Há já muito tempo que os dias são todos iguais. Começam com o deitar à noite. O ritual de anos. Abordar os pés da cama. Tirar o roupão pesado, velho, cosido nos bolsos, nos cotovelos. O roupão que eu gosto. Aquele que nunca consegui dar para aos necessitados juntamente com tantas outras peças de roupa.
Há já alguns anos que desistiram de me oferecer ou falar em trocar de roupão. É ele que me liga à realidade. Como um cordão umbilical.
Lembras-te? Foi naquela viagem que fizemos, a nossa primeira viagem, a casa dos teus primos, que me convidaram porque nunca tinhas tido um homem na tua vida. Um homem que te fizesse assim, feliz “assim” e diziam eles que se estavas tão feliz eles queriam conhecer-me. Lembras-te?
Nesse fim de semana prolongado estava um frio de rachar e eu não tinha levado roupa suficiente. O teu primo desencantou este roupão velho que, dizia ele, estava ali para uma eventualidade e ainda bem que nunca se tinha desfeito dele. Não acredito que não te lembres… Lembras-te? O roupão estava-me tão grande que nos fartámos de rir com a minha figura. Nessa noite reunimo-nos a jogar um Trivial, todos sentados no chão da sala, a beber um vinho quase a martelo, daqueles rascos que dão uma ressaca do pior mas a dada altura já nem pensávamos nisso. E tu - lembras-te? – foste-te enroscando em mim, com o frio como desculpa para sentires o meu corpo junto ao teu e acabámos os dois dentro do roupão e os quatro numa galhofa. Lembras-te?
Quando regressámos o teu primo disse que eu podia ficar com ele, que “nos” servia e que “nos” ficava bem e a partir daí todas as noites frias os dois vestíamos o roupão. E dávamos a laçada e andávamos coordenados para todo o lado. E quando acabávamos por cair por desequilíbrio acabávamos a fazer amor – de modo que estávamos quase sempre a desequilibrar. Lembras-te?
Desde que te foste embora que o roupão me está grande. Desde que te foste embora que este roupão é grande, muito grande, porque faltas cá tu. Desde que te foste embora que tenho frio, mesmo com o nosso roupão. Desde que te foste embora que vivo o teu cheiro. Este roupão não é o mesmo sem ti. Não passa de uma casca sem vida onde me escondo da vida.
Há muito tempo que os dias são todos iguais.
Os dias são iguais há demasiado tempo: hoje vou ter contigo.
Há já alguns anos que desistiram de me oferecer ou falar em trocar de roupão. É ele que me liga à realidade. Como um cordão umbilical.
Lembras-te? Foi naquela viagem que fizemos, a nossa primeira viagem, a casa dos teus primos, que me convidaram porque nunca tinhas tido um homem na tua vida. Um homem que te fizesse assim, feliz “assim” e diziam eles que se estavas tão feliz eles queriam conhecer-me. Lembras-te?
Nesse fim de semana prolongado estava um frio de rachar e eu não tinha levado roupa suficiente. O teu primo desencantou este roupão velho que, dizia ele, estava ali para uma eventualidade e ainda bem que nunca se tinha desfeito dele. Não acredito que não te lembres… Lembras-te? O roupão estava-me tão grande que nos fartámos de rir com a minha figura. Nessa noite reunimo-nos a jogar um Trivial, todos sentados no chão da sala, a beber um vinho quase a martelo, daqueles rascos que dão uma ressaca do pior mas a dada altura já nem pensávamos nisso. E tu - lembras-te? – foste-te enroscando em mim, com o frio como desculpa para sentires o meu corpo junto ao teu e acabámos os dois dentro do roupão e os quatro numa galhofa. Lembras-te?
Quando regressámos o teu primo disse que eu podia ficar com ele, que “nos” servia e que “nos” ficava bem e a partir daí todas as noites frias os dois vestíamos o roupão. E dávamos a laçada e andávamos coordenados para todo o lado. E quando acabávamos por cair por desequilíbrio acabávamos a fazer amor – de modo que estávamos quase sempre a desequilibrar. Lembras-te?
Desde que te foste embora que o roupão me está grande. Desde que te foste embora que este roupão é grande, muito grande, porque faltas cá tu. Desde que te foste embora que tenho frio, mesmo com o nosso roupão. Desde que te foste embora que vivo o teu cheiro. Este roupão não é o mesmo sem ti. Não passa de uma casca sem vida onde me escondo da vida.
Há muito tempo que os dias são todos iguais.
Os dias são iguais há demasiado tempo: hoje vou ter contigo.
15 sakês:
Amei...bjos!
Não é justo falares do MEU roupão!
Porra, fartei-me de chorar!
:(
Oh... o objectivo não era esse.
Thunder, "amiga", está lindo... Vai ser o último post que vou ler antes de férias, porque está mesmo bonito! Parabéns! :)
Um beijo
Muito bonito Thunder... se este espaco der para conhecer mais deste teu lado, entao desejo-vos grande longevidade e muitas 4as feiras!
E as palavras não abarcam o sentimento que fica de ler as tuas linhas, fica o sentimento.
Agora só tenho um "petite" problema: e se já joguei a minha cartada mais alta?...
Quanto mais leio mais triste acho o conto...mas ao mesmo tempo está muito bom, digno de aplausos...
Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!
Doce, ondulante, nostálgico, gostei...muito.
Bjos
Tita
Obrigada, Tita.
Como as coisas materiais nos lembram sentimentos...eu também tenho o meu "roupão"...
Sei bem que a intenção não era essa mas, o sentimento não se controla... E isso torna o texto fantástico!
Mamma Mia!!!! Eu tenho que comentar isto!! esta excelente!!! eu tinha razão, tu defenitivamente nasceste para escrever!!! ainda vou ver um livro teu publicado!!!! Mulher tu esmeraste-te!!! PARABENS, PARABENS E PARABENS!!
Mulher tu és demais!!! essa tua veia literaria esta mesmo a revelar-se!!! ainda vou ver um livro teu publicado. PARABENS, esta muito bom!!!
Esta excelente, tal como tudo o que escreves. Mas nao achei triste. Achei lindo mas nao triste. Ate tinha um sorriso nos labios quando acabei de ler. Parabens!!
:-)
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