namorada. Não porque macho não dá parte fraca mas, porque ela tem problemas dela e porque, acima de tudo, tem os seus amigos que tem também de os ouvir.

Não faço relato aos pais. Não porque macho é independente e trata de si próprio, uma vez fora de casa mas, porque normalmente os pais não entendem o que é isso da solidão... Já lá vai tanto tempo que deixamos de ser jovens...

E Hoje, se o digo aqui é apenas por pura incapacidade de manter este ermo mais tempo calado, sem me consumir mais um pouco...

sábado, 1 de novembro de 2008

Resumindo muito...

Um dia (e ninguém sabe explicar muito bem como apesar de haver inúmeras teorias) o Universo formou-se.

O Universo que ninguém sabe explicar muito bem o que é mas sabe-se intuitivamente - porque a palavra impõe respeito, tomara que o houvesse mesmo - que a sua vastidão vai além do que o próprio nome que lhe deram dá a entender.

O Universo formou-se, aquelas partículas todas criaram afinidades umas com as outras e resumindo a história, cá estamos nós, seres vivos e seres não vivos. Seres. Não somos mais que uma afinidade de partículas.

Resumindo muito outra vez, depois de toda a evolução (para os evolucionistas) ou de toda a criação (para os criacionistas) o homem (sim, com letra minúscula) - homens e mulheres - ganhou uma caracteristica: consciência do que o rodeia. Adjectivação. Tenha sido pelo ganho de superfície cerebral às custas de cada vez mais sulcos (evolucionistas) ou tenha sido graças a uma trinca na maçã (criacionistas) o certo é que o mundo que o rodeia começou por ser aproveitado. Depois observado. Depois esmiuçado. Depois esventrado. Hoje é escravizado.

O substracto que nos criou (seja por uma mutação na agregação de partículas - evolucionistas - ou porque da lama se fez a costela de Adão - criacionistas), que nos sustentou, que nos prendou com recursos, que fez do homem o Homem (desta vez com letra grande) foi, em dois escassos séculos de uma história tão mais vasta, avidamente esgotado.

Quando o homem saiu do seu núcleo reduzido, motivado seja pelo que quer que tenha sido (crescei e multiplicai-vos - criacionistas - ou procura de comida e paragens calmas onde fosse possível ter alimento e protecção - evolucionistas) ele conheceu novos locais. Fixou-se. Aprendeu as artes da defesa, da agricultura, do pastoreio. Iniciou a perigosa busca do saber. Perigosa porque há linhas que não se podem atravessar. Mas sempre e ao longo dos séculos o homem foi timidamente aproximando-se cada vez mais dessa linha.

O homem, achando que está cada vez mais próximo da sabedoria absoluta, auto-entitula-se "Homem", homem todo-poderoso, acima dos seres vivos e não vivos, acima de tudo, acima até do Universo.

A Humanidade, como ela gosta de se chamar a si mesma, não passa hoje de uma enorme organização trituradora onde de um lado coloca pedras, animais, árvores, água, pessoas e do outro obtém dinheiro, dinheiro e até mesmo dinheiro.
A palavra de ordem é seguir em frente sem olhar aos meios para atingir os fins. O que interessa é lá chegar.

Chegar? Onde? Será que alguma vez alguém parou para pensar onde se vai chegar?

O homem nasceu no seu berço, vagueou um pouco por todo o mundo, fixou-se aqui e ali onde para cada grupo havia melhores condições, prosperou, cresceu mais, onde havia pequenos núcleos passou a haver aldeias, organizou-se, dividiu tarefas, especializou-se, aumentou ainda mais, as aldeias deram lugar a vilas, a cidades, hoje em dia são metrópoles que mais parecem países, conquistam-se territórios, separam-se bens. Para quê?

Mais tarde ou mais cedo as grandes metrópoles esgotar-se-ão. Os escravos da era moderna que ainda permanecem nos campos a alimentar as cidades - quais vassalos a alimentar os nobres e reis - mas que ao invés da época medieval em que tinham protecção dos seus senhores estão hoje desprotegidos e inferiores em número, não conseguem já tirar das terras o sustento da suposta Humanidade.

As civilizações estão a entrar em declínio, vítimas de si mesmas.

Chegará o dia em que o colapso será inevitável. Mas ao invés de se dar em períodos longos em que a suposta Humanidade se pode adaptar, não. Desta vez não haverá adaptações. Seremos esmagados por nós mesmos, dizimados pela nossa desmesurada ambição.

E o pior é nunca chegarmos a saber exactamente o que ambicionávamos. Porque deus (deuses), a existirem, não aceitam homens no seu espaço.


Bem-vindos à época catastrófica do "format c:" global. Seja por castigo de Deus (criacionistas) seja por esgotamento dos recursos que nos sustentam (evolucionistas). Não vai sobrar ninguém para contar a história que nunca chegou a ser feita.

Um dia (e ninguém sabe explicar muito bem como apesar de haver inúmeras teorias) o Universo extinguir-se-á.
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Humanidade

do Lat. humanitate s. f.,

o conjunto dos homens;
o género humano;
natureza humana;
clemência;
benevolência;
amor do próximo;
(no pl. ) estudos clássicos.

(http://www.priberam.pt/)

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

...And Justice for All

Do tempo em que os Metallica eram os Metallica...

...e um pensamento que me ocorre neste momento, para quando a justiça para todos...?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Vivências 55


Mentira

do Lat. mentita, sob o influxo de mentir?
s. f.,
afirmação contrária à verdade;
falsidade;
ficção;
ilusão;
juízo errado;
indução em erro;
persuasão falsa.

As tradições éticas e alguns filósofos estão divididas quanto a se uma mentira é alguma situação permissível – Platão disse sim, enquanto Aristóteles, Santo Agostinho e Kant disseram não.
Mentir de uma maneira que piore um conflito em vez de diminuí-lo, ou que se vise tirar proveito deste conflito, é normalmente considerado como algo antiético. Não devemos então mentir? Ou para evitar um mal maior é até requerido mentir-se?

Existem pessoas que afirmam que é com frequência mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa
Grande Mentira dita muitas vezes, do que numa pequena verdade dita apenas uma vez. Esta frase foi proferida pelo Minístro da Propaganda Alemã Joseph Goebbels no Terceiro Reich.
No entanto, durante anos não se matou por Grandes mentiras? E não esses, na sua dimensão, cheios de razão para acometerem os actos mais bárbaros

A capacidade dos hominídeos de mentir é percebida cedo e quase universalmente no desenvolvimento humano e estudos de linguagem com pongídeos. Uma famosa mentira do último grupo foi quando Koko, a gorila, confrontada por seus treinadores depois de uma explosão de raiva no qual ela arrancou uma pia de aço do lugar onde ela estava presa, sinalizou na Língua de Sinais Americana, "o gato fez isso," apontando para seu pequeno gato. Não está claro se isso foi uma piada ou uma tentativa genuína de culpar seu pequeno bicho de estimação.

A psicologia evolucionária está preocupada com a teoria da mente que as pessoas empregam para simular a reação de outra a sua história e determinar se uma mentira será verossímil. O marco mais comumente citado na ascensão disso, o que é conhecido como inteligência maquiavélica, ocorre na idade humana de cerca de quatro anos e meio, quando as crianças começam a ser capazes de mentir de maneira convincente. Antes disso, elas parecem ser incapazes de compreender que todo mundo não tem a mesma visão dos eventos que elas têm – e parecem presumir que há apenas um ponto de vista — o seu próprio — que precisa ser integrado a qualquer história.

Uma razão para que a mentira possa persistir como uma estratégia em ambientes sociais é que não é a comparação dos factos contra alguma noção de verdade, mas em vez disso, a avaliação de se uma traição da confiança aconteceu ou não, que determina a resposta a uma mentira. Trocado por "miúdos" (mas nada de Casa Pia) acabamos por dar por nós a mentir, em apenas duas ocasiões: quando queremos poupar aluém de sofrimento, ou, quando alguém nos falta... à verdade... Estranho não?

E daí...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Experiência 24


Patê II e meio...

Ou deverei dizer: Pató II e meio...

Bem não interessa. Importante é saber que aos poucos, e sem se aperceber disso, o Manel foi perdendo... Personalidade! Sim, aquela do Tarantino: "Dogs have personality and, personalyti, goes a long way!"

As evidências estavam lá mas, nós que nem tontos, nem queríamos acreditar... Já não assistia ao futebol connosco, F1, passou a ser F 3 e qualquer coisa e comentários do género: "Gaija jeitosa é aquela do..." foram-se, sem deixar rasto...

Tornou-se macrobiótico e um pouco mais cinzento ou, verde ou amarelo ou... qualquer coisa vinda de Marte mas, o rude golpe veio no dia em que, em plena camaradagem, todos pedimos ou tinto ou "jolas" e ele pediu: "Queria uma águinha mineral!".

Reparem: não foi nem água, nem um "copanásio de água" ou um bem cheio de mineral... Não! Foi, recordo: "Águinha!"

Desse dia em diante entendemos: o Manel tinha um número de série e estava a colaborar com uma empresa que colocava virús, indiscriminadamente, nos computadores alheios...

Única solução: Pirar-mo-nos todos dali "a ganda" velocidade por um piscar de olhos!

Por fim, para seu e nosso, descanso, o Manel e nós podemos jantar SUSHI na paz... de nós mesmos! IUUPIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII... Vivó Viriato!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Em Fogo 29 - Dias de Chuva


São dias assim, que passam do céu azul para um cinza mais claro, escurecendo à medida do tempo e eu protegido na minha casa a olhar pela janela da sala recordo... o cinza torna-se mais escuro e cai uma gota, depois outra de... inicialmente a um ritmo lento e depois mais rápido, transformando-se numa tempestade em tarde de Inverno ti.
Depois vem o cheiro... aquele cheiro de terra molhada que se infiltra em todo o meu ser... o cheiro do teu corpo nas tardes de Inverno onde nos perdemos um no outro e criamos a nossa própria chuva em gotas de suor, no corpo do outro. Tu olhavas para mim e dizias que gostavas de ser uma gota de chuva para sentir a vertigem da queda e eu sorria.
Os dias frios de Inverno, tornados quentes na tua companhia... eu acendia a lareira e tu deitavas-te no tapete, a chuva a cair lá fora num ritmo cadenciado... olhavas-me nos olhos e dizias que nos dias de chuva é que te sentias tu própria e eu sorria.
Horas passavam e nós rodeados de sonhos por concretizar, de promessas a 2, de beijos roubados e caricias partilhadas... os dias de chuva eram nossos... o nosso refugio e a banda sonora para sentir o meu corpo no teu... não acendiamos luzes, partilhavamos antes o cinza do céu e entendiamos-nos como a nuvem compreende a chuva... tu dizias que a chuva era o teu segredo e eu sorria.
O teu olhar era como um lago... cada vez que te olhava sentia-me como que em águas profundas e a chuva a cair-me na pele... dizia-te que tinhas um olhar profundo, coberto de sonhos e tu inclinavas a cabeça a sorrir.
As pessoas que dizem que os dias de chuva são melancolia não sabem o que nós partilhámos...não entendem o que significou para nós... não percebem que a chuva pode ser partilha, emoção, amor, reflexão, musica... tu pedias sempre que eu te dissesse como me sentia quando estava contigo, eu respondia que era a mesma sensação deliciosa de quando cheirava a terra molhada depois de chover e tu sorrias.
Foi num dia de chuva que me disseste que ias embora... olhei para ti sem entender e perguntei porquê... respondeste que precisavas do Sol e que chuva já não te preenchia... pensei que palavras deveria eu dizer para te contrariar... no entanto, não disse nada e deixei-te ir em busca do teu Sol... sei que, se a chuva for importante para ti, acabas por regressar.
Agora, quando chove, estou na minha sala à janela... vejo as gotas que se formam e penso em ti... será que encontraste o teu Sol? Ou ainda procuras no meio deste Mundo inconstante de afectos alguém que te aqueça o coração? Eu por cá continuo a amar os dias de chuva e o cheiro da terra molhada e espero sempre um dia olhar e ver-te pingar de uma nuvem para mim na forma de uma gota de chuva.
Carpe Diem.

sábado, 25 de outubro de 2008

Imaginariamente real

Há umas manhãs atrás, ao entrar no quintal, um brilho diferente chamou-me a atenção. Do meu lado direito havia qualquer coisa diferente. Podia ser a luz, podia ser o brilho ou podia não ser nada e ser uma mania minha - uma entre tantas e tão importante como outra mania qualquer de quem tem a mania que não tem manias.

Certo certo é que ainda não tinha acordado totalmente. Apesar de já ter passado uma hora desde que o despertador tinha tocado, todas as tarefas matinais rotineiras tinham tido uma precisão meramente maquinal, desde o levantar ao café e cigarro antes de sair de casa. Mas certo certo é que, como eu dizia, ainda não tinha acordado totalmente, coisa que não se devia fazer fora de casa - acordar totalmente - sabe-se lá o que aconteceu pelo caminho!

Mas, dizia eu - que mania de me perder entre pensamentos e acrescentar mais uns pormenores sem importância nenhuma, certo, certo é que ainda não tinha acordado totalmente e vai de ainda estar meia letárgica e achar que era uma patetice mas aquela luz estava diferente, a luz que me chegava pelo canto do olho, não a que me espreitava de frente por trás da esquina da casa.

Claro que me voltei para trás para perceber o que era e juro-vos que o que me salvou foi ter a tensão baixa, que quando dei de caras com ela fiquei logo acelerada e foram-se os restos de apatia que me sobravam da noite mal dormida.

Ao olhar para o sítio de onde vinha aquela luz em brilho fragmentado - perdoem-me a falta de eloquência mas não sei que outra expressão usar - não dou de caras como disse no parágrafo anterior - claro que vocês, bons leitores que são para mim, captaram a ideia na expressão utilizada - por nos ser a ambas fisicamente impossível, fisicamente em dois sentidos, o primeiro porque ela não tem cara e o segundo porque a ter estaria ao nivel da minha pube, mas deparo com o tenebroso, mais que tenebroso - sinistro!, cenário dela lá instalada, e oh! que bem instalada estava ela mesmo no centro daquela trama ardilosamente tecida. Lá estava a dita, velhaca instalada no covil, à espera.

O cenário, podem crer, era medonho. Na teia, enorme acreditem(!!), reluziam ainda as gotas de orvalho que resistiam estoicamente ao sol da manhã e mais firmemente ainda à sede da fera. Espalhadas ao acaso cascas de outrora viris moscas esvoaçantes estavam prisioneiras na teia e nem as sobreviventes se atreviam a reclamar os despojos porque ali estava ela, de olhar triunfante, a dona do covil, a senhora das oito patas. Ela viera, chegara e conquistara o território. Só não ria maleficamente porque as aranhas não riem, muito menos maleficamente, mas que lhe ia assentar muito bem um sorriso maquiavélico, lá isso ia, garanto-vos.

Pois foi nessa manhã que me tornei heroína aos meus próprios olhos - que não o sendo aos olhos de ninguém posso muito bem aos meus ser o que eu quiser e nesse dia asseguro-vos que me tornei fã de mim mesma.

Entrei em casa decidida dos passos a seguir. Tinha a estratégia bem definida mentalmente. O plano devia ser seguido ao pormenor. Não havia espaço para dúvidas ou falhas, a missão era arriscada mas tinha-me sido confiada, logo e justamente a mim, valente cagarola que foge (fugia!!) do mais raquítico aranhiço pateta (por favor não leiam aqui "pátéta"; leiam antes "pâtêta" que as aranhas têm patas e não pernas, logo perneta nunca podia um aranhiço, raquítico ou não, ser). Sem margem para hesitações abri a porta da dispensa. Todos os segundos eram cruciais para o sucesso da operação "morte à aranha tenebrosamente assustadora". Peguei no spray mata-moscas (mas que é que querem? Ainda não fizeram um mata-aranhas!...) e corri para o alpendre.
Respirei fundo. Sem dó nem piedade e muito decidida posicionei-me de frente para ela e sem um adeus sequer, sem misericórdia nenhuma carreguei no spray e fiz sair uma dose, pensava eu letal, de veneno.

Mas querem saber o que aconteceu? Pois a venenosa iniciou a fuga não demonstrando o mínimo sinal de ter sido afectada. Missão abortada? Não!! A saga estava apenas a começar, a corrida contra o tempo, a batalha entre a minha coragem e a veloz fuga da monstra. Eis que ela põe aquelas oito patas a mexer e ala que se faz tarde! desata a correr teia abaixo. Nisto eu volto à carga e despejo-lhe mais spray em cima, desta vez uma quantidade maior. Como resposta a tipa desenovela um fio e começa uma fuga descendente em direcção aos malmequeres do canteiro. Nessa altura percebi que tinha que ser mais rápida que ela se não queria perder a guerra para sempre.
Agarrei a lata com força com as duas mãos e despejei sem interrupção o vapor venenoso até ela dar sinais de estar combalida. Nessa altura não interrompi, claro que não, continuei até ela tombar. E não satisfeita com ela ali, pendurada pelo fio de patas recolhidas, despejei ainda mais. E pelo sim pelo não abanei o arbusto, nunca se sabe se ela estaria a fingir-se de morta e ia esperar que eu me voltasse de costas para me atacar com menos misericórdia do que eu a ataquei a ela.

Por fim estava tudo terminado. Ela jazia ali à espera das 17horas, hora em que viria o meu salvador de aranhas buscá-la e mandá-la para bem longe - para um sítio qualquer onde os meus olhos não chegassem.

Ainda hoje recordo essa manhã com nojo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Vivências 54


As entrevistas de selecção, nesta altura do campeonato, até os ouvidos já me cansam...

São tão "fajutas" como as pessoas e tão enganosas como o mundo económico americano...

E como não me apetece queixar-me mais nem falar de futebol que, por mero acaso, até é coisa que não percebo...

Terminamos hoje por aqui... na boa onda: Ya?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Experiência 23


O Manel é um tipo porreiro, não fora estar casado com a Helena que é uma tipa chata para lá daquilo que qualquer ser humano poderá achar, permissível.

O Manel conheceu, infelizmente, a Helena através de uns amigos em comum que, muito prontamente, e bem estupidamente, lhe foram logo dizendo: "Eh pá, o Manel tu aproveita-me esta que apesar de burra é boa comó milho!".

Na altura avisei logo o Manel: Olha que depois do sexo esgotado, querido, nada a fazer! Se é burra... vais dar-lhe lições de literatura??? Não creio! Vais colocá-la a ler a enciclopédia lá de casa? Não me parece! E depois... pensa... não haverá muito sexo????? E muita filharada???? Ai as noites sem dormir... ai as dores de cabeça quando vier a adolescência... ai, ai...
Rapaz, com tanta miúda por aí, não te deixes "endrominar", escolhe depois, se estiveres uns tempos mais só qual é o problema???????

O Manel, andava desesperado e fez "ouvidos de mercador" - sim, minha gente, de mercador como o de Veneza, não existe o tal de ouvidos de "marcador"... a não ser que andem por aí a escrever coisas malucas nos ouvidos da gentinha "inguinorante"... Bem: "adelante"...
O Manel, nessa noite fez o seu ar mais galante, parvo e tontinho possível para o tal o do "engatanço" da rapariga. Ainda assim, sempre abraçado a mim depois de me ter passado, por entre dentes um: "Vai-me dando dicas."

Porra - pensei eu - ainda se fossem "dikes" mas, enfim, contive magistralmente o meu dique por forma a não transbordar uma "calinada" que arruinasse a noite de uns e outros e mantive o sorriso parvo sempre que o corrigia...

Na verdade, a coisa deve ter corrido bem porque nesse dia foi ele, e não eu ou outro qualquer que, levou a tal da "gaija boa" para casa... Passados 4 anos o inevitável acontecia: casaram!
Ainda não veio ao mundo nenhuma criancinha com ar de parola igual à mãe ou, ar de espantado igual ao pai quando, ainda este era inteligente mas... creio que não deve tardar muito...

To Be Continued... Or not!

sábado, 18 de outubro de 2008

A avó espatifou outra vez a canela.

A outra espatifadela, a que fez há mais de um mês, está lá ainda. Sim, aquela que fez quando tropeçou nas escadas da entrada, bateu com a canela no degrau e agarrou-se à roseira - Ó D. Natália, não tinha sítio melhor para se agarrar? Ai ai ai... - mas já não adianta, nesta idade não aprende, só desaprende - sim, essa, ainda lá está.

A crosta, que já tem mais de 4 semanas, ainda não caiu, está por um fio, digo eu que não sou enfermeira nem médica mas que podia ser não fosse dar-se o caso de não poder ver sangue - e muito bem vou eu que me aguento sem vomitar - e por um fio ficará enquanto quiser que eu não vou arrancar nada, arrancaria se fosse minha mas é dela e a pele dela tem quase 88 anos - filha, já tenho cento e quantos, pergunta ela, tens 87 fazes 88 em Dezembro - mas ela já não sabe que é Outubro, as estações são agora todas iguais - a minha mãezinha é que morreu com cento e quantos tu é que sabes, ah 104 , pois foi , e tanto que ela sofreu na vida.

E a conversa é sempre a mesma e resume-se sempre ao mesmo. A mãe dela que morreu com 104 anos e que toda a vida esteve lá para tratar dela e não está agora, agora que ela tanto precisa da mãe porque está velhinha e a mãe é que devia lá estar para tomar conta dela como esteve toda a vida e não está agora, a mãe que sempre tanto sofreu e sempre a protegeu e agora não protege porque morreu, morreu há 10 anos mas ela já não sabe quanto tempo são 10 anos, podiam ser 10 minutos - a dor, essa, é a mesma.

E a crosta de há mais de um mês lá está. E ainda não caiu e está lá outra. Não, não outra crosta, outra ferida. Mais ou menos 10 cm acima.

Foi ontem de manhã. Quando lá cheguei estava ela ainda de robe. De robe, Não tens frio? Mas ela estava meio atordoada, percebi que estava a comer - a boca cheirava a migas de café, as migas que ela faz com o pão que deixa endurecer com medo que acabe, com receio que nos esqueçamos dela e não lhe levemos pão fresco - come o pão, nós trazemos mais amanhã - mas todos os dias é a mesma coisa, já não vale a pena, nesta altura ela já não aprende, só desaprende e nós temos que ir aos poucos desaprendendo com ela. Não filha, quer dizer, olha... e vi a perna.

Custa sempre olhar e ver a perna dela espatifada. Não sabia se havia de começar por desinfectar, por pôr gelo, pelo quê. Com sangue frio tirei o penso da crosta mais antiga, precisava de ver se estava aberta outra vez. O receio - não sei se da possível imagem da ferida aberta ou se das consequências da ferida ter aberto - remoeu-me o estômago. Não. A crosta lá estava, resistente e forte e bem agarrada. Pus tintura. Pus tintura como te vejo a fazer na outra, disse-me ela com orgulho. Fizeste bem, é assim mesmo, tentava eu disfarçar o estômago ruim.

O procedimento foi o que se repete há um mês. Desinfectar, pôr um cicratizante, cobrir.

Agora vais ficar com gelo na perna, este inchaço tem que desaparecer.

Deixei-a a acabar o pequeno almoço. Uma manta a cobrir os ombros, uma perna esticada e gelo, um olhar meiguinho e um sorriso na cara - sempre e sempre e todos os dias um sorriso. Ela diz que a melhor hora do dia é a da manhã, em que me vê e lhe encho o dia e falo com ela e a faço rir.
No fim a perna dela lá está, espatifada, a perna que já tem 87 e faz 88 anos em Dezembro mas que não sabe que estamos em Outubro porque as estações parecem todas iguais, a pele que já tem 87 anos e faz 88 em Dezembro mas que não sabe que estamos em Outubro porque as estações parecem todas iguais, o corpo que está velhinho e já não cura, só descura, a cabeça que está velhinha e já não aprende, só desaprende.

Porque a esta altura as estações, essas, são todas iguais.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Vivências 53


Continuo na senda da procura de emprego...

E partilhando um pouco do desespero do Coelho de Alice no País das Maravilhas: "No time! Have to hurry!"

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Experiência 22


Tenho tido uns dias complicados e sem dúvida tormentosos...
Tenho tido umas noites sem dormir e sem aparente descanso...

Já não sou quem era... e gostaria de voltar a ser, não me sinto bem na maioria dos locais e gostaria de voltar a sentir...

Está na hora, talvez não de partir mas, pelo menos de reflectir sobre toda uma existência que foi, já não é e quer em grande força, voltar a ser...

Até logo...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Em Fogo 28 - O Clique

Há dias tive uma conversa com uma amiga especial acerca de um fenómeno, para mim de âmbito paranormal, chamado "clique". Agora perguntam vocês, que raio de coisa é isso do "clique"?? Pois bem, trata-se de uma sensação que nos diz se sentimos, ou não, algo mais forte (leia-se paixão, atracção ou amor) por alguém.
Confusos? Se ficaram eu entendo pois não faço a minima ideia do que seja tal fenómeno, contudo, já tive a maravilhosa oportunidade de ouvir uma frase como "Desculpa mas não senti um clique por ti". Quando ouço semelhante coisa só imagino que, para estas pessoas, quando alguém se aproxima delas e sentem o "clique" deve ressoar género sino (mas mais soft) no cérebro ou ficam com alguma musica a tocar na cabeça como por exemplor a "Power of Love" dos Frankie Goes to Hollywood.
Eu acredito tanto nesse fenómeno como no pensamento positivo repetido do livro "O Segredo" da Rhonda Byne (eu bem digo todos os dias que vou ganhar o Euromilhões mas não há meio de sair!!). Acredito em atracção, acredito em conhecimento, acredito num toque, acredito num olhar seguido de diálogo mas, um "clique" instantâneo, para mim não serve.
Eu explico: em minha opinião, o tempo ajuda a que tudo se molde e só um contacto mais estreito com a outra pessoa poderá, ou não, demonstrar que vale a pena continuar ou manter apenas a amizade (um dos luxos cada vez mais raros neste Mundo). Uma pessoa que pareça não ser o nosso género ou não ter nada em comum, numa primeira impressão, possa revelar-se ao longo do tempo o seu contrário ou não... só o conhecimento aprofundado dessa pessoa me pode dizer se vale a pena arriscar mais que a amizade.
Aquelas pessoas que dizem não sentir o "clique" e, com isso desistem de ver mais do que a amizade, fazem-me confusão... no entanto respeito-as. Será que a causa disto reside num Mundo cada vez mais veloz e onde não se pode perder tempo? Um Mundo onde conversar, trocar impressões, dialogar por horas pareça cada vez mais dificil? Um Mundo onde preferimos olhar a aparência em vez de olhar para dentro da pessoa? Um Mundo onde preferimos vir ao "Momento da Verdade" revelar o intimo para ganhar 250 mil euros em vez de falar desses assuntos com quem de direito ou ficar calados de todo?
Eu sou da opinião que devemos arriscar, lutar pelo que vale a pena, sentir sem medo e dar um passo à frente em vez de dois para trás mas, lamento, comigo o "clique" não funciona e ate acho piada a musica dos Frankie Goes to Hollywood (em doses moderadas).
Com "clique", ou sem ele, conversem, conheçam as pessoas que vos rodeiam, tentem saber mais, sejam curiosos e talvez valha a pena o esforço.
Carpe Diem.

sábado, 11 de outubro de 2008

Resumo da semana I

Tenho andado a magicar sobre o que escrever, mais por excesso de temas que por falta deles e ainda não me decidi.

Tinha pensado escrever sobre o fecho do meu Blog que era para não ter nome mas teve de ter, ou sobre o tão falado tema da semana que é o descalabro da economia mundial e de como as pessoas entram em pânico (ainda ontem, no messenger, tive uma pessoa em quase histerismo a dizer-me para levantar dinheiro do BPN porque sabia de fonte segura que ia fechar. Não digo que não seja verdade, mas calma...!) - é caso para preocupações mas vamos lá a aguardar, sim? - e até tinha pensado escrever sobre uma coisa que ontem tinha estado a falar com a minha amiga C. (uma delas, porque quando me pus a pensar nas minhas amigas, as três grandes que tenho, verifiquei que os nomes de todas elas começam por "C".), aquela que geograficamente está menos acessível, e que comentava comigo que seríamos eternamente a geração à rasca.

Bem, sobre o meu blog não tenho afinal muito para dizer. Deixou de me dar prazer.
Não, não foi escrever nele que deixou de me dar prazer... os que me liam atentamente e com o que eu chamo "olhos de ler" conhecem-me o suficiente (de certeza, e se não sabem isso foi porque nunca leram com os tais olhos de ler) para saber que eu não consigo ficar sem escrever. Por muito parvas que as coisas sejam, são as minhas coisas parvas. No fundo o que me deixou de dar prazer foi escrever neste bairro que cada vez tinha uma vizinhança mais invasiva, ao género de num dia não estamos em casa e levam um pezinho de salsa emprestado deixando um bilhete sem agradecimento, nós calarmos porque mais pé menos pé não há crise e quando reparamos foi-se o vaso e nós sem coragem de abrir a boca (Thunder, isto não te faz lembrar dois vasinhos que demos a uns certos jardineiros, pois não??).
A bem dizer isso foi uma das partes que contribuiu para o todo. Esta vizinhança tem o hábito de fazer algo que tenho as minhas reservas que é justificar-se por tudo e por nada. Eu não sou assim. Não gosto de me justificar nem gosto de ler / ouvir justificações. Se as pessoas são as certas não precisam delas para nada. Para as dar às erradas mais vale ficar calado - se são erradas não saberão o que fazer com elas. Por isso um dos outros factores (estes dois directamente ligados à blogosfera) foi pôr um espelho no ditado que diz "nas costas dos outros vemos as nossas" e começar a ver as dos outros nas minhas.

E pronto, blog arrumado. Sim, arrumadinho num canto diferente, ou acham que ia deitar fora todos os meus quase 5000 posts, alguns deles tão pessoais que só eu sei ler o que lá está escrito e alguns tão profundos que nem eu me lembro de onde vieram?

Depois há o tema da crise financeira. Nos EUA a bolsa não estava tão em baixo desde 1933. Em Portugal se não estou em erro foi há 30 anos. E pelo resto do mundo não sei nem me interessa. Não sei porque não percebo mesmo nada de economia - a não ser a doméstica, onde sou mesmo muito boa (sem falsas modéstias) e consigo gerir os poucos recursos que esta empresa que são os Thunder's tem e por vezes ainda conseguimos lucro, mesmo que baixo - e não me interessa porque tudo tem uma sequência cíclica e agora está em baixa amanhã vai estar em alta e a vida continua, não pára só porque as bolsas estão em queda - não pára para alguns porque decerto muitos já se mandaram da janela abaixo em Wall Street - e a minha vida pouco se rege pela bolsa que pobre que se preze felizmente não tem muito a perder - do mesmo modo que muito nunca há-de ganhar.

E no seguimento deste tema encaixa-se a conversa com a C. A famosa geração à rasca. À rasca desde a concepção na época tumultuosa e indefinida do pós 25 de Abril de 1975, à rasca por ter sido cobaia de uma série de políticas experimentais no campo da educação até se descobrir que o modelo está em não educar mas impingir conhecimento, à rasca com os desempregos - desemprego é na nossa geração uma profissão extenuante - à rasca porque estando na transição entre as épocas pré e técnológica poucos acreditam que saibamos fazer o que quer que seja, à rasca porque basta dizer que estamos na casa dos 30 para sermos catalogados como uma porcaria de gente que nasceu na geração errada. Pior que tudo seremos ainda a geração à rasca na 3ª idade porque vamos apanhar o completo colapso do sistema de segurança social e tendo essa visão 40 anos antes sabemos que desempregos + baixos salários são incompatíveis com poupanças para sobreviver na reforma.

Assim, o que nos resta?

Resta aguardar que se confirme o fim do mundo em 23 de Dezembro de 2012 conforme previsto pelo calendário Maia.
Até lá pondero viver estes últimos 4 anos da minha vida como nómada e arranjar sustento em feiras a fazer terérés.

Até tenho um slogan: "Prepara-te para o fim do mundo. Aproveita a promoção téréré. Na compra de 10 oferta do 11º".





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