"Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. (...)
A cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há que ser instruído, para encher com coisas do espírito as longas noites do coração (...)....
Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjôo. (...) Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, "a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego".
Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia."
Machado de Assis, Vae soli: "Gentil viúva...", 1892
2 sakês:
"Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjôo. (...) Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, "a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego".
Muito bem visto!!
Obrigada! Acho...
Enviar um comentário