Toda a gente olhava muito bem para o bolo antes de cortar a primeira fatia. Todos procuravam atentamente o rasto da fava ou do brinde. Se detectassem o brinde tiravam uma fatia desse sítio. Se detectassem a fava tiravam mais ao lado.
Havia conversas em sussurro à volta da mesa "por acaso já viste onde está a fava?"
Depois de tirada a primeira fatia olhava-se para as duas "frentes" que o bolo tinha visíveis. Os palpites, as apostas.
Eu ainda sou do tempo em que havia quem comesse a fava para não ter que pagar o próximo bolo.
Quando chegava a última fatia e a fava ainda não estava ao pé do bolo essa fatia demorava muito tempo a ser comida. Havia quem a quisesse comer às escondidas.
Para mim era uma espécie de brincadeira.
Às vezes eu ficava com a fava e todos se riam, e eu ria também, porque sabia que era mau, mas não sabia porquê.
A minha avó fazia colecção dos brindes do bolo. Quando me calhava eu ia dar-lhe. Ela ainda tem a colecção lá em casa.
Eu sou do tempo em que só havia um Bolo-Rei na mesa porque eram muito caros.
Eu sou do tempo em que o Bolo-Rei tinha uma fava e um brinde.
Nesse tempo éramos todos mais pobres. Esse é o tempo que eu tenho saudades.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Concreto I
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Peixe Cru com desejos - Feliz Natal e um Excelente Ano Novo
sábado, 15 de dezembro de 2007
Vivências 14...
Mais um ano que finda...
Estiveram bem no teatro que andámos 1 mês a preparar e sinto um orgulho quase desmedido em vós que hoje, mais do que nunca sinto como minha família... No nosso almoço vi por fim, o sorriso de alguns de vós que desconhecia, reparei na camaradagem e senti, uma imensa felicidade de ali estar, cansada, estourada mas feliz!
Gostava de dizer que os meus "utentes" são quase meus filhos e os meus colegas e chefia quase meus irmãos e pais... sempre fará com que me sinta menos só nos dias que correm... Porém, dizê-lo não seria verdade... ainda que sentido muitas vezes a realidade é uma outra!
Não é grave. Nos dias que correm a verdade é que já pouca coisa importa e isso não é de todo mau... dá-nos uma certa liberdade, uma certa distância de tudo e todos, o que nos torna... não diferentes, não melhores ou piores... apenas mais humanos ainda que, mais distantes dessa mesma humanidade... Não sei bem como explicar... sou assim, um pouco convergente na divergência!
Este ano não foi igual a todos os outros... vivi muita coisa, chorei por muitas razões, ri por muitas situações mas, acima de tudo, encontrei uma nova "Me Hate" e isso vale todas as viagens interiores que este ano fiz ainda que, não tenha feito nenhuma ao exterior... hoje como alguém diria, estou mais perto de ser eu e de saber o que quero... ainda que, amanhã, queira ser mais, anseie por mais e seja mais!
Quero muito que este ano que se aproxima seja o começo disso mesmo, não só para mim... mas para todos vós que fui conhecendo aqui, ali e um pouco mais além...
Até já... como sempre!
ME HATE
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Imaginário XIX
Pela aparência teria quê... uns 19, 20 anos. Pela aparência devia andar por aí a nadar em dinheiro. Roupinhas de marca, tudo do bom e do melhor. Carrito próprio e sem querer ser má língua era um carro bonzito, não era um chaço qualquer.
Tinha o seu grupo de amigos, igualmente esquisitos e igualmente aparentemente abastados, mas para ser sincera ela não parecia muito enquadrada nesse grupo.
Bem, eu via-a às vezes no bar. Nunca falei com ela mais do que um "com licença" ou um "podes passar-me o coiso dos guardanapos?". Ela tinha assim um olhar que... sei lá! Os olhos dela entravam para dentro dos nossos e liam-nos a alma. Claro que era arrepiante, né?
Começou a circular na faculdade (a rapariga até tinha boas notas) que ela vinha de famílias ricas, que não batia bem, que o pai andava em negócios obscuros, enfim, os boatos do costume.
Aos poucos foi-se afastando do grupo com quem se dava. Começaram os rumores que à noite "estudava anatomia no técnico" e de dia "dedicava-se à jardinagem e transformação de produtos herbícolas".
Um dia não apareceu na faculdade.
Quatro dias depois, uma segunda-feira, a senhora da secretaria (nunca ninguém sabe o nome delas, são sempre as "senhoras") contacta o regente do departamento de Física. Fiquei a saber porque ia entrar na biblioteca na altura em que ela vem com o que parecia ser um e-mail imprimido na folha que ela levava na mão e acenava para ele, mais branca que a folha.
Claro que fiquei a cuscar. Não era todos os dias que ia à biblioteca daquele departamento e muito menos que havia agitação.
- Dr. Filipe... Ai Dr. Filipe... já sabemos da Claúdia.
Nem consigo descrever o olhar do Dr. Filipe para a senhora da secretaria. Se eu conseguisse, se eu tivesse palavras para dizer o que é possível acontecer num microssegundo... O Dr. Filipe ficou aliviado, feliz, desvanecido, branco, transparente e desmaia. Isto, num microssegundo.
Enquanto a senhora da secretaria pedia ajuda e o pessoal vinha a correr ver o que se passava eu peguei na folha de papel:
"Estamos em 20 de Dezembro. Este ano não vou ser capaz. O peso que trago comigo é muito e leva-me para o fundo.
Não consigo, posso ou quero desfazer-me dele a tal ponto que é ele quem me desfaz.
Hoje, finalmente, ganho coragem, deixo-o desmembrar-me e permito-me dissolver naquilo que um dia foi a minha vida.
Por favor, avise o Dr. Filipe . A caixa de mail dele está cheia, em casa não atende e o telemóvel vai sempre parar ao gravador.
Avise-o o mais depressa possível pois a nossa experiência precisa de ser seguida.
Obrigada, Claúdia, aluna nº45330F, turma 3, Astrofísica"
Enquanto isto acontecia na faculdade já a polícia entrava em casa dela e o médico legista tirava o seu corpo da banheira onde tinha cortado os pulsos. Ao lado jazia uma aparelhagem que tocava incessantemente a mesma música e um copo de vinho do porto, quase vazio.
E agora, enquanto o Dr. Filipe deita, visivelmente abalado, um punhado de terra sobre o caixão, enquanto olho para quase toda a faculdade em peso em redor desta campa, agora que já sei parte do que se passou, sinto-me indescritivelmente mal, egoísta, fútil. Na minha vidinha que continua não tive espaço, tempo ou vontade de sequer querer perceber porque é que ela parecia uma miúda esquisita.
E numa culpa consumista que me martelava a cabeça não conseguia deixar de pensar que nunca tive tempo de saber que ela já não tinha a quem deixar um bilhete.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Em Fogo 9 - Espirito de Natal
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Peixe Cru com sabores ecológicos
domingo, 9 de dezembro de 2007
Finório - Um conto de Natal
Ali estava ele, via de novo a luz do dia. Passa o ano guardado no escuro da arrecadação, à espera que viesse o tempo mais frio, a recordação da tradição que era o Natal. O duende Finório, como lhe chamava a pequena Inês, estava já ilustremente sentado ao lado da Árvore de Natal.
Tudo voltava ao normal, podia ver o rebuliço lá em casa, o amontoar dos presentes, o preparar da ceia. Estava junto da lareira e dos elementos do Presépio. A Inês visita-o sempre que chegava da escola, ela achava que ele era muito limpinho e sorridente e que ia comunicar todos os seus desejos ao Pai Natal. E ele comunicava mesmo. Desde
que tinha chegado a esta casa, a vida da família Pereira tinha vencido alguns obstáculos e estava cada ano mais alegre. O reflexo era a alegria e o amor naquela sala acolhedora.
Este ano parecia ser tudo igual até que um dia uma conversa de fundo chegou aos ouvidos do Finório. Estavam a pedir objectos de Natal para um lar de crianças, que tinha ardido nesse ano e não tinham como dar cor à vida daquelas crianças. A Inês queria dar o Finório. Dirigiu-se a ele e disse, baixinho, ao ouvido dele “Gosto tanto de ti, mas estes meninos precisam de um amigo. Gostava que levasses os sonhos deles ao Pai Natal”.
Partilhar, viver a tradição e ver o sorriso das crianças são das coisas que mais gosto no Natal. Vou deixar, sem que ninguém veja, este meu pedido ao pé do meu Finório.
Sabor a A Ronda das Tascas
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
Imaginário XVIII
Não me lembrava do início da viagem. Não me lembrava de onde partira, nem a que horas, nem se tinha partido sozinha ou acompanhada.
Quando olhei em volta tudo o que vi foi uma imensa extensão de cinzento. Cinzento do chão, que era liso, fastidiosamente liso e cinzento. Tudo o resto à volta era negro tirando uma fonte de luz que nuca percebi de onde vinha. Cada vez que olhava para cima aquela luz imensa fluorescente, que dava um ar de certo modo fantasmagórico à cena, movia-se também, de modo que nunca vi de onde vinha.
Dei um passo. A luz moveu-se. Parei. A luz parou. Corri um pouco, a luz correu comigo. Virei-me de repente mas ela foi mais rápida que eu. Não adiantava, não iria descobrir o que era ou de onde vinha.
Continuei a caminhar na direcção para onde me dirigia originalmente, sem saber como é que sabia que era para li ou até o porquê de ir para ali. Afinal, até perder de vista tudo não passava de uma enorme extensão de chão cinzento e liso numa atmosfera de escuridão.
Andei. Andei muito, sem ter a noção da distância ou do tempo. Andei até chegar ao "fim". Tudo à minha volta e para trás continuava a ser uma enorme extensão de chão cinzento e liso mas à minha frente e prolongando-se até ao infinito para ambos os lados estava o "fim".
Espreitei para ver como é que era o "fim". Espreitei com cuidado. O "fim" era como que o vértice de um degrau gigante, do qual eu não conseguia avistar o fundo.
Virei-me para trás. De um lado tinha uma extensão infinita de chão liso e cinzento. Do outro tinha um degrau infinito. Tudo cinzento, liso, estéril. Completamente estéril, estava completamente só no infinito cinzento e negro.
Enquanto pensava o que fazer surge nas minhas costas uma mão gigante. Só mesmo a mão, sem braço, sem corpo. Uma mão em posição de "apontar", com o dedo indicador esticado e os outros dedos recolhidos. Senti um toque nas costas. Desequilibrei-me e cai.
A queda pareceu infinita. Se ao início estava com medo, a dada altura apercebo-me de que à velocidade que eu estava a cair nem iria sofrer se alguma vez chegasse a embater em alguma coisa. O medo passou e comecei a sentir-me bem com aquela queda.
Quando me comecei a sentir bem e a entregar à queda sinto um obstáculo e o meu corpo a embater violentamente em algo. Afinal a queda teve fim.
Pensei que estava toda despedaçada. Mas não. Levantei-me, olhei em volta. Pude tocar no tal degrau. À minha frente uma extensão estéril e infinita de chão cinzento e liso num ambiente de escuridão a perder de vista. A minha luz fluorescente acompanhava-me ainda.
Sacudi-me, endireitei-me e recomecei a caminhar.
Sabor a Thunderlady
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Peixe Cru empurrado com água
Um colega meu na universidade (está bem, Politécnico) tinha uma teoria sobre a estupidez natural das gentes que habitavam no local onde estudei. Era da água. Segundo ele, durante a infância eles eram contaminados e aquilo afectava-os. A partir da adolescência a água já não afectava ninguém, mas uma vez contaminado...
Ele também aplicava essa teoria aos seios, em relação ao seu crescimento, por isso tenho umas dúvidas que houvesse algum fundamento na mesma teoria.
Mas que por vezes penso que é isso que acontece aqui na terrinha onde estou...a sério que penso. E estou-me a referir à estupidez natural, não aos seios.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Perdi-me
durante horas perdi-me no teu corpo...
Perdi-me no cheiro do teu pescoço, no toque da tua pele, na côr dos teus olhos, no sabor do teu sopro...
Caminhar nos teus seios, vaguear no teu cabelo, banhar-me em cada gota de suor e respirar da tua boca...
Ao percorrer cada centímetro da tua pele, durante horas...perdi-me.
Subir pelos teus braços, descer pelas tuas costas, desaparecer no meio das tuas coxas, bem dentro de ti...
Apesar de o saber de cor, perdi-me no teu corpo...
Bem fundo nos teus olhos, senti naquele momento, uma força, uma paixão, um calor...
Foi como se mais nada existisse, como se fossemos únicos no mundo...
Perdi-me no teu corpo...
Sabor a Thunderdrum
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Imaginário XVII
O estado de caos em que se encontrava não me permitia ter o mínimo de concentração. E como eu precisava de concentração. Precisava de me concentrar não tanto para escrever mas para separar os sentimentos que se começavam a aflorar, a invadir o “meu” espaço intelectual, sentimental, emocional de segurança. Se não conseguisse acalmar estes sentimentos que emergiam que nem monstruosos seres hediondos dentro de mim corria o risco de ser mal interpretada. De não dizer o que realmente queria. De me perder em detalhes que não eram o mais importante.
Assim comecei por limpar a secretária. Com o antebraço afastei toda a papelada e objectos que se iam acumulando lá em cima. Tudo o que eu ia depositando enquanto dizia “a ver se um dia destes dou um jeito nisto”. Hoje era “um dia destes”.
Apesar de saber exactamente onde estava cada coisa preferi mandar tudo para o chão. Deixar que os objectos se misturassem para que eu não soubesse de olhos fechados onde estavam. Tinha que perder esta mania de caos organizado, tinha que perder esta mania de que “eu sei onde está tudo e quando começar a arrumar mentalmente sei onde vou pôr cada coisinha” porque era por causa de pensares destes que cada as coisas se iam acumulando cada vez mais.
Por isso tomei esta decisão. Apesar de ter muita pressa para escrever para não me esquecer de nada do que queria dizer-te, preferi arrumar primeiro. Arrumar a secretária, arrumar os sentimentos.
E não me perguntes por que é que arrumar esta me ajuda. Não me perguntes porque preciso de a desarrumar para a voltar a arrumar. Não me perguntes porque é que, estando arrumada pelos meus padrões precisei de alterar tudo para colocar as coisas em sítios diferentes e porque é que isso tinha que ser feito antes de escrever.
Só sei que quem olha para ela a vê arrumada. Arrumada e limpa. Eu sei que está tudo mais caótico que antes. Agora não sei onde estão as coisas. Mas enquanto as “desarrumei” ordenei outras coisas, agora os sentimentos estão arrumados.
No fim fui buscar uma vela de cheiro.
Está aqui do meu lado direito. Alumia e aquece. Olho para ela e perco-me a ver a sombra da chama na parede, as formas que a cera forma ao derreter. E começo a escrever.
Sabor a Thunderlady
terça-feira, 27 de novembro de 2007
Em Fogo 8 - Tempo
Olhei para o relógio e estavas atrasada, senti um aperto no estômago porque não sabia se ias aparecer... espreitava a esquina na esperança de vislumbrar o teu cabelo ao vento, as tuas longas pernas, os teus olhos que apenas sabem responder aos meus.
Mas... tu não vinhas... o tempo, esse maldito, estava a afastar-me de ti porque vivemos escravos das horas, dos minutos, das tarefas que temos de cumprir, dos locais onde temos de ir, das pessoas com quem temos de partilhar 8 horas por dia e que nada nos dizem... eu só queria estar contigo e tu não vens...
Penso na forma como passamos a nossa Vida: acordamos de manhã estremunhados pelo relógio despertador, vamos para um emprego onde passamos horas a fim, saimos do emprego para regressar a casa e onde fica a emoção? Onde fica o prazer da descoberta? Fica para quando tivermos tempo?
Tu não vens e eu desespero... sinto o tempo a fugir-me pelos dedos... os minutos e segundos que podia estar a aproveitar para me perder nos teus olhos estou a olhar no horizonte como um marinheiro em alto mar em busca de terra firme...
Dizem que o tempo cura tudo, só não cura a dor de estar distante de ti... o sentimento de querer estar contigo e não poder... a sensação de desperdicio quando as nossas mãos não se tocam... a dor de não calar constantemente a minha boca com a tua...
Tu disseste uma vez "... o tempo é sempre o melhor conselheiro..." e eu acreditei e por isso esperei... esperei pelo teu olhar como espero o nascer do Sol... esperei pelo toque da tua pele como uma brisa veranil... esperei pela tua boca como se voasse numa nuvem...
O Tempo apenas não me avisou que tudo tem sempre um fim... pode ser bom ou mau mas ele aparece... só não me peças para perder mais Tempo porque ele para mim é precioso.
Tudo se aprende na Vida mas, não há duvida, que o Tempo ensina-nos sempre o melhor caminho a percorrer.
Carpe Diem.
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Peixe Cru regado com um pouco de Freud
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Peixe Cru com pitadas de Altruísmo
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Exposição de Pintura
Vocês ainda se lembram da Me Hate, não lembram? Eu espero bem que SIM! A Me Hate afastou-se das blogosferices mas volta em grande a 17 de Novembro para a sua primeira exposição de pintura.
Ó minha gente! Exposição mas a sério, na galeria, não é virtual!
Ah, agora já estão mais atentos, não é? E querem saber detalhes, não é? Pronto. Eu digo tudo, vou descoser-me. Mas é só porque é para vocês e porque a Me Hate até faz umas pinturas catitas e giras (e que eu queria uma para a minha casa mas já sei que já está reservada. Bolas!)
Pormenores, pormenores!!
Onde? Onde?
Centro Cultural Isaltino de Morais, Sala Elisário Carvalho, Alto da Loba, Paço de Arcos.
(Rua José Pedro Silva, nº14-B)
Então e quando, ein?
A exposição vai estar aberta ao público às 6ªs, sábados e domingos das 15h às 19h, entre 17 a 25 de Novembro. No dia 17 de Novembro, o dia da inauguração, vai estar aberta entre as 17h e as 24h.
Quem vai expor?
Ora aí está uma boa pergunta.
Podia ser só a Me Hate, mas realmente ela não vai expor sozinha. Mais 3 artistas vão ter as suas obras expostas na Sala e que são a Ana Oliveira e Costa* (pintura), a Lú Branco e a Lú Alves (ambas expõem fotografia).
*A Ana Oliveira e Costa dirige o Atelier de Artes Decorativas do Bugio, onde ensina várias técnicas de pintura em tudo que seja "pintável". Podem contactá-la para mais informações pelos nºs 214 412 177 ou 917 120 554
Deixo-vos com uma pequena amostra do regalo para os olhos que vai ser a exposição.
Ajudem a divulgar e apareçam!
1. Peças da Me Hate
4. Fotografias de Lú Alves
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Em Fogo 7 - Impressões
As tuas mãos... se tivesse de olhar para ti e ver o rumo da tua Vida olharia para as tuas mãos. Foram elas que tocaram as paredes que percorreste, foram elas que sentiram a pele dos teus amantes, foram elas que segurararam aqueles que caiam e te pediram ajuda, foram elas que tocaram no ombro de quem chorava para reconfortar e são elas que se mexem quando exprimes o que sentes.
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Peixe Cru com um toque a revolta
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
"Fora de Controlo"
“Ela quer estar só.” Não me vou atrever...
Num movimento rápido, os nossos olhos cruzaram-se, não tive escolha, senão dançar com ela...
As luzes cheias de côr movem-se em todas as direcções, a batida controla-nos e faz-nos girar, o cheiro do corpos suados, as bocas que se tocam, braços no ar...
Os nossos corações batem juntos, os nossos corpos misturam-se, o suor arrefece, o sons confundem-se com pensamentos, estamos fora de controlo, escravos da música...
As ancas balançam, os pés não param, o cabelo solto agita-se no ar...
“Oh, meu Deus, é a minha música favorita...”
Puxo-a para mim e ela começa a cantar...
Não conseguimos abrandar, mesmo se tentássemos, enquanto a música tocar, somos só nós os dois no mundo, Ela gosta de dançar e tem sabor a lágrima...
Agarra-me e diz: “Não pares de dançar...”
Não temos onde ir, não temos nada a provar, em vez de dançar sozinho, estou a dançar contigo, esta música deixa-me fora de controlo...
Ou talvez sejas somente Tu...
Baseado numa tradução livre e horrível da letra da música “Out of Control” de She Wants Revenge, do álbum “She Wants Revenge”.
Pensei que iria ficar melhor, mas a falta de imaginação foi terrível...mas também poderia ter ficado pior, prometo que não o torno a fazer.
Sabor a Thunderdrum
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Imaginário XVI - Imaginário?
No ínicio é rocha, coesa, agregada, firme, imutável.
No início a rocha é imponente, com todos os seus minerais agregados, unos. A rocha é una. Bruta, coesa e una.
E depois vem o vento. E depois vem a chuva. E depois vem o sol. E depois vem o vento e a chuva e o vento e o sol e o sol e a chuva e o vento.
E a chuva descobre uma falha. E sempe que chove passa a ocupar esse espaço. E a rocha deixa de ser coesa. E deixa de ser una. E depois vem o sol e leva a água. E fica o espaço, desocupado de rocha, a cicatriz. A primeira. Depois da primeira a segunda... e num instante a rocha fica minada.
Já não é una: parece. Já não é sólida: parece. Já não é resistente: parece.
Um dia cada fenda, cada cicatriz começa a juntar-se a outras fendas fazendo cicatrizes cada vez maiores. Um dia as cicatrizes maiores são tão grandes que a rocha se desmembra. Vai-se perdendo de si.
Aos poucos vai-se fragmentando em pedaços que variam conforme a cicatriz.
A rocha vai rolando por si abaixo.
E a chuva e o sol e o vento não páram. E chegam todos os dias. E fazem mais cicatrizes. E fazem novas cicatrizes nos pedaços de rocha que se soltam.
A rocha é agora um conjunto de pedaços de si mesma. Cada pedaço que se solta torna-a mais vulnerável. Cada pedaço de si que se solta e rola, ajudado pela gravidade, ajudado pelo vento, pela chuva.
Um dia, se a rocha deixar, se as suas cicatrizes deixarem, ela aceita-se desmembrada e aceita-se fértil.
Um dia, depois de muita chuva, depois de muito sol, depois de muito vento, que a transformam, moldam, dividem, fragmentam, quebram... um dia, depois da dor passar, quando ela já anestesiada se vê amaciada, um dia... ela gerará vida.
E esquece os pedaços de si que vão rolando. Rolados pelas colinas, levados pelos rios, lançados nas praias... pedaços de si que estão longe. Cada vez menores, cada vez mais fragmentados, cada vez mais frágeis.
Cada pedaço que se parte e solta, anguloso e vivo, é um pedaço frágil que se julga novo e resistente. Cada pedaço não sabe que apesar de cheirar e ter cores novas está a caminhar rapidamente para o fim.
E cada pedaço estagna num areal. E permanece os seus dias rolando em cada espriaio, voltando a cada ressaca.
E cada pedaço nem percebe que está a mirrar.
Já não tem memória da rocha imponente, coesa e una que foi, há tempos. Agora vê-se disperso num areal que ainda não é o seu e que foge debaixo de si, cada vez mais fino, para o mar. Também esse areal foi, em tempos, uma rocha... Também esta rocha vai ser, um dia, um extenso areal...
Sabor a Thunderlady
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Em Fogo 6 - Opostos
Num dia de Verão olhaste-me nos olhos e perguntaste o que via eu em ti... respondi ao teu olhar e disse que conseguia ver o que tu representavas, eras simplesmente a Mulher que me completava e da qual podia dizer que adoro o exterior e o interior.
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Peixe Cru com travo de sangue
domingo, 4 de novembro de 2007
Quem me leva os meus fantasmas
Já não quero mais. Não quero mais. Já não quero aprender com as agruras da vida, tornar-me forte na tormenta, descobrir forças escondidas onde não sabias que havia. Não quero consolar, apaziguar, esconder as minhas lágrimas para secar as dos outros, dar força a quem não a tem.
Não quero mais.
Não quero mais sopa. Tragam-me a sobremesa.
Não quero mais servir de exemplo, portar-me bem, ter bons empregos, boas notas, boas avaliações. Não quero mais resistir às tempestades. Não quero mais tempestades. Tragam-me a sobremesa, o sol, pessoas vivas que não morram nunca.
Parem, quero ir ali fora respirar ar puro.
- Onde? Não existe lá fora.
Quero que exista. Tem que existir. Tem que haver um sítio sem fantasmas. Isto assim, já não quero mais. Não quero mais sopa, tragam-me a sobremesa. Quero respirar fundo, que nada me aconteça, que ninguém me falte. Não quero mais a dor, a ausência, a saudade.
- Não percebeste? Não há mais nada. Não há lá fora para apanhar ar. Não há "Parem". Não há segunda pessoa do plural. É isto. Os teus fantamas pertencem-te e não te largam. Se reclamam mais, tens que lhes dar, tens que os deixar engrossar as fileiras com os teus amores. Não há lá fora para apanhar ar.
Assim já não brinco.
Sabor a A Ronda das Tascas
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Ontem passei por ti...
Não quero mais, tenho medo de mais...
Medo de que a nossa relação, até agora tão bela e pura, se transfigure e mude para sempre. Não, eu estou bem assim, amo-te na minha solidão e imagino que me amas também. Assim sei que te vejo todos os dias, sem falta, no meio da multidão anónima e apressada.
Desde sempre que me lembro de ti.
Sozinha, sempre te vi só. Talvez chegues a casa e prepares uma pequena refeição, antes de adormecer em frente à televisão, (des)atenta a um programa qualquer.
Imagino-te à noite, isolada no (des)conforto do teu apartamento, um gato ou um pequeno peixe dourado como companhia. E choras...
Choras porque estás longe de mim e eu de ti...
Mas ris, quando estás comigo e eu te abraço, agarro-te pela cintura e elevo-te no ar, rodopiando como miúdos na brincadeira, quando assistimos a um filme na televisão que nos faz sorrir, quando chego a casa e te conto as peripécias do meu dia...mas sou só eu a imaginar, porque...
Ontem passei por ti...
Sabor a Thunderdrum
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Imaginário XV
O pai levava a saca para o barracão que havia no quintal, um quintal diferente do normal, era mais elevado que a casa. Subiam-se as escadas e estava-se como que noutro sítio.
Ela nunca gostava de ir fazer "coisas" que o pai dizia, mas quando era ir ao quintal gostava muito. O quintal parecia outro mundo, havia sempre qualquer coisa para ver.
Mesmo sem lhe dizerem nada ela sabia que havia que descascar as favas e a saca era grande, tinha trabalho para umas tardes depois da escola. Na escola não falava aos colegas das favas, a maioria não sabia o que era descascar nem favas nem ervilhas nem feijões... pensavam, provavelmente, que vinham de um qualquer sítio já meios secos ou congelados. Para os colegas essas coisas surgiam no supermercado. Se calhar eles pensam que nasce nos supermercados, dava ela por si a pensar enquanto descascava as favas.
Numa das tardes de descasca, a reparar que já há imensas favas que estava a pôr as cascas com as favas e as favas com as cascas viu algo a mexer pelo canto do olho. Parou e olhou na direcção do movimento. Ouviu um ruído. Lentamente levantou-se e foi ver o que era. Não mexeu em nada, espreitou e viu um minúsculo ser branco. Parecia uma bolinha de pêlo. Conseguiu aproximar-se e ver que era um rato. Um rato, pequenino, com pêlo branco como a neve e olhos vermelhos, uma cauda longa. Assustado.
Pegou nele e pô-lo numa caixa de ténis. Foi buscar-lhe comida. Passava longos minutos a olhar para ele. Precisava dar-lhe um nome.
No dia seguinte foi lá. Não estava. Chamou pelo ratinho branco mas ele não estava. Sentou-se no banco, olhou para a saca das favas mas não lhe apetecia descascar. O ratinho branco veio ter com ela. Afinal estava lá. Deu-lhe a comida, mudou-lhe a água. Agora tinha um amigo.
Os dias foram passando. Uns dias ele estava na caixa outros dias saía, mas quando ela chegava ele vinha ter com ela. Até que um dia não foi. Nem no outro, nem no outro. Ela chamava pelo ratinho branco e ele não vinha. Ela punha a comida perto dos sítios preferidos dele e ele não vinha. Naquele sítio não se sentia a presença dele.
Ela começou a andar mais triste. Olhava pela porta de vidro que dava para o quintal na esperança de ver o Ratinho Branco passar, mas nada. Um dia, o pai, ao vê-la olhar tanto e desconfiado de tantas idas ao barracão disse-lhe:
- Deitei o teu rato fora.
Ela sabia que não adiantava chorar ou reclamar, o pai não voltaria atrás. E mesmo que voltasse, o Ratinho Branco já não ia querer ser amigo dela, de certeza.
Sabor a Thunderlady
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Peixe Cru com sabor a humor
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Está frio...
Porque é que tenho tanto frio?
Procuro um agasalho mas não tenho, procuro um lugar mais quente, mas não o encontro...onde estou?
Como vim aqui parar?
Este lugar escuro, onde não vejo nada além desta névoa densa que quase não me deixa respirar.
Está tanto frio...
-Avô!!! – Ouço lá ao fundo...
Consigo agora distinguir, estou em casa do meu filho, no quarto da Sara, a minha neta de 8 anos...mas não me lembro de como aqui vim parar.
-Olá Sara, estás boa?
-Avô...dá-me um abraço!
-Há quanto tempo estou aqui, Sarita?
-Não sei Avô, para mim estás aqui desde sempre...
-Desde sempre?
-Sim, sempre te vi aqui, no meu quarto, onde passamos as tardes a brincar e a conversar...
-E fazemos sempre isso?
-Sim, e à noite costumas dar-me um beijo e aconchegas-me a roupa, para que não tenha frio...
Está tanto frio...
Olho pela porta do quarto e tento ver o meu filho, a minha nora, mas não vejo nada, está escuro, não vejo um palmo à frente do nariz...decido-me a chamar por ele, talvez ele saiba porque estou aqui. Grito a plenos pulmões mas o som só se ouve na minha cabeça. Para além da porta, só o vazio, o vácuo...o escuro. Está tanto frio...
-Sara, o teu pai, onde está?
-Está na sala a ver televisão...está a dar o jogo de Portugal.
-E ele não me ouve? Tem a televisão muito alta?
-Não Avô, ele nunca põe a televisão alta, porque faz dores de cabeça à mamã...
Porque é que ele não me ouve? Não me lembro de estarmos zangados, ele às vezes fazia isso quando era miúdo, quando se zangava comigo deixava de me falar e de me ouvir...mas ele já não tem idade para fazer essas coisas.
-Avô, ele não te ouve porque tu já não falas com ele...
-Mas ainda agora chamei por ele, eu não estou chateado, só quero falar...
-Sim, eu sei Avô, mas não vale a pena porque ele já não te ouve...mas ele diz que tem saudades tuas...
-Então se tem saudades porque não vem aqui ao quarto para falar comigo?
-Porque cada vez que ele entra no quarto tu desapareces...
-Desapareço???
-Sim, voltas para o escuro...
Está tanto frio aqui...no escuro.
Sabor a Thunderdrum
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
território fronteiriço
Sabor a Cai de Costas
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Constatações do real
Lá fora o Sol continua a brilhar a aquecer-nos. O calendário não pára. E sob um Sol que ainda nos chega quente preparamo-nos para a mudança da hora já este fim de semana e vamo-nos apercebendo que de dia para dia as ruas têm mais um enfeite de Natal. Luzes que se vão montando que no seu conjunto formam estrelas, pinheiros de Natal enfeitados, bolas, renas, pais natais.
Lá fora o Sol brilha e nos recantos das lojas onde esse Sol não chega as montras vão ficando repletas de objectos alusivos ao Natal. Ursinhos, pais natais, inúmeras coisas que não servem para nada mas todas têm um motivo associado à época que se aproxima. Lojas de artigos domésticos apresentam montras sugestivas para a noite de consoada. Lojas de lingerie apelam aos fetiches natalícios dos mais tímidos. As outras revelam sugestões para presentes.
Lá fora o Sol teima em brilhar e atrasar a chegada do Outono mas a vida segue o seu curso. E eu, seguindo o meu curso, tento ignorar ambas as coisas. Ignorar que o Outono ainda não chegou. Ignorar que o Natal se aproxima.
Sabor a Thunderlady
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Em Fogo 5 - Solidão
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Peixe Cru em forma de medo
O autocarro estava cheio. As pessoas esperavam que a sua paragem anunciasse a chegada a um lar. As suas faces tinham um ar ansioso, mas plácido. Esperavam.
Queria dizer-lhe que nada fazia sentido. Que queria que pensassem no “nós”. Se valia a pena continuar assim.
A chave entrou devagar na fechadura. Cada som ampliava o seu medo. Não queria ser descoberto. Queria esconder-se. Que ela não o visse. Pesava-lhe o corpo pelo peso do segredo que não lhe desejava mostrar.
Pensou nisto a primeira vez que o viu. Era aquilo que queria. Desejava-o mais do que desejava qualquer coisa. E teve que o ter.
Ouviu-a levantar-se. Já não a podia evitar.
- Olá querido.
- Olá. Preciso de te dizer uma coisa.
- Que ar tão sério…
- Estou a falar a sério!
Sabia que tinha de ser agora. Tirou o peso do seu segredo de dentro do casaco, pegou-lhe com ambas as mãos e abriu a sua caixa. Não podia voltar atrás.
- Queres casar comigo? – disse, mostrando-lhe o anel.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Sem ti...
Acordei.
Sinto um vazio ao meu lado.
Procuro-te na cama, mas não te encontro...
O toque frio dos lençóis indica que saíste há bastante tempo, o suficiente para eles perderem o teu calor...
Um arrepio...
Não, não podes ter saído, eu teria acordado com a porta. De certeza que tu acordaste e estás a deambular pela casa ainda meio ensonada e sem saber o que fazer...
Silêncio
Não te ouço, não sinto os teus passos, não há nada que me faça acreditar que vais voltar para a cama, para o meu lado...mas eu acredito.
Sinto o teu cheiro na almofada.
Reviro os lençóis, como se ainda te procurasse, como se ainda fosse possível tu estares ali, ao meu lado e eu não te visse, não te sentisse, não te cheirasse...
Foi por isso que saíste...?
Ainda te consigo sentir, cheirar e quase tocar...o teu cheiro nos lençóis, o teu suor, as tuas lágrimas, o teu riso, consigo ter isso tudo aqui entre os lençóis, nas minhas mãos, no meu corpo...a batida do teu coração.
Não estás...e eu sem ti acordei...
No quarto, onde em tantas noites partilhámos os nossos corpos, onde desfrutámos de cada um, nos entregámos ao prazer, onde os nossos braços se entrelaçaram e as nossas bocas se tocaram, pairam os sons e o odor a sexo...
Sinto o teu cheiro na almofada.
Foi por isso que saíste...?
Silêncio
Sinto o teu cheiro na almofada.
Sei que é tarde, não há nada a fazer, tudo o que não foi dito, tudo o que não foi sentido, tudo o que não foi mostrado, tudo o que não aconteceu, ficará por acontecer...
Não estás...e eu sem ti acordei...
Sabor a Thunderdrum
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Imaginário XIV
Creio que é daquelas que se tentam mimetizar no meio da multidão. Quer dizer, é só uma ideia, não sei. Que mania que temos de olhar para as pessoas, especialmente aquelas que nos habituamos a ver sem nunca lhes tocar, sem nunca ouvirmos a sua voz, nem nunca receber um olhar directo nos olhos... bem, neste último caso nem é bem verdade porque às vezes os nossos olhares cruzam-se de vez em quando e devo dizer que o olhar dela me incomoda. Não é que transpareça maldade ou que demonstre ficar chateada ou importunada. Mas é um olhar tão profundo, penetrante e insistente, como se desafiasse, que tenho mesmo que desviar os olhos dos dela. Chega a dar-me a sensação de que para ela estes olhares nos olhos são um desafio e quem acaba por sentir o incómodo como se da invasão da alma se tratasse sou eu.
Seja como for, estava eu a dizer que a impressão que me dá é que ela se quer fazer confundir com o meio, como se desejasse ser camaleão... até vou mais longe. Quer-me mesmo parecer que se ela pudesse seria mais que camaleão... como explicar? Que se ela pudesse estaria no meio da multidão a observar toda a gente, perfeitamente visível mas sem deixar que ninguém a visse... como se fosse possível...
O que me chama a atenção nela é o facto como ela até parece fazer para repudiar os olhares dela. Acredito que não se apercebe de como acaba por ser alvo de tantos olhares. Olho para todos à minha volta e reparo que todos a olham também e enquanto penso no que ela estará a pensar penso também no que os outros estão a pensar sobre ela, se será o mesmo que eu. Penso ainda quem é que a vê há mais tempo que eu e a analisa há mais tempo e julga compreendê-la há mais tempo e quem é que a vê há menos tempo e nesse “menos tempo” já sabe mais sobre ela que eu, e desses eu sinto ciúme.
Que coisa parva - digo para mim logo a seguir - Que coisa parva sentir ciúme de pessoas que não conheço. Devo estar a ficar lélé - é o que me vou repetindo. E no entanto queria ser só eu a compreender o que ela pensa, sente, quer, sonha, deseja...
Sabor a Thunderlady
Em Fogo 4 - Ser Feliz
Sabor a Carpe Diem
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Imaginário XIII
Lavei as mãos a correr. Peguei no avental ao mesmo tempo que abri o frigorífico e enquanto uma mão tirava o que ia precisar a outra ia enfiando o avental pela cabeça abaixo.
Estava com aquela sensação que faltava qualquer coisa. Revi mentalmente a receita a que já me habituei a fazer olhando para o balcão. Não... tudo a postos. Assim de repente não faltava nada.
Arranjei, cozinhei, preparei. Sempre com a sensação de que faltava alguma coisa. Servi. Sempre a pensar no que faltava.
Servi. Comi. Comemos. Afinal, estava ali. Era para se comer. Antes que ficasse frio. Comemos. Comemos até ao fim. Comemos, repetimos, e sem nos saber bem não nos soube mal.
No fim não soubémos dizer o que faltou. Faltava qualquer coisa. O travo foi diferente, que foi.
Estava lá tudo mas faltou qualquer coisa.
Sabor a Thunderlady
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Em Fogo 3 - A Beleza
Sabor a Carpe Diem