quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Imaginário XVII

Sentei-me à secretária depois de a ter limpo cuidadosamente.

O estado de caos em que se encontrava não me permitia ter o mínimo de concentração. E como eu precisava de concentração. Precisava de me concentrar não tanto para escrever mas para separar os sentimentos que se começavam a aflorar, a invadir o “meu” espaço intelectual, sentimental, emocional de segurança. Se não conseguisse acalmar estes sentimentos que emergiam que nem monstruosos seres hediondos dentro de mim corria o risco de ser mal interpretada. De não dizer o que realmente queria. De me perder em detalhes que não eram o mais importante.

Assim comecei por limpar a secretária. Com o antebraço afastei toda a papelada e objectos que se iam acumulando lá em cima. Tudo o que eu ia depositando enquanto dizia “a ver se um dia destes dou um jeito nisto”. Hoje era “um dia destes”.

Apesar de saber exactamente onde estava cada coisa preferi mandar tudo para o chão. Deixar que os objectos se misturassem para que eu não soubesse de olhos fechados onde estavam. Tinha que perder esta mania de caos organizado, tinha que perder esta mania de que “eu sei onde está tudo e quando começar a arrumar mentalmente sei onde vou pôr cada coisinha” porque era por causa de pensares destes que cada as coisas se iam acumulando cada vez mais.

Por isso tomei esta decisão. Apesar de ter muita pressa para escrever para não me esquecer de nada do que queria dizer-te, preferi arrumar primeiro. Arrumar a secretária, arrumar os sentimentos.

E não me perguntes por que é que arrumar esta me ajuda. Não me perguntes porque preciso de a desarrumar para a voltar a arrumar. Não me perguntes porque é que, estando arrumada pelos meus padrões precisei de alterar tudo para colocar as coisas em sítios diferentes e porque é que isso tinha que ser feito antes de escrever.

Só sei que quem olha para ela a vê arrumada. Arrumada e limpa. Eu sei que está tudo mais caótico que antes. Agora não sei onde estão as coisas. Mas enquanto as “desarrumei” ordenei outras coisas, agora os sentimentos estão arrumados.

No fim fui buscar uma vela de cheiro.

Está aqui do meu lado direito. Alumia e aquece. Olho para ela e perco-me a ver a sombra da chama na parede, as formas que a cera forma ao derreter. E começo a escrever.

4 sakês:

pensamentosametro disse...

Concordo, só a "arrumação" dos sentimentos interessa, nem sempre é fácil, arrumá-los, têm aquela mania única, exclusiva, de se revolverem constantemente em turbilhões difíceis de arrumar. Gostei, olha, acalmou-me o meu turbilhão.

Beijos

Tita

wednesday disse...

Arrumar os sentimentos é importante e permite tomar resoluções sobre a nossa vida a curto prazo. Já o arrumar o caos desorganizado é sempre mau, pelo menos para mim. É que depois nunca sei onde estão as coisas. É que eu sou mesmo assim: muito organizada, mas isso não implica que seja visível.

ThunderDrum disse...

Gostei da (des)arrumação.

No próximo publicas o que começaste a escrever? ;)

Bjos

hibrys disse...

WEEEEEEEEEEEEEE!!! Ela voltou:)Muito bom como sempre;)


Blog Design by ThunderDrum. Based on a Blogger Template by Isnaini Dot Com and Gold Mining Companies. Powered by Blogger