quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Vivências 18...


O teu cheiro como disseste e muito bem, um sábado destes, nunca se confundiu com o meu,
nunca se partilhou com o meu, nunca o cheirámos e, quem não soubesse diria que
teríamos apenas cheiro de perfume... fomos amantes numa época perdida, num tempo
parado só para nós, e parecia o reino, tinha, todo ele, adormecido.
Tinhamos, no entanto, risos semelhantes, livros partilhados e um sexo que ocorria,
na maioria das vezes de forma prazenteira, fluída e despreocupada, nunca apaixonada (já sei!)
mas com ternura, aquela que se espera dos amigos que se partilham e se vão partilhando,
inevitavelmente, uma vida inteira...
Chovia naquele sábado e nada faria supôr que nos levantássemos naquele ninho por nós
formado. Rimos quando afirmámos ao mesmo tempo: "Hoje faz-se dieta!". Dormiu-se na
forma esperada: em concha, enroscando maquinalmente o nosso corpo com o do outro,
e sempre que por vezes algo nos fazia acordar, ficavamos longos minutos a olhar-nos,
sem nunca perguntarmos: "O que se passa? Porquê?..." Depois falávamos do banal:
de como nos dava gozo ouvir os ventos fortes e a chuva brutal nas vidraças do tamanho de
paredes... Falávamos do Mundo: da política, das estatísticas, dos programas que viamos
do NG... Por fim, falávamos do casual: dos nossos amigos, dos últimos que viste e das
novidades que te contaram, dos que comigo se cruzaram e daquilo que rimos...
Chegámos à conclusão que, estavam todos "correctamente" casados, com muita filharada,
muita dívida e dor de cabeça... e que, não obstante, tal como nós, sentiam uma imensa
saudade de um tempo que hoje, só nós, é que ainda sentimos. Claro que fizemos o nosso
papel social e dissemos: "Oh como te compreendo!", não revelámos nada e, à noite, só os
nossos olhos consentiam essa sensação silenciada...
Queria muito nesse dia levantar-me... tu não! Queria muito ver o orvalho nas flores... tu não!
Então, enquanto lias, fui à varanda, estava de calções e uma t-shirt tua, descalça e, durante
minutos, o vento e a chuva bateram-me fortemente na cara e, o mar, lá ao fundo estava revolto.
Bateste na vidraça, pediste para eu voltar para dentro porque iria, certamente, apanhar uma
constipação, ri-me, disse-te que te amava muito e tu, ternamente, abriste a portada,
comigo fria e molhada, apertaste-me fortemente, quase que a chorar muito baixinho
disseste: "Eu também... tanto!"
Parou de chover entretanto, no segundo que se prolongou aquele abraço e, inesperadamente,
um sol vibrante e quente surgiu no horizonte aquecendo, de imediato, a casa. "Bom, parece que
ganhaste, vamos lá então a essa praia... Já sei, eu levo o livro, tu levas a prancha, eu levo a
paciência e tu levas... as toalhas???" - "Sim, é isso!!!" respondi-te, e de imediato comecei a
despir-me para colocar o bikini...
Tu fazias nudismo e, confesso, ainda bem, adorava olhar o teu corpo nu, ficava horas a contar
os teus sinais, a acariciar-te a pele bronzeada, a pentear o teu longo cabelo... Deitei-me um
pouco contigo na mesma toalha (a tal king size) que tu odiavas, despi-me também e, enquanto
lias, fazias-me festas ao longo das minhas mãos e chamavas-me lagarto, deitava-me em cima
do teu peito e dormitava descansadamente. Dormiste a dada altura também, com a cabeça
pacificamente poisada sobre o livro, tirei-to da cabeça e ajeitei-a. Abriste levemente um olho,
sorriste e disseste: "Obrigada... por tudo!"
Peguei na minha prancha e fui para o mar, havia possivelmente mais dois ou três surfistas,
um pouco mais longe, de resto a água, tal como a praia estavam desertas. Apanhei três,
quatro, cinco ondas e o mar estava espantosamente calmo. Não sei o que sucedeu, juro-te, mas
aquela última onda vinha numa formação perfeita, perfeita demais para se perder, apanhei-a
bem, cortei bem todo o tubo e, ao meio, sei que olhei para a praia e tu continuavas a dormir,
creio que terá sido ai que me desequilibrei porque a ultima coisa de que tenho recordação, é
da brutalidade da onda que, a cada metro, me atirava mais fundo, olhava para cima e só via
espuma, bolhas e os raios de luz perfurando todo aquele grande azul...
Tentei, com todas as forças nadar em direcção à superfície... ainda senti alguém mergulhar,
ainda senti a areia da praia mas, acima de tudo, naquele último momento, senti por fim, o teu
cheiro e julgo que foi uma solitária lágrima tua que me percorreu o lábio inferior.
Continuo a amar-te a ti e à tua "prisão"...
Continuo a amar o mar e a sua "liberdade"...
Continuo aqui... Para bem e para o mal!

4 sakês:

Carpe Diem disse...

Por vezes não existem palavras para comentar o que é da ordem do belo e maravilhoso... apenas posso dizer que é belo amar assim e poder "morrer" com a lagrima ou o coração cheio de quem amamos.

Beijos saudosos
Nuno.

V. disse...

De novo te digo que é difícil comentar o que escreves, quando as palavras são supérfulas o silêncio é o melhor que se pode dizer.

Beijocas

Anónimo disse...

Nuno, o amor é uma invenção judaica, cristã, muçulmana e o raio que a parta para nos lixar a vida! E com isto me despeço que faz-se tarde e hoje ainda quero odiar qualquer coisita!

Anónimo disse...

Mim... as minhas palavras são supérfulas???????? As minhas?????? Ai que temos pancadaria!!!! IIIIIIIUUUUUUUUUPIIIIIIIIII!!!

Kidding, just kidding, percebi mas, de supérfula sabes bem que não tens nada!!!!!

By the way, quem não gosta de vez enquando ser superfula???!!!


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