segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Vivências... 08


- Quanto tempo ainda me resta?
- Nenhum, ou todo se você decidir! A doença está lá, já se instalou... a única coisa que agora poderá fazer é tomar a sua medicação e tentar minorar alguns dos comportamentos com terapia adequada...
- Mas tem a certeza que sofro mesmo disso?
- Oiça Rute você preenche 6 dos 9 critérios. E para se sofrer deste transtorno em particular, você só precisava de preencher entre 4 a 5...
-Mas então diga lá todos... pode não ser, pode não ser bem isso...
- Passo a dizer-lhe todos os Critérios de Diagnóstico para Transtorno da Personalidade Borderline... e depois então digo-lhe dos quais você... sofre...
Você já concordou que tem aquilo que chamamos um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afectos com uma acentuada impulsividade, que começou no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, verdade?
- Sim mas...
- Então oiça, os critérios são estes:
  • (1) Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado.
  • (2) Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
  • (3) Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self.
  • (4) Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direcção imprudente, comer compulsivamente).
  • (5) Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante.
  • (6) Instabilidade afectiva devido a uma acentuada reactividade do humor (por ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias).
  • (7) Sentimentos crónicos de vazio.
  • (8) Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex., demonstrações frequentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).
  • (9) Ideação paranóide transitória e relacionada ao stresse ou severos sintomas dissociativos.

Infelizmente Rute você preenche o critério 1, 2, 4, 6, 7 e 8...

- Pois... é verdade... mas sabe ainda o pior é mesmo o sentimento de vazio... Tem de me ajudar, porque há dias em que de facto tudo parece não fazer sentido algum...

- A vida, nem sempre faz sentido em muitos casos, mas julgo que a sua fará ainda menos sentido em alguns dias... Compreendo-a e estarei sempre ao seu lado para a acompanhar porque posso dizer-lhe desde já que esta vai ser uma longa jornada... Rute, há uma parte da "corrida" que eu a irei acompanhar mas, saiba que depois... Haverá, a dada altura uma parte do "caminho" que terá de ser você a fazer...

- E isso acha que vai custar?

- Sim! Vai!

- E se eu precisar de si, da sua ajuda posso telefonar?

- Pode! Mas em última análise, só você se poderá ajudar a si próprio... Ainda assim, estaremos cá! Não está sozinha!

- Sim, por favor, então faça-me esse favor... não me deixe... não sozinha!

5 sakês:

Carpe Diem disse...

A Vida não é fácil mas se tivermos quem nos apoie nem que seja silêncio de um olhar td se torna mais simples... claro que parte do caminho temos de ser nós a atravessar, mas é sempre melhor se do outro lado do abismo tivermos alguém que nos diga: "salta que eu estou aqui para te segurar".

Beijos
Nuno.

Anónimo disse...

Concordo... o problema estará então quando nós passamos um ano, dois, a dizer isso à pessoa e a pessoa no ultimo momento, olha para trás e diz: "Caguei! Quero lá saber da cura... quero mesmo é boa vida e fazer aquilo que me dá na real gana!"

Para quem apoia e para quem sempre esteve do outro lado... de repente, o outro lado é um sitio muito solitário... mas enfim... fazemos as nossas escolhas e temos depois de pagar pelas mesmas, eu já entrei pela floresta adentro e vou querer desbravar novos caminhos... estas pontes, estes saltos, são-me já demasiado familiares e a dor já não se aguenta...

Fortissimo abraço!

pensamentosametro disse...

Ficar sózinho de vez em quando é bom, faz bem, ajuda-nos a arummar as nossas «gavetas».

Estar sózinho é a última fronteira o pior dos sentimentos a mais dura constatação.

Tita

Anónimo disse...

Bem sei... bem sei... e como...

redonda disse...

Parece muito real...


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