quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Vivências 63


Escrever sobre Natal... que coisa mais sem jeito e sem maneira...

Palavras para quê??? Mas depois... e eu, já se sabe, tenho sempre um depois... pensei, pensei e: correcto! Palavras mas com conteúdo. Sorri interiormente e dei-me conta da redundância, ainda assim... Ocorreu-me que talvez haja mais mensagem no subtil do silêncio inclinado de um não-dito, como no branco que fica do papel em que se escreve, do que num texto incompletamente cogitado e vago de uma ideia.

Há demasiada informação erudida até no acto de pensar um pensamento ou de sentir um sentimento... em mim, as palavras são por vezes barragens que irrompem sem mais nem porquê. Gasta-mo-las por acharmos que são nossas e crermos que, numa dada altura, foram nossa propriedade... mentira: outros já falaram, outros já sentiram... não somos originais. Nos dias que correm, creio-as imperfeitas, e muitas foram as vezes que sacrifiquei o conceito inenarrável tentando exprimir algo.

Para quem não sabe escrever e teve um dia, problemas na expressão, como acontece comigo, este é um constante dilema de perfeccionismo, uma faca de dois gumes: se por um lado a linguagem surge pela necessidade de comunicação, ao mesmo tempo acaba por subverter essa fuga da abstracção. E há todo um universo de subjectividade até só num "sim", num "pois" ou num "fui para casa às cinco da tarde" que a própria linguagem ás vezes me parece mais um muro de opacidade a rodear a totalidade suspensa das minhas intenções, do que o canal necessário para as verbalizar.

Parece-me (mas apenas de há pouco tempo para cá) que há uma especificidade progressiva nesta história da linguagem, uma necessidade de condensar as aptidões de inteligência e habilidade para dar num crescendo de manifestação instantânea do potencial, na amplificação máxima do indivíduo, ou na subdivisão em "existências" individuais, neste último caso, de modo a não ter que tratar algo no seu uníssono de visões e, à boa maneira do "divide and conquer", tratar cada uma de uma forma mais inteira..

Mas não sei, não acho que transformar uma imagem num puzzle e observar cada peça individual e minuciosamente seja a premissa necessária. No fundo depois dessa desconstrução e reconstrução, a imagem que surge é a de nós mesmos a montar o tal puzzle, desfigurando a suposta identidade a descobrir e manifestar num caleidoscópio interminável de "eus".

Acho que hoje, porque não sei o que escrever ou apenas porque não me ocorre assunto, que prefiro o traço imperfeito, o risco calculado... E pensando bem até há algo no rigor que não me seduz, talvez uma ausência de ansiedade, uma normalidade não desejada...

Sempre haverá naufrágios no que dizemos e fazemos e acabam por ser também um ingrediente essencial na matéria invisível do poema vivido. Nessa aceitação serena (não resignação) do desconhecido, do que não se controla, é que talvez se forme o túnel de luz por onde podemos levar uma vida, ainda que não exacta no seu traçado, plena nos seus significados...

Por isso: hoje, calo-me!


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