Ele queria fugir e não conseguia... imaginava remar contra a maré, tentando não se deixar apanhar por aquilo que as outras pessoas convencionam ser o mais correcto ou o mais certo... querendo ser livre, sem estar preso a convenções ou ideias de liberdade subjugada.
Ele queria poder correr o Mundo, sem se preocupar com o dinheiro que isso custaria... gostava de apreciar a beleza contida num gesto, sem que para isso tenha de imaginar qual o gesto equivalente para corresponder a um ideal corrompido de bem parecer... queria poder sair nu à rua, se para isso lhe desse vontade, apenas para corromper a ideia de que moda é andar vestido.
Ele queria poder andar no meio da rua e, sem mais nem porquê, começar a dançar... sentir a melodia a invadir a mente e deixar-se ir, sem que os outros que o rodeiam pensem que está louco... gostava de poder cantar ou assobiar enquanto passeia, exprimindo a alegria que o inunda ou, muito simplesmente, passar pelas pessoas e dar um bom dia, com um sorriso rasgado, mesmo que o dia esteja cinzento e a pessoa não seja conhecida.
Ele queria poder passar o dia todo a fazer amor com ela, sem pensar que tem de ir a algum lado... sem pensar que a cama tem de ser feita, que tem de se comer durante o dia, que tem de respirar... queria antes passar o dia todo a explorar-lhe o corpo, a sentir o batimento do coração, o embater dos corpos, o cheiro da pele, a suavidade dos labios, falar a linguagem surda do amor profundo... queria poder abrir a janela do quarto nu e gritar o seu amor, sem pensar nas consequências.
Ele queria poder aparecer no emprego apenas de t-shirt e jeans... dizer ao chefe aquilo que nunca teve coragem e sair porta fora com um sorriso nos lábios... queria poder dizer às pessoas que o rodeiam, 8 horas por dia, exactamente aquilo que pensa delas e não passar o dia todo com piadinhas ou palavras simpáticas... queria poder trabalhar num jardim a ouvir o barulho dos passaros e o Sol, quente, a bater-lhe no rosto.
Ele queria poder ser gordo e que os outros vissem que é belo por dentro... queria aproveitar os belos vinhos que tanto aprecia, comer alguns dos pratos mais pesados e que tanto prazer lhe dão, contornar a ideia de que apenas se sendo magro se é aceite... queria poder entrar no ginásio que frequenta e acusar a hipocrisia reinante daqueles (as) que só lá vão para engatar e mostrar musculos/peito ou rabo duro e os (as) que se inscrevem em Março para que possam espalhar o seu "charme" corporal pelas praias.
Ele queria poder ser rico para lutar contra essa "beautiful people" que apenas sabe dizer mal, vivendo de aparências e sem qualquer tipo de moral, que se entretém em jogos simulados de prazer ou num mundo de ilusão de capa de revista... queria poder entrar nesse "jet-set" apenas para gozar o momento e demonstrar a futilidade de toda essa vida de quem não sabe o quanto custa viver, porque tem tudo oferecido.
Ele queria ser uma gota afastada do resto da mancha de água e poder gritar a plenos pulmões "AGORA SOU FELIZ!!!". Depois acorda e sabe que está a sonhar, enquanto se arranja para mais um dia de emprego, olhando-se no espelho pensa para consigo, "um dia talvez...".
Carpe Diem.
2 sakês:
Em sonhos ele quis e foi e o sonho é arte em fuga.
Ele não quis vir ao Porto, não?!... :D
Bonito! Era tãp bom se pudessemos ser assim, incondicionalmente livres...
Enquanto o formos nos sonhos, já não é mau!
Gostei, bjk.
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