segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Vivências... 07


"Dra. Luísa boas férias e volte depressa."
17/08/2007
A si, Xavier que por esta hora já sabe que não vou regressar (pelo menos, não na celeridade que desejava):
(Ao leitor desprevenido e/ou insensível, esta carta não deve ser lida em forma de queixume, tristeza ou sequer como: "Oh pobre de mim tenham lá um pouco de compaixão". Para que fique, bem claro: MERDA para tudo isso, para todas essas pessoas e para quem julga que tem em si o dom da verdade... da dor e de mais não sei o quê!
O espírito das cartas há muito perdido, sempre me deu prazer e aqui reencontrei-o muitas vezes. Nas cartas que EU escrevia-a nunca perguntei o banal "Estás bem?" ou o bacoco "Gostava de estar contigo!". As cartas que escrevi e as que sempre recebi, reduziram-se sempre a descrever os dias que passavam muito mais lentos, certamente, sem presença daquela pessoa, fosse amigo, parente ou amante... Espantem-se os tolos, ainda as escrevo ainda a as recebo e são dos poucos momentos privados que guardo com o mais profundo dos carinhos.)

De novo: a si Xavier, que sei também, que não vai ler esta "Carta":

As férias não foram boas!

Talvez tenham sido um misto de adeus, dor, ausência e desespero.

Não interessa a causa, não interessam os actores em teatro tão deprimente... Foram então, o que tiveram de ser: um barco encalhado!

Gostava sinceramente, em ter cumprido, o seu amável desejo e portanto que elas fossem a execução se não do que se entende por "bom" pelo menos aquilo que descrevemos como aprazimento...

Assim, aqui fica uma descrição menos triste de um desses dias para não correr o risco de o enfastiar:

"Acordei todos os dias, com um sentimento profundo de descanso e de liberdade... como se o amanhecer permitisse o fazer-se tudo. Espreguicei-me prolongamente, quase não querendo sair dali.

O coração batia compassadamente e quase tão tranquilo como a minha alma... sorri. Olhei para o lado e ele estava ali, dormindo como sempre foi seu hábito, um pouco mais... Observei-o como todas as manhãs se deve observar o grande amor da nossa vida e, em em movimentos lentos, vesti-me e sai porta fora...

Chovia, um tipo de chuva mansa e miuda que fazia as crianças rirem e os mais velhos fugir. Coloquei as mãos nos bolsos, andei como se nada de facto me pudesse atingir e fui até à pastelaria mais perto...

Pedi o tal do café e ouvia sem querer as conversas alheias das vizinhas que não tinham vida própria... Voltei a sorrir... e creio, que teria na cara o tal ar estúpido de quem está de bem com a vida e com o mundo... pedi um café duplo, paguei e saí.

A chuva estava agora mais forte mas continuei de mãos nos bolsos impávida, serena como se nada fosse... Abri a porta, já estava acordado e beijo-me agradecendo silenciosamente o café que lhe trazia.

Permanecemos mais um tempo na cama observando-nos mutuamente... Ontem tinha chorado com medo de te perder, hoje já nada sentia para além da sua presença...

Beijámo-nos uma e outra vez, fizemos amor e pensei: "será a última vez!"...

Tomou banho como é habito e eu, como também é usual não!

Falámos acerca... e também...

Almoçamos, não recordo o quê!

Podíamos ter ficado ali sempre.

Podíamos apenas ficar numa espécie de semi-abraço a ler um dos livros que qualquer um de nós anda a ler...

Mas não.

Adeus, tenho coisas para fazer, sabes como é!

Adeus...

Não houve dia a seguir!

Xavier, já agora, não me leve a mal o desabafo mas, se pudesse: Não! Não voltaria ao trabalho!

12 sakês:

pensamentosametro disse...

Lindo texto, melódico em ondas suaves, como eu gosto, mas... livra um baixo astral desses só com um banho de "descarrego" no mínimo no mar morto, haja concentração salina...para cima menina, a vida é bela, vale a pena vivê-la, mesmo quando pensamos que não.

Bjos

Tita

Carpe Diem disse...

Como eu entendo essa sensação e é nestes momentos que as pessoas que nos rodeiam são importantes, são elas que nos puxam pra cima quando estamos em baixo e se vê quem realmente importa...

Não são aqueles q se riem connosco os mais importantes, mas sim os que se preparam para apanhar as lagrimas quando elas estão a cair.

Beijos
Nuno.

mor disse...

Me hate,
Isto está mau e confuso...

Nem sei o que escrever para lhe dar alento...

Quando o adeus é decidido, pensado, porque já não se gosta ou porque se olha noutra direcção, não se olha para trás.

Só se pode olhar quando já se tem distanciamento suficiente para relembrar boas recordações, sabendo que são passadas e que a outra pessoa já não é hoje a que foi para nós, quando a amámos...

Boa recuperação e reflexão.

Anónimo disse...

Pensamentos, imagina ent�o o seguinte: eu sou as ondas mas o temporal � tudo o resto... E sim a vida vale a pena vive-la deixa-me s� descobrir algumas coisas... � desse tempo que falo... para descobrir essas coisas...

Anónimo disse...

Carpe, contigo já falo... mesmo nosilêncio mas... já falo!

Anónimo disse...

Mor, não há de facto forma de alento, há decisão que se impõe e isso... está apartir de hoje às 14:10 a ser feito... Juro-lhe que não há Império Bizancio que trave qualquer conquista romana!

Anónimo disse...

o dom da dor, quem tem? quem tem?

múltiplo comum disse...

Postas as coisas nesses termos, não direi "continuação" de boas férias.
Mas sim melhores férias na "continuação" das ditas.
Hope so.

Anónimo disse...

Karvoeiro... o dom julgo que ninguém o tenha de facto... Serei apenas e só, dona da minha dor...

Anónimo disse...

Múltiplo, tens toda a razão... ;)

Anónimo disse...

discordo...

Anónimo disse...

Karvoeiro sim? Ent�o... porque??????


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