segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Vivências 12...


Ouvindo Amy Winehouse na sua melodia mais bem conseguida "Black to Black", recordo a historia do Henrique...
50 anos, 30 e tal de toxicodependência.
Muitas vezes a tentar mudar de vida...
Ainda mais vezes a tentar eventualmente, mudar de hábitos...
Companhias, amigos, sítios...
Por fim, depois de muito tempo de esforço, alugou uma casa, tinha encontrado um emprego: "O patrão é uma gentil pessoa, à moda antiga!"
Tinha decidido naquela noite estrelada que lhe amansava o coração como um manto quente que, amanhã telefonaria ao filho que não via também, há coisa de 30 e tal anos...
"Devia estar um homem!" o pensamento embalou-o pela noite.
No dia seguinte, em muitos anos, acordou pela primeira vez com um sorriso franco e sincero...
Telefonou ao Bruno, do outro uma voz trémula quando ouviu:
- "Filho sou eu..."
- "Sim... pai... então e como estás?"
- "Bem. Com saudades tuas... Creio que já nem me lembro da tua cara... queria que soubesses que tenho uma casa, que estou recuperado, que tenho um emprego, que te posso ajudar... gostava que viesses cá um destes fins-de-semana, só para te ver, não precisas de demorara muito se não quiseres..."
- "Oh pai... pois... quer dizer..."
- "Compreendo... não podes! Tens a tua vida, as tuas coisas!"
- "Não... preciso de saber só se a mãe me empresta o carro!"
Assim ficou, marcado para dali a 5 dias.
O Henrique mal viu o Bruno, não cabia em si de contentamento.
Almoçaram numa tasca que segundo diziam tinham uns belos petiscos, e tinha mesmo.
Decidiram dar uma volta na pequena vila onde agora o Henrique vivia com medo da cidade, daquilo que lhe lembrava outras coisas.
Por fim, o Henrique lembrou-se que podiam ir a uma das praias fluviais que havia em fartura na zona... O Bruno acedeu, estava calor.
Não havia muita gente, estavam acompanhados apenas por um casal que namorava alegremente.
Falaram da mãe, como estava o que tinha feito, falaram da namorada do Bruno e de como gostava dela e até já lhe sentia algumas saudades das curtas horas que ali estava... O pai sorriu e pensou "Está bem, feliz, que bom!".
Tudo mais ou menos que se quer para um filho, ao fim de 30 anos.
"A tua mãe fez um bom trabalho e creio que o teu padrasto também não deve ser má pessoa!" Sorriu-lhe e piscou-lhe o olho.
O sol estava de facto quente, o Bruno comentou:
- "Que sitio agradável de facto. Vou dar um mergulho!"
- "Espera lá, as águas aqui são um pouco como as mulheres: cheias de manias!"
Mergulhou...
Lá em cima, ninguém sabia, tinham aberto as comportas da barragem...
De repente o pequeno riacho tornou-se num imenso mar tortuoso...
O Bruno só teve tempo de ver o pai desaparecer no meio da turbulência...
Passados dois dias deram com o corpo vários metros abaixo dos pequenos rápidos...
Verteu-se uma lágrima...
Apenas uma, por tudo o que ficou por cumprir!

10 sakês:

Carpe Diem disse...

Simplesmente assombrosa a forma como relataste este momento... isto apenas é exemplo de que devemos aproveitar os pequenos instantes da Vida...

Não devemos ter medo de dizer o que sentimos, mesmo que não sejamos correspondidos... não devemos abandonar aqueles que nos querem bem... n devemos ter medo de retomar uma amizade mesmo que tenha sido a separação causa nossa...

O mais doloroso é viver com a ideia de que poderiamos ter feito mais, ou que poderiamos ter feito de outra forma...

O Henrique pelo menos teve a chance de mudar e de rever o filho Bruno, mas o destino nem sempre nos deixa mais felizes...

V. disse...

Bruno deu uma oportunidade ao Henrique, foi bom ler sobre o reencontro. Desde que não se culpe pela morte do filho, espero que isso não aconteça...

pensamentosametro disse...

A tua "suave violência", abordando um assunto que me toca particularmente. Mesmo que por breves instantes vale a pena poder dizer: VENCI!!!!

Bjos

Tita

Anónimo disse...

Nuno... o destino, raramente, nos deixa felizes... contudo, o vislumbre da felicidade que termina de forma abrupta, é preferivel do que nunca senti-la de todo? Não sei...

Anónimo disse...

Thunder... foi o pai que depois de todo o esforço de ter à sua frente uma possibilidade de nova vida, morreu.

Anónimo disse...

Tita... na vida temos sempre, pequenas vitórias, pequenas derrotas... no fim... nada disso parece importar se ao menos no ultimo segundo fomos felizes... ou não, ou não!

V. disse...

Me Hate, uma falha na interpretação e muda alguma coisa. Li Bruno e assimilei Henrique...

Carpe Diem disse...

Ana... na minha opinião é porque acho que mais vale sentir algo intensamente, ainda que dure pouco, do que nunca vir a sentir nada... o ideal seria que essa forma intensa se mantivesse mas nem sempre depende de nós, infelizmente...

Anónimo disse...

Thunder: cool! Sem problemas!

Anónimo disse...

Se depender de mim: a vida intensamente vivida irá manter-se!


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