sábado, 15 de novembro de 2008

Era uma vez um ancião

Mesmo mesmo no meio do universo havia um mundo. E mesmo mesmo mesmo no meio do mundo havia uma floresta. E mesmo mesmo no meio da floresta, mesmo mesmo lá no meio, havia uma pequena aldeia. Tão pequena que já só tinha um casebre, um poço e, mesmo mesmo no meio, um pelourinho.

Essa aldeia tão pequena tinha apenas um habitante, um ancião que ninguém sabe que idade tinha porque ninguém sabia que ele existia, assim como ninguém sabia que a aldeia existia.
E o ancião também não sabia porque a última vez que ele falara com alguém já tinha sido há tanto tempo que ele próprio não se lembrava.
Ele também já não tinha noção do tempo que passava, ele só sabia que a seguir à noite vinha o dia e a seguir ao dia vinha a noite e que a seguir ao Verão vinha o Outono e a seguir ao Inverno vinha a Primavera.

O ancião já não ansiava a vinda de ninguém.

Durante muito tempo, que ele não se lembra nem quando nem quanto foi, ele esperou alguém.

Mas agora, passado todo o tempo que passou, o que ele espera é que não venha ninguém. Assim como desejou em tempos ouvir uma voz deseja agora que nenhuma voz se oiça.

Se alguém por lá passasse (que não passa porque ninguém já quer ir aos lugares que faltam descobrir porque acham que estão todos descobertos) ia com certeza ter muita pena do ancião. E se alguém por lá passasse nunca ia compreender como é que o ancião podia ser assim tão rude.
Na verdade ninguém poderia compreender porque todos estão sempre tão habituados e dependentes de estar rodeados de tudo o que é supérfulo que não lhes caberia no entendimento que alguém possa viver assim (E ainda por cima ser feliz, que horror, como é possível!! - quase dá para a ouvir as exclamações), com se "assim" fosse de um modo deplorável.

Por isso o ancião apenas ansiava uma coisa. Poder viver tanto tempo quanto quer que fosse o tempo que lhe restava sem que ninguém ali aparecesse para lhe roubar a paz. Todos os dias abençoava ter sido mais um dia a sozinho (mas não "só", que estar só e estar sozinho são coisas bem diferentes). E todos os dias sentava-se no pelourinho antes de ir para o seu casebre e olhava o céu. E todos os dias pensava no que seria que estava no centro do universo.

4 sakês:

João disse...

Já tentaste publicar estes textinhos?

Tens um dom..

M disse...

Belo texto e como eu compreendo ansião, não há nada como estar no meio do nada, sem ninguém á nossa volta, sem máquinas, sem tecnologias... também foi ali dita (escrita) uma grande verdade, estar só é muito diferente de estar sózinho!

2007friend disse...

Claro que sim concordo com esta ultima frase... Pois pode-mo-nos sentir sósinhos no meio de uma multidão... Pois gostamos de estar sós mas sózinhos!!! é só olhar a natureza...que bom é estar só com ela

V. disse...

Obrigada, pessoal :)


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