Entro na sala-de-banho, ponho a água a correr na banheira para um banho de imersão enquanto despejo sais relaxantes de cheiro a frutos silvestres no fundo. Acendo umas velas de cheiro a baunilha com aqueles fósforos longos. Ponho música a tocar. Solto o cabelo, dispo-me vagarosamente e entro na banheira. Afinal de contas não tenho pressa. O tempo não me controla. O relógio, parado há muito, não me apressa.
Imersa na água tépida fecho os olhos e descubro novos caminhos. Desvendo novos mistérios.
Imersa na água tépida esqueço o mundo, aquele lá fora, aquele que começa na minha pele, que é frio, distante, etéreo, aquele que critica, rejeita e julga e vivo o meu mundo de liberdade e satisfação.
Imersa na água tépida deixo-me adormecer e sonhar com outros mundos.
Acordo gelada, de pele encarquilhada quando a música acaba. Lá fora é já de noite. As velas estão no fim, consumidas de si mesmas.
Desperto e regresso ao mundo, ao mundo que não é o meu e não é o vosso, ao mundo que todos acolhe e todos rejeita.
A sala-de-banho está acolhedora. O cheiro doce envolve-me enquanto visto o roupão e troco de música.
O corredor, escuro da cor da noite, acolhe-me os passos como sempre, faz a sua vénia à minha presença e abre-me as portas da casa que me descobre na penumbra e se deixa explorar pelos meus passos suaves.
Entro no quarto de vestir, desfaço as malas vagarosamente e volto a adaptar-me ao meio. Tranquila reponho as peças de volta ao seu lugar com a precisão metódica habitual.
Regresso então ao corredor que me leva ao quarto de dormir onde a cama confortável me espera. Deito-me e fecho os olhos na busca de descanso desta viagem.
Cada dia é como o primeiro porque nunca sabemos quando será o último.