Certo certo é que ainda não tinha acordado totalmente. Apesar de já ter passado uma hora desde que o despertador tinha tocado, todas as tarefas matinais rotineiras tinham tido uma precisão meramente maquinal, desde o levantar ao café e cigarro antes de sair de casa. Mas certo certo é que, como eu dizia, ainda não tinha acordado totalmente, coisa que não se devia fazer fora de casa - acordar totalmente - sabe-se lá o que aconteceu pelo caminho!
Mas, dizia eu - que mania de me perder entre pensamentos e acrescentar mais uns pormenores sem importância nenhuma, certo, certo é que ainda não tinha acordado totalmente e vai de ainda estar meia letárgica e achar que era uma patetice mas aquela luz estava diferente, a luz que me chegava pelo canto do olho, não a que me espreitava de frente por trás da esquina da casa.
Claro que me voltei para trás para perceber o que era e juro-vos que o que me salvou foi ter a tensão baixa, que quando dei de caras com ela fiquei logo acelerada e foram-se os restos de apatia que me sobravam da noite mal dormida.
Ao olhar para o sítio de onde vinha aquela luz em brilho fragmentado - perdoem-me a falta de eloquência mas não sei que outra expressão usar - não dou de caras como disse no parágrafo anterior - claro que vocês, bons leitores que são para mim, captaram a ideia na expressão utilizada - por nos ser a ambas fisicamente impossível, fisicamente em dois sentidos, o primeiro porque ela não tem cara e o segundo porque a ter estaria ao nivel da minha pube, mas deparo com o tenebroso, mais que tenebroso - sinistro!, cenário dela lá instalada, e oh! que bem instalada estava ela mesmo no centro daquela trama ardilosamente tecida. Lá estava a dita, velhaca instalada no covil, à espera.
O cenário, podem crer, era medonho. Na teia, enorme acreditem(!!), reluziam ainda as gotas de orvalho que resistiam estoicamente ao sol da manhã e mais firmemente ainda à sede da fera. Espalhadas ao acaso cascas de outrora viris moscas esvoaçantes estavam prisioneiras na teia e nem as sobreviventes se atreviam a reclamar os despojos porque ali estava ela, de olhar triunfante, a dona do covil, a senhora das oito patas. Ela viera, chegara e conquistara o território. Só não ria maleficamente porque as aranhas não riem, muito menos maleficamente, mas que lhe ia assentar muito bem um sorriso maquiavélico, lá isso ia, garanto-vos.
Pois foi nessa manhã que me tornei heroína aos meus próprios olhos - que não o sendo aos olhos de ninguém posso muito bem aos meus ser o que eu quiser e nesse dia asseguro-vos que me tornei fã de mim mesma.
Entrei em casa decidida dos passos a seguir. Tinha a estratégia bem definida mentalmente. O plano devia ser seguido ao pormenor. Não havia espaço para dúvidas ou falhas, a missão era arriscada mas tinha-me sido confiada, logo e justamente a mim, valente cagarola que foge (fugia!!) do mais raquítico aranhiço pateta (por favor não leiam aqui "pátéta"; leiam antes "pâtêta" que as aranhas têm patas e não pernas, logo perneta nunca podia um aranhiço, raquítico ou não, ser). Sem margem para hesitações abri a porta da dispensa. Todos os segundos eram cruciais para o sucesso da operação "morte à aranha tenebrosamente assustadora". Peguei no spray mata-moscas (mas que é que querem? Ainda não fizeram um mata-aranhas!...) e corri para o alpendre.
Respirei fundo. Sem dó nem piedade e muito decidida posicionei-me de frente para ela e sem um adeus sequer, sem misericórdia nenhuma carreguei no spray e fiz sair uma dose, pensava eu letal, de veneno.
Mas querem saber o que aconteceu? Pois a venenosa iniciou a fuga não demonstrando o mínimo sinal de ter sido afectada. Missão abortada? Não!! A saga estava apenas a começar, a corrida contra o tempo, a batalha entre a minha coragem e a veloz fuga da monstra. Eis que ela põe aquelas oito patas a mexer e ala que se faz tarde! desata a correr teia abaixo. Nisto eu volto à carga e despejo-lhe mais spray em cima, desta vez uma quantidade maior. Como resposta a tipa desenovela um fio e começa uma fuga descendente em direcção aos malmequeres do canteiro. Nessa altura percebi que tinha que ser mais rápida que ela se não queria perder a guerra para sempre.
Agarrei a lata com força com as duas mãos e despejei sem interrupção o vapor venenoso até ela dar sinais de estar combalida. Nessa altura não interrompi, claro que não, continuei até ela tombar. E não satisfeita com ela ali, pendurada pelo fio de patas recolhidas, despejei ainda mais. E pelo sim pelo não abanei o arbusto, nunca se sabe se ela estaria a fingir-se de morta e ia esperar que eu me voltasse de costas para me atacar com menos misericórdia do que eu a ataquei a ela.
Por fim estava tudo terminado. Ela jazia ali à espera das 17horas, hora em que viria o meu salvador de aranhas buscá-la e mandá-la para bem longe - para um sítio qualquer onde os meus olhos não chegassem.
Ainda hoje recordo essa manhã com nojo.
sábado, 25 de outubro de 2008
Imaginariamente real
Há umas manhãs atrás, ao entrar no quintal, um brilho diferente chamou-me a atenção. Do meu lado direito havia qualquer coisa diferente. Podia ser a luz, podia ser o brilho ou podia não ser nada e ser uma mania minha - uma entre tantas e tão importante como outra mania qualquer de quem tem a mania que não tem manias.
Sabor a Thunderlady
Servido por V. eram 19:48:00
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5 sakês:
Eu sinto-me realizada... Há dois anos que sou capaz de matar esses bichinhos todos...
Quer dizer, aqui há tempos chamei o senhor meu pai para matar uma barata quando a vi na casa de uns amigos, mas, argumentei que se deveu unicamente a não querer sujar a sala da senhora!
Pronto, assim nasce uma "Serialaranhakiller". Fujam aranhas, fujam.
Bjos
Tita
Black e Tita, vocês sabem lá o que foi aquela aranha, vocês nem sabem!
:)
Dependendo do bicho e do seu tamanho eu até encaro...:)
Mas fico sempre com aquele asco..credo!
Boa semana.
Olá Myllana, vouarranjar uma fotografia e mando pro teu mail. cuidado com o susto!!
:)
Era h-o-r-r-í-v-e-l
obrigada pelo comentário, boa semana!
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