quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Vivências 17...

No primeiro dia sentimos uma espécie de frio que nos percorre a ponta dos dedos
e a extremidade dos lábios, depois há uma espécie de cegueira que nos coloca
num precipício e nos deixa dormentes. No primeiro dia, julgamos que
não passa...
No segundo dia criamos um qualquer tipo de imobilidade e ficamos com um
olhar inexpressivo, quase que acreditamos que aquela realidade
não será bem real, não será de facto. No segundo dia, julgamos que passa...
No terceiro dia temos a sensação de uma visão mais límpida de que, em todos
os poderes humanos, existe um delicado, ligeiro e quase imperceptível
desprezo por aqueles que dominamos. Só conhecemos a alma humana se
conhecemos, compreendemos e desprezamos (ainda que muito discretamente)
aqueles que são forçados a render-se. No terceiro dia, pensamos que passa...
No quarto dia, verificamos que não queremos que ninguém nos pertença de
facto, porque dando-nos conta desse desprezo que sentimos queremos
perdê-lo, não senti-lo, mas, ainda assim, temos um desejo meio obscuro,
meio secreto que ele/a seja só nosso/a, sem desprezo pela sua fraqueza porque,
logo de seguida se nos olharmos ao espelho, também somos fracos.
No quarto dia, o pensamento de que vai passar é mais forte...
No quinto dia, sentimos que as nossas alianças são demasiado complexas e
frágeis e, como todas as relações humanas: fatais. Têm de ser preservadas do
dinheiro, da pobreza humana e libertadas mesmo da sombra da inveja e até da
indiscrição. Bebe-se então para se entrar num êxtase momentâneo e armamos o
nosso circo. Os olhos ficam então injectados de sangue. Num primeiro momento
julgamos que vamos morrer, depois notamos que foi apenas o ritmo da nossa vida
que mudou. No quinto dia, acreditamos que passa...
No sexto dia, ficamos absolutamente contaminados com essa febre, essa fúria
que não tem origem em nenhuma bactéria, água, planta. Quem bebe só, safa-se mais
facilmente. Nos dias que passam, a paixão está escondida na vida, tal como o tornado
se esconde atrás dos pântanos, entre as montanhas e florestas. Há no sangue apenas a
fúria do dia que passa e rasga a pele, o coração e os nervos. Passa-se então, a adquirir
um modo rígido, brando, correcto, bem-comportado para que não seja possivel notar-se
a sua paixão... Mas no seu íntimo é diferente. No sexto dia sentimos que passa...
No sétimo dia, a composição do sangue altera-se. Altera-se mas não se torna menos
extravagante: a raiva contida transpira por todos os poros, a febre aumenta e
a paixão também. Os olhos já só choram sangue e todos os musculos do corpo doem
de forma indescritível. No sétimo dia, sabemos que mudámos...
não sabemos é se foi para melhor!

4 sakês:

Gi disse...

Pelo menos temos a certeza que mais uma semana se passou, que estamos vivos, com possibilidades de continuar ou/e acabar o que começámos, de recomeçar, se tropeçámos, temos a certeza que estamos vivos :)

Brunhild disse...

Mto bom! ;)

No entanto, no meu caso, eu tenho a certeza que não passa. Simplesmente porque não quero que passe...

Anónimo disse...

Gi, já passaram algumas semanas depois deste texto mas, garanto-te que só hoje é que começou a segunda feira!

Anónimo disse...

Bru, e não estamos todos no nosso direito de querer que por vezes, não passe? Se tiver de passar, certamente chegará o momento!


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