segunda-feira, 30 de junho de 2008

BURACO NEGRO VI

Imagem Google



Hoje foi dia de olhar o outro lado do espelho...
Os meus olhos foram sugados pela voracidade gravitacional do "buraco"!
Vi-me então, quando a vertigem passou, em reflexo.
Pontinho de luz a decrescer, a diminuir, a encolher...e tive medo.
Medo da passagem para outra dimensão, de me encontrar nesta bizarria de querer estar sempre onde não estou, como se esta realidade me não bastasse.
Felizmente que o espelho não passava de um exercício de imaginação, que pude interromper com um gesto de mão, como quem afasta um insecto incomodo.
Afinal hoje não era dia para olhar...
Quando se está feliz, nem a promessa de um mundo melhor nos tira "daqui"!!!


domingo, 29 de junho de 2008

Experiência 6


E ela ria-se deles, escanzelada colecção de ossos envolta numa lona imunda, com os rins dormentes de tanta pancada e com a boca de onde lhe pingava o sangue, sem um centimetro de pele limpo de cicatrizes, inflamada, cheia de amargura e de rebeldia que não conseguia compreender...

A minha amiga de anos não foi sempre assim... os últimos 2 anos fizeram dela "esta coisa" que não era assim no seu exterior mas, passou a ser no seu interior. Aos 18 anos libertou-se de casa, dos pais e de grande parte dos antigos amigos para recomeçar uma vida ao lado de alguém que julgava ser uma pessoa correcta... Lutou e sem pré aviso, o pugilato passado 1 ano começou.

Inicialmente não sendo versada no assunto a tareia demorou a sarar... foram precisos quase 3 anos para que voltasse ao ringue. Uma e outra vez, treinou, voltando sempre aquele sitio que tão bem conhecia... não lhe interessava já, vencer qualquer assalto, não permitia é que houvessem golpes baixos.

Por 2 vezes julgou que a vitória era certa e no último "round" teve um KO inesperado. Nos últimos anos as pernas já lhe fraquejavam e o medo do ringue foi a única coisa que a fazia, vezes e vezes sem conta voltar a subir, apanhar, ir contra as cordas... Quem via o espectáculo achava aquilo estranho. Ela batia-se contra a sociedade, contra os pais, e sempre que caia e se fazia a contagem até 10, levantava-se e ria, olhando para a plateia e gritando: ainda não me venceram... Ainda não foi desta...

A dada altura sabia todos os movimentos dos seus oponentes e mesmo assim, deixava-se ir ao chão... esperava calmamente todos os socos... Não esperava o que fez com que se retira-se do "boxe": ter de lutar também, contra a sua companheira!

Hoje fazem-se arraiais "pride" e marchas "gay"... e ela continua a achar tudo isso muito ridículo, porém, desistiu do "boxe", encontrámo-nos esta semana e ela dizia: hei sei que por fim encontras-te uma rapariga à altura! Piscou-me o olho e disse-me: não a deixes escapar, pode ser esta a certa... You never know!

Despedimo-nos e foi trabalhar que começava a sua ronda nocturna pela cidade com os sem-abrigo e depois ainda tinha de ir para Sintra, onde agora morava na maior parte do tempo... Desejei-lhe: Boa sorte e ela ainda olhou para trás e disse: Não preciso disso, apenas de um bom "date"! E de novo, riu.

sábado, 28 de junho de 2008

Imaginário XXVIII

Esta é uma história que se passou há muitos muitos anos, no tempo em que os Homens eram livres , acreditavam no sentiam e acreditavam que era por sentir que o mundo girava.

Quando Ricardo veio a si pensou que tinha morrido. À sua volta bailavam peixes e algas de cores que nunca tinha visto. Ouvia um cantar que o embalava, pensava estar no céu dos pescadores. Reparou que flutuava e sentiu uma paz como nunca tinha sentido antes. Antes de ter tempo de perguntar qualquer coisa uma sereia pegava-lhe na mão e fazia-lhe um sinal como dedo na boca como que para se calar.

Ricardo já tinha ouvido fala em histórias de sereias mas nunca tinha acreditado nelas, eram histórias de alento para quem andava no mar e ajudava a ultrapassar melhor cada tormenta além de proporcionar momentos de riso entre os homens da embarcação.

Não se lembrava como tinha ido parar ali mas depois de pensar melhor nem sabia onde estava.

- Estou no céu?
- Não. Estás no mar.
- És uma sereia?
- Sou a tua sereia.
- A minha sereia?
- Sou aquela por quem tens suspirado ao logo dos tempos, aquela que anseias ter a teu lado quando estás em terra, aquela que queres quando estás no mar.
- Mas eu não sou do mar. E eu não acredito em sereias. Por isso não acredito em ti.
- Mas foste tu quem me procurou. E eu vim ao teu encontro.

Ricardo não se lembrava de nada, mas sabia que não tinha guelras, que não era peixe e que ia acordar do sonho.

- Eu não sou um sonho. E tu não morreste. Mas se me queres não temos muito tempo.
- Que dizes?
- Para ficarmos juntos precisas morrer. Precisas dar à costa para eu ir buscar o teu corpo. Mas se morreres nunca mais poderás ter a tua família, beijar a tua mãe, abraçar o teu pai, balançar os teus sobrinhos no ar, fazer rir as tuas irmãs, ajudar os teus tios na terra quando não estás no mar.
- Mas...
- Mas se não morreres nunca poderemos estar juntos. Tu não sobrevives no mar e eu não sobrevivo na terra. Somos de mundos diferentes. Se morreres tenho um breve momento para te resgatar e trazer para o meu mundo antes que seres de outros mundos te resgatem para o deles. Depois de se morrer é-se resgatado por quem chegar primeiro. Tu és doce. És um homem bom. Terás muitos para te resgatar. E eu ... posso perder-te. Preciso chegar antes que todos. E tu precisas poder reisistir às outras tentações e conseguir esperar por mim.
- No entanto...
- ... Tu não te vais lembrar desta conversa. Os teus sentimentos irão guiar-te.
- E tu? Se eu não for resgatado por ti?
- Eu morrerei. Mas sendo sereia serei resgatada por seres do mar.

Ricardo sentiu-se angustiado. Já tinha perdido a esperança de encontrar a sua mulher. E ali estava ela, um ser do outro mundo que ouvia os seus lamentos. E agora tinha que fazer uma escolha.

- E quanto tempo tenho para decidir?
- Tens enquanto não te sentires a afogar. Porque tu não és do mar.

Nesse instante Ricardo sentiu a pressão do mar sobre si. O peso da água não o deixava respirar. Sentia-se esmagado e não conseguia ver de tanta escuridão. Quanto mais lutava para vir à tona mais fraco se sentia. Num instante deixou de ter medo. Deixou de lutar. E o último pensamento foi para seus pais, nunca lhes tinha dito o quanto os amava.

No farol equipas revezavam-se para ver se viam os destroços. O fumo avistado dias antes não deixava dúvidas que uma embarcação estava em apuros.
O faroleiro viu então um corpo a boiar preso a uma tábua. Correram para a praia.

Todas as famílias lá estavam. A de Ricardo suspirou de alívio quando viu que era ele. Num instante tiraram-no da água e esvaziaram-lhe os pulmões. Ricardo tossiu parte da água e ao abrir os olhos chorou e com muito custo disse

- Mãe? Pai? Amo-vos muito...

Mãe e pai abraçaram-se de felicidade por Ricardo estar vivo.

- Mãe? Pai? Conseguem ver quem me vem buscar?

O curandeiro da aldeia apercebeu-se que Ricardo tinha feito a sua escolha. Nesse momento Ricardo fechou os olhos.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Vivências 37...


A solidão é assunto sobre o qual nunca me debrucei muito tempo, não só porque os meus genes não têm "feitio" para isso mas também porque não perco tempo com disparates...
Contudo, lembrei-me de uma certa pessoa que se dizia minha amante e que nós éramos o grande amor das nossas vidas e "balelas do género", que me dizia, "à boca cheia" que SÓ é que estava bem. Mesmo! Acreditava mesmo nisso... Hum...
Eu concordava com as afirmações para não causar celeuma e MAIS uma discussão desnecessária mas, na verdade, achava aquilo um monte de "balelas" até porque na altura ainda não tinha deixado a anterior relação para estar comigo... Logo na altura pensei, "Bela solidão... e que pessoa de tão grande concordância entre pensamento e prática!"
Não poderia de facto levar a coisa a sério, até porque a pessoa: não jantava fora só, não viajava só e, mesmo em casa (supostamente só) tinha de ter a "companhia" da música, do televisor ou de um telefonema feito a um "amigo"... E adivinhem: pouco tempo, antes de me colocar "para andar" pela 4ª vez, voltou para a ex-relação de quem dizia não gostar e de quem tinha a certeza que a pessoa não gostava já de si... Tá quieto "oh preto" de eu dizer e ir avisando "Olhe que não Sr. Dr., olhe que não!" e a prova, de que tinha a razão do meu lado foi o veneno que foi, eficazmente lançado durante 2 anos que durou este "anda para cá anda para lá..." mas tonta, de facto, sou eu! Quem é que volta para alguém 4 vezes????? De novo, e não me querendo repetir...Hum...
Mas enfim: MEA CULPA, adelante... Sempre ouvi dizer que o Homem é um animal por excelência social, portanto, não só não foi "feito" para estar só, como pelo contrário, enriquece com o cruzar-se romanticamente/socialmente/profissionalmente com outros... sobretudo se for variando de conhecidos e não "carregar sempre na mesma tecla", temos um ou dois amigos para a vida o resto: há que variar!!!!!!
A teoria prova-se na realidade do dia-a-dia: quantos nós não preferimos a companhia de uma animal a estarmos sós? Quantos de nós não preferimos voltar para o ex-amante a estarmos sós?
Quantos de nós não preferimos estar com uma amiga em amena cavaqueira a estarmos sós?
Se a resposta às anteriores foram no sentido de "Sim, prefiro estar só!" então, jovem: os meus parabéns! És mais do que eu! Mas então, faz um favor a todos nós, comuns mortais: parte de uma vez por todas para o Mosteiro das Carmelitas ali para a zona de Fátima ou para um no Tibete de monges budistas.
Se a resposta foi "Porra, não! Quero mesmo é estar acompanhado(a)!"... Bom, então quando é que tomamos um copo e colocamos a conversa em dia?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

maGIcais ao Sushi #19



terça-feira, 24 de junho de 2008

Em Fogo 21 - A Ponte


Fiquei confuso depois de te ver, não sabia com que ideia tinhas ficado de mim ou até se me quererias voltar a ver... insisti, perguntei, questionei-me, pensei... tudo isso para saber que ter atravessado aquele rio para te encontrar do outro lado foi dos momentos mais belos da minha vida.
Tu estavas toda de preto, gostavas de transparecer a escuridão que te enchia a alma... tinhas encontrado uma pessoa que sentias ser o ideal para ti mas, graças a um impulso ou ao medo de dizer o que sentias, deixaste-o fugir e agora arrependias-te de o ter feito... dizias que ninguém mais te iria entender e nem tu irias sentir o mesmo por outra pessoa, quando te ouvi apenas te olhei e nada disse.
Ficamos assim, na ponte que unia as duas margens do rio, frente um ao outro sem nos mexermos e apenas olhando... perscrutando o outro... pensando que talvez seja um erro... imaginando se, uma coincidencia destas, resultaria em algo profundo... eu sentia a tua dor e não sei se reparavas que sorria.
Comecei a caminhar ao teu encontro, passo a passo nessa ponte com pequenas pegadas no lugar da passagem... tu não te moveste, ficaste apenas a olhar-me... provavelmente perguntavas-te que quereria eu de ti e esperavas para ver.
Sou paciente mas tu não sabias ainda disso mas, á medida que ia avançando na ponte, reparava que a tua roupa ia mudando de cor... passava de preto para cinza e conforme ia-me aproximando de ti os tons mudavam... imaginei que seria por minha causa mas não tinha a certeza.
Fiquei parado a um palmo de ti e olhei-te... tinhas a roupa em tons garridos mas o teu rosto ainda estava escuro, sem cor... não desisti, passei uma mão no teu rosto e a cor apareceu aos poucos... com um dedo percorri os teus lábios e eles tomaram um tom vermelho intenso... com a ponta dos meus dedos percorri o teu cabelo encaracolado e ele tomou aquele preto azeitona que é o teu...
Voltei a olhar e sorri... parecia que tinhas renascido enquanto eu me limitei a atravessar a ponte e a ultrapassar os obstaculos que colocaste na minha frente... quando os meus labios se aproximavam dos teus disse-te num sussurro... não sou como ele, sou eu mesmo, mas mesmo assim vejo-te em todas as cores e gosto de ti como és.
No meio da ponte beijei-te e, de um momento para o outro, a ponte desapareceu debaixo dos nossos pés e ficamos a levitar... foi nesse momento que acreditei que tinha penetrado no teu coração.
Carpe Diem.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

BURACO NEGRO V

Imagem Google


É sabido que um buraco negro atrai toda a energia que lhe passa ao alcance...por isso nem a luz consegue escapar...por isso negro!

Passando hoje em revista "todos os buracos negros" que já se cruzaram comigo ao longo da vida dei-me conta de quanta luz deixei que me roubassem!

...roubassem??...que loucura!

Toda a energia que alguém precisou e levou de mim
Toda a luz que iluminou alguma noite triste e saiu de mim
Toda a alegria que alguém sorriu com um pedaço do meu sorriso
Toda a dor que se acalmou porque eu passei ao lado

Roubado???

Percebi de repente que nada na vida nos é tirado quando estamos dispostos a dar tudo
porque o que recebemos nos vem da disponibilidade Universal de nada perder, nada ganhar...

Assim, a todos os que comigo partilham a sua luz, os agradecimentos deste buraco negro, finalmente consciente de que a sua densidade negra depende deles para ser o que quer que o futuro lhe reserve!



domingo, 22 de junho de 2008

Experiência 5


De chegada de outras paragens, cansado e ainda a querer recompor-me de tanta aprendizagem, os "olás" aos amigos foram um mal menor... Numa dessas situações que ocorreu hoje, por hora do meu café de domingo que é como quem diz, às 15:00, uma das discussões ficou ligeiramente "acesa" mas interessante...

"(...) se esse mundo me tem chamado também a mim, talvez hoje fosse um homem mais feliz. Mas fiquei por aqui, a fim de preservar qualquer coisa... Um dia cansei-me e hoje, já não preservo nada. Tirem-me os livros, as músicas, os amigos, os amores... Já não importa, a prova veio com esta viagem.

As tragédias artificiais da humanidade derivam, em grande parte, dos conselhos mentirosos de certos livros, que acabam estupidamente por influenciar a vida das pessoas. A autocomiseração, as mentiras patéticas, as artificiosas complicações são, na maioria dos casos, consequência de uma literatura falsa, ignorante ou, pura e simplesmente desonesta. Nem falo já dos pseudo-doente mentais que por aí pairam com o único intuito de nos "atazanarem" a cabeça e nos fazerem acreditar na "sua" literatura pseudo-real, que só existe nas suas cabeças.

Perguntas-me o que desprezo acima de tudo? A literatura? O trágico mal-entendido chamado amor? Ou simplesmente o género humano? Não! Não desprezo nada nem ninguém que creio não ter esse direito. Mas no tempo que ainda me resta, quero abandonar-me ainda a uma paixão: a paixão pela verdade! Não tolero que me mintam mais, seja a literatura, seja a poesia, sejam as mulheres e acima de tudo, não tolero mentir mais a mim mesmo.

Não, não um homem ressentido. Apenas tenho consciência plena hoje que algo falhou. Falhou tremendamente e isso não se deve apenas a mim. Fiquei só, paciência. Estou cheio de cólera: não confio no amor, nas mulheres, na humanidade.

Garantes-me que existe afecto, paciência, compaixão e perdão... Pois sim, mas o meu pai não é de todo o espírito santo e não me chamo Jesus. Somos humanos, ou eu sou... enquanto há cólera há cólera, enquanto há amor, amor... entre os dois, há um período que devemos viver sós, calar, suportar a dor e saber encontrar, no fim da caminhada onde errámos para, numa próxima vez não o fazermos e sabermos escolher melhor as pessoas.

Não leves a mal, sei que estás de bem com a vida e com a tua nova namorada, contudo, também isso há-de acabar e com isso verificarás que nem tudo o que te disse hoje é um disparate!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vivências 36...


Precisei de definir saudade para um colega alemão, para entender eu própria o significado mais profundo da palavra.
Estando ele cá como colega/missionário comunicámos em inglês por ser a "língua do meio" que ambos entendíamos. Ao fazer-me a pergunta a primeira coisa que me veio à cabeça foi dizer-lhe que é o mesmo que dizer que se sente a falta de algo ou de alguém mas muito, tanto, que por vezes a própria palavra por si só não o consegue definir. Ele olhou para mim com ar intrigado e percebia que não tinha entendido nada.
Nessa noite depois de muito pensar e ler, escrevi um género de sinopse, aliás diversas, que fui deitando fora porque nenhuma me deixava com a sensação de que estaria a descrever bem o sentimento/palavra.
No dia seguinte, o Klaus voltou à carga e eu sem nada para lhe dizer de novo, apresentei-lhe os "rabiscos" da noite anterior que de novo não o deixaram muito feliz.
Acontece que, por mero acaso, aquele era o meu último dia de voluntariado naquela instituição e que tinha sido lá que tinha reencontrado um ex-namorado meu que tinha tido problemas graves com droga mas que, não só estava completamente recuperado mas era agora naquela instituição, monitor. Foi aliás a seu convite que lá fui fazer umas horas.
O reencontro foi emocionante mas a partida deixou um nó na garganta em ambos: ele ia partir para o México (numa missão) no mesmo dia em que eu terminava ali o meu voluntariado... Ambos sabíamos silenciosamente que passariam mais outros 10 anos antes de nos reencontrarmos.
Nesse dia ambos agimos como se nada fosse suceder no fim do mesmo. O Klaus por informação que o Pedro lhe deu, sabia por alto da nossa história e do que teria sucedido. Observou-nos nos dias em que esteve connosco com extrema atenção, notámos isso mas tentámos não dar muita atenção ao caso.
Na despedida não trocámos palavras, chorámos ambos sem sabermos muito bem porquê e de repente demos um forte abraço um ao outro.
Antes de entrar na carrinha que os levava para o aeroporto, o Klaus veio ter comigo e disse: "When you two said goodbye, that´s already saudade, right?". Disse-lhe que sim, que era isso mesmo. "You´re strange because you didn´t speak anything!". Disse-lhe no meu melhor inglês que foi por isso que inventámos uma palavra/sentimento: é que ele há coisas que por muito faladas que sejam, nunca traduzem de facto o sentimento que nos vai na alma.
Perguntou-me o que era a alma portuguesa... a ver-me outra vez em sérios trabalhos, sorri-lhe e disse-lhe: é bastante parecida com a mexicana... vais ter tempo para aprender!
O senhor da carrinha apitou, o Klaus entrou, não olhou para trás mas vez um adeus com a mão até desaparecerem na curva um pouco mais à frente... Os meus olhos estavam perdidos no último olhar que o Pedro dava e antes da curva colocou a cabeça fora da janela e atirou-me um beijo. O único que naquelas semanas todas de voluntariado e de convivência me deu.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

maGicais ao Sushi # 18

Em águas calmas
e profundas
mantemo-nos à tona!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

BURACO NEGRO IV


Hoje sou uma super estrela perigosamente próxima de um buraco negro!
Nem tão perto que me perca dentro dele, nem tão longe que não lhe sinta a atracção!
Sou mesmo um Dom Quixote a querer ser Sancho Pança!
E estagnando, fecham-se-me os olhos de um tédio quase desmaio, num vazio mental anestesiado,
a pedir fuga, a pedir sol, a pedir luz.

domingo, 15 de junho de 2008

Experiência 4



É a maior dor desta vida, amar alguém e não conseguir viver com ela.


Sim, é triste perder um pai, é infeliz perder-se um amigo e acredito que seja muito doloroso perder ambos no mesmo curto espaço de tempo, contudo, posso garantir-te que se amas alguém e o outro te ama na mesma quantidade, espécie e número... perdê-la é, perderes-te!


Quem olha na mesma direcção, ama as mesmas coisas (os livros, as músicas, as peças de teatro...), está de mão dada contigo no dia em que choras e te pede: "Por favor, vem ter comigo!" da mesma forma que está ao teu lado no dia em que ris e te diz: "Claro que vamos dar certo, depois de tantos problemas que passámos, só podemos dar certo!", mantens-te ao seu lado no momento da traição, no momento das viagens não partilhadas, no momento em que lhe bates e te bate porque já não aguentas mais mentiras... Repito - estás a ouvir-me?! - todos estes momentos, bons, maus e assim-assim, tu e ela mantêm-se: lado a lado a olhar na mesma direcção... na mesma...


E de repente chegam, os dois a casa e nada disto importa porque tudo dá errado, sem saberes porquê...


Juro-te meu amigo, é a maior dor... estamos preparados para perder os nossos pais porque é ordem natural das coisas, um amigo porque pode, a qualquer hora afastar-se, mas alguém que amas?! Não! Escolheste, foste escolhido e não vendes promessas ocas ao outro (ainda que não saibas se o outro o faz, esperas, que não o faça) e então... o inesperado surge.


O que fazer? - perguntas - Nada! Lamento, não tenho resposta!


Resignas-te e segues em frente porque o muro das lamentações fica longe e não faz parte sequer, da tua religião!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Vivências 35...


O amor existe ou não existe.
Connosco existe: de forma calma , pacifica.
Tu és doce, reservada, ris com facilidade, dizes-me as verdades sem te exaltares, colocas-me "no lugar" sem me envergonhares, abraças-me de forma única, dás-me "abrigo", carinho, aturas as minhas explosões de frustração no trabalho, deixas-me falar sobre o que "me dana" e o que me deixa feliz, o teu olhar nunca esmorece, a tua boca tem sempre uma palavra amiga e sensata e fazemos amor de forma descomplexado, quando nos dá, quando nos apetece e sempre que nos apetece... sei que és mais, muito mais mas agora, não me recordo de te dizer nada mais que seja acertado...
Lembrei-me, no entanto: e eu? Que te ofereço eu a cada dia que passa em que o meu olhar se perde em ti?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

maGIcais ao Sushi #17

Imagino castelos na areia
FAÇO
castelos no ar.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Em Fogo 20 - O Corpo

O que é o corpo? Será uma metáfora para a Vida? Um sopro cruel que se esfuma perante os nossos olhos com a degradação da pele? Existe sempre a esperança de encontrar a beleza, o arrojo, a sensualidade num corpo diferente.


Qual é a hipocrisia que não nos permite olhar para o nosso corpo como ele é e, em certos casos, apenas nos guiarmos pela ideia do que deve ser? Por outro lado, um corpo não tem apenas que nos fazer mover, pode dar-nos alegria e prazer. Porque será que temos tendência para inferiorizar o nosso próprio prazer, baseado numa ideia castradora de espiritualidade? Se alguém nos deu um corpo, temos de aproveitá-lo, conhecê-lo. senti-lo e retirar dele o máximo prazer possivel.


Actualmente, o Mundo rege-se por patamares de beleza circunscritos a um modelo fixo de corpo, a uma ideia de beleza maquilhada e falsa, a uma coincidência com a hipocrisia da sociedade onde se torna mais belo, aquele que aparenta uma beleza exterior sublime e imaculada. Porque são todos os outros diferentes?


O que leva centenas de pessoas a aderir a um ginásio 2/3 meses antes do inicio da epoca balnear? Medo do que os outros possam dizer ao olhar para essas pessoas? Hipocrisia apenas porque durante 3 meses por ano se pode andar com menos roupa? Ideias reprimidas e sonhos loucos de quem não sabe aproveitar a Vida e pensa que exercicio fisico apenas serve para estar em forma para a praia...


Agora reflectindo um pouco, porque não associar o ideal de uma vida completa a um corpo coerente? E porque esse corpo, envelhecido, não pode ser considerado sensual nos dias de hoje? Será que a ditadura das imagens e a hipocrisia do parece bem nos turvará o espírito?


Um corpo envelhecido pode ser belo, já que a beleza não se encontra apenas na firmeza dos objectos mas numa total completitude do ser, uma dialética entre o ser e a alma.

Carpe Diem.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

BURACO NEGRO III



Hoje
Não há mesmo vontade de imaginar um mundo às avessas, por mais perfeito que seja!
Não há vontade de ver no espelho um mundo melhor do que o nosso!
Porque depois de um fim de semana maravilhoso de verão, com sol, sal que não foi de lágrimas e frescura de pele acariciada pela brisa das mãos...
Qualquer outro mundo dificilmente teria em si, mais prazer, mais paz e mais Amor do que este!!!

domingo, 8 de junho de 2008

Experiência 3


No fundo, o que aconteceu foi que a mim mim me educaram na ideia de que era preciso viver. A ela educaram-na na ideia de que, acima de tudo, era preciso viver de modo sofisticado e respeitoso, regular e uniformemente, dentro das regras da sociedade e do que era aceitável, isso sim, era o mais importante. Eram diferenças enormes.
Durante aqueles anos em que pouco nos víamos porque havia sempre algo que nos afastava, essas diferenças foram sendo quase que anuladas mas depois, quando passámos a viver juntos e eu comecei a exigir-lhe que as mentiras parassem, que a relação fosse aberta e nós fizéssemos de facto, parte do mundo VIVO... Bom... Enfim... como relatar...
Naturalmente, como não podia deixar de ser, devido à sua natureza fraca: a relação estilhaçou-se até ao mais ínfimo pormenor e ela voltou para aquilo que conhecia e eu, voltei para... a procura incessante de algo novo, de algo desconhecido mas que, ao menos fosse maior do que eu e me pudesse ensinar qualquer coisa de novo, uma nova aventura: pela qual eu não tivesse ainda passado...
Foi então que me dei conta que tinha abandonado a vida antiga abraçando uma nova...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Vivências 34...



Seguia ao teu encontro... O jardim tinha um ar tórrido, lânguido e húmido como se fosse uma selva. Seguia descansadamente naquele meu passo quase de quem passeia, apesar de estar atrasada para o nosso encontro...


Mãos nos bolsos, livro debaixo do braço, chinelos, calções e t-shirt... o pouco suor que tinha cheirava ainda a maresia e a um dos perfumes que tinha colocado pela manhã.


Parei num bebedouro e passado pouco tempo senti-me observada:

- Mãe tantos desenhos...

A criança que não deveria ter mais de 8 anos mas, reparara em 3 das 9 tatuagens que tenho. Sorri-lhe piscando furtivamente o olho. Escondeu-se, certamente, envergonhado atrás das calças da mãe, a mãe por seu lado esboçou-me um sorriso franco e volátil enquanto pegava no pequeno para que alcançasse a água.


Continuei a andar e confesso que te olhei prolongadamente antes de te dar as boas-tardes... estavas a ler, o cabelo esvoaçava no vento brando que fazia e, por vezes, paravas a leitura apenas para olhares com mais atenção um pássaro ou outro que poisava, olhei vezes sem conta para as tuas mãos e a falta que elas me faziam.


Não me esperavas realmente porque sabias que te tinha aguardado uma vida inteira.


Quando por fim te cumprimentei, abraçaste-me prolongadamente, tocá-mo-nos como se não o fizéssemos à tempo demais, beijei-te primeiro as mãos, depois a fonte esquerda e só por fim os lábios carnudos... Disseste: "Cheiras a praia e ainda... um pouco... a nós!" Sorri-te, beijei-te de novo sem emitir um som e o louco que passeia no jardim gritou:


"Já não era sem tempo!"

quarta-feira, 4 de junho de 2008

maGIcais ao Sushi #16

Pétala a Pétala
componho a flor
que despedaçaste.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Em Fogo 19 - Impressões



Esperava ansiosamente aquele momento em que, finalmente, te poderia ver/ouvir/sentir à minha frente e saber se eras feita de ilusão ou realidade pura. Não me preparei, não estudei o que iria dizer-te, apenas fui eu próprio... coisa dificil nos tempos que correm sermos apenas nós, libertos de amarras ou de constrangimentos.


Combinamos encontro na entrada daquela casa em forma de cubo que tu frequentas com assiduidade e eu admiro pela forma e intensidade que dá a uma cidade em expansão cultural... esperei no fundo da escadaria até aquele momento em que te vi, reparei primeiro na armação vermelha sangue que te esconde o olhar e lá vinhas tu, com um ar doce e desprendido.


A primeira impressão, como dizem, é sempre a que perdura e a minha não podia ter sido melhor, fomos até um pequeno café ali perto trocar impressões, conhecer-nos um pouco, conversar, dialogar, sentir por intermédio de palavras... eu reparava na forma como tocavas nos óculos, o sorriso que percorre amiúde o teu rosto e me desarma, a forma como os teus olhos dão intensidade ao teu discurso... durou pouco, tinhas de voltar, contudo foi um inicio, o nosso.


No dia seguinte levaste-me a conhecer alguns locais onde paras, o tempo voltou a ser escasso e a conversa curta, porque não iamos sós e a noite já ia longa... mesmo assim, na escuridão mais ferrugenta pude reparar na alegria que transpira de ti, da forma como partilhas o momento com os amigos, o som do teu riso a sobrepôr-se à musica, a simplicidade/transparência e bom humor dos teus amigos... fiquei a pensar se ainda teria a oportunidade de estar a noite toda a conversar contigo, desde um assunto mais banal ao puro silêncio de um olhar.


Antes do meu regresso, pude partilhar uma história contigo... uma história feita de incompreensão, de medo do outro, de simplicidade incompreendida... foi bom ter ficado mais um pouco para partilhar essa história numa noite ventosa mas aquecida pelo teu olhar.


Se me perguntares, "valeu a pena?", posso responder-te sem rodeios que "sim"... o que me fica na memória? O teu sorriso, o teu olhar intenso, a tua alegria, a tua cultura e sobretudo a tua beleza interior e exterior.


Gostava de voltar, de ter a oportunidade de te mostrar mais de mim e saber mais de ti, como se fossemos dois seres em busca de uma revelação... senti que havia possibilidade para mais, com mais tempo... será sempre o Tempo quem dirá o que o futuro reserva, contudo, eu sei que não foi em vão que te encontrei...


Carpe Diem.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

BURACO NEGRO II

Imagem Google


Ainda a ver-me ao espelho desse mundo paralelo para onde me leva este imaginado buraco negro, encontro as mesmas dúvidas de outros: então e tudo às avessas não é mesmo mau??!!

Será mau que todos os milhões de olhos que vêm, diariamente, um pôr-do-sol, não possam deixar de o achar belo, não possam deixar de parar tudo para ver cair a noite entre o laranja e o anil?

Será mau que o canto dos pássaros seja mais importante que todas as palavras desperdiçadas a dizer dos outros o que nem sempre sabemos se são?

Será mau que as nossas mãos não saibam fazer um gesto de raiva por só saberem o sentido de uma caricia?

Mau mesmo é nem sabermos como começar a imaginar um mundo assim: com ódio a tudo que não seja belo e bom.

domingo, 1 de junho de 2008

Experiência 2



Enquanto tomava o meu café e lia o meu jornal da manhã descansadamente, ao lado duas amigas falavam acerca da vida (?!):
- Eu sou uma mulher com outros princípios e tenho um temperamento diferente. Não acredito que marido e mulher possam continuar amigos depois do divórcio. Casamento é casamento, divórcio é divórcio. É esta a minha opinião.
O divórcio, como o casamento não é uma simples formalidade, não é uma forma vazia de sentido diante dos responsáveis do registo civil ou da igreja, que nos ligam de corpo e alma até ao fim dos tempos, ou nos separam de vez e despedaçam os nossos destinos.
Quando nos separámos nem por um minuto me quis enganar em que ficaríamos "amigos"... Já não o éramos e fingir sê-lo era hipócrita, fiz-lhe mal, ele fez-me mais mal, seria ridículo eu não falar a certos amigos que me traíram e continuar a falar ao meu ex-marido que, mais do que traição, matou-me a alma.
A amiga, que se manteve calada até ao momento comentou:
- De alguma forma creio que tenhas razão mas, não sei, foram tantos anos...
- Ninguém retira a importância ao outro só porque deixa de lhe falar, apenas deixa claro que quer que a sua vida continue e a dele também. Além do mais, a manutenção de algo que se mata num momento mas se prolonga noutro, não te parecerá demasiado estranho?
Olhei-a de soslaio, era uma mulher ainda jovem com os seus 38 anos, bela e por sinal, resoluta. Levantei-me a meio da conversa, a meio do artigo e até a meio do café... Concordei com ela mas não queria que isso se notasse.


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