quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Imaginário IX

Durante muitos anos passei por aquele sítio. Já tinha ouvido que teria sido uma escola... uma prisão e até um talho.

Um dia entrei. Hoje em dia é um "comes e bebes". Bolos muito bons, vista ainda melhor.

Subi as escadas. Sentei-me à janela.

Demorei o olhar sobre o forte, coberto de heras que escondem pedras sólidas e centenárias, imaginando quantos lá viveram e o que lá fizeram. Quantos barcos viram chegar, quantos abraços deram, quantas lágrimas choraram.

Fixei o olhar no rio, olhei a outra margem, o areal, as gaivotas, os barcos.

Lá em baixo ouvem-se crianças a correr e vive-se o dia-a-dia da vila.

Sentada à janela imaginei-o na escola. Pequeno, franzino, imaginei-o traquina... não sei porque o imaginei traquina. Ele, que era tão calmo e compreensivo. Mas imaginei-o traquina, distraído, bom aluno e cumpridor. Apenas reguila. Imaginei-o a falar com o colega da carteira mais próxima, imaginei uma professora de carrapito branco, óculos na ponta do nariz, o mapa de Portugal pendurado ao lado do quadro de ardósia e os meninos sentados a aprender as lições.

Imaginei-o a fazer contas de somar e dividir enquanto pensava que não estava com o pai na pesca e imaginei-o chegar a casa, dar um beijo à mãe enquanto ela lhe perguntava se tinha aprendido muitas coisas. Imaginei-o com os irmãos a estudar as lições, à pressa, antes de ir fazer travessuras com os seus amigos.

Imaginei-o a sonhar com o futuro. O que seria quando fosse grande. Que gostava da pesca mas não queria ser pescador. Que queria ser mais, um sábio, estudar e aprender muitas coisas para ensinar aos filhos e aos netos. Imaginei-o a pensar que ia casar com uma moça airosa, de cabelos longos e carinhosa, que à noite, ao chegar a casa o iria abraçar e teria sempre uma goludice para ele para sobremesa.

Imaginei que falava com ele e lhe perguntava se alguma vez, sentado naquela sala, imaginou que um dia ia ser avô.

5 sakês:

ThunderDrum disse...

Muito bom!

Bjokas

V. disse...

:) Nem preciso de te dizer de onde veio... não é?

pensamentosametro disse...

Eu sei que é repetitivo, mas ler os teus imaginários é sempre um momento de grande satisfação. O teu avô era um homem ligado ao mar? Tem piada, o meu também.

Bjos

Tita

V. disse...

O meu avô era natural de V. N. Milfontes. Sei relativamente pouco sobre ele, o meu pai nunca me fala de coisas dele. Morreu quando eu tinha 12 anos e é, até hoje, a perca que mais lamento.

Ele existiu, estudou na tal escola que hoje é a Paparoca, mas tudoo resto... é imaginário :)

Anónimo disse...

Gosto do texto... da forma como está escrito e daquilo que me fez sentir... um pouco de sonho!


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