sábado, 16 de fevereiro de 2008

Imaginário XXIII

Foi quando senti o "baque" que fiquei na dúvida se teria adormecido ou não. Pelo levantar brusco da cabeça sim, mas não tinha ideia de ter perdido pitada da viagem.
Depois de parar completamente o carro e garantir que ela estava bem olhámos uma para a outra e para a frente ... e de novo uma para a outra.
Creio que na nossa mente se formou a mesma pergunta: "Mas onde raio estamos nós?"

Ainda incrédulas e olhos nos olhos a primeira reação foi, claro, rir. Depois, já mais calmas, uma de nós disse: "Onde está a estrada?"

Foi bastante estranho. Vínhamos na auto-estrada, era de noite, tínhamos saído de casa.. de casa? A bem dizer eu não me lembrava bem de onde tínhamos saído. Perguntei-lhe: "Lembras-te de onde viemos?" "Claro! Não te lembras que saímos de... não, não me lembro." "Não te lembras de onde vínhamos, mas estávamos a ir para casa, isso eu sei. Viemos pela auto-estrada. Que sítio é este?" "Não sei. Temos aqui o mapa..."
Não a deixei acabar. Isto não era normal. Conhecíamos bem aquela auto-estrada, não havia nenhum aglomerado populacional ali perto, aquela zona era como um deserto, melhor dizendo, uma floresta. De onde tinha surgido aquela aldeia? De onde tinham vindo aquelas casas tão... diferentes, nada características daquela região e muito menos de Portugal.
"Mapa? Sara, tu conheces isto tão bem como eu, isto não existe. Olha bem à tua volta. Estas casas não são comuns, esta vegetação não é comum, esta luminosidade não é comum... NADA do que aqui está é comum! Por isso... ONDE RAIO ESTAMOS NÓS??!" - gritei eu quase em pânico.

Saímos do carro. Não era possível nem sequer avistar a auto-estrada, mesmo que tivéssemos adormecido as bandas sonoras teriam sinalizado que estávamos a desviar a rota. Teríamos embatido no separador metálico. Não era normal, o carro estava intacto, nós estávamos intactas. Lembrei-me deles. Os nossos homens vinham num outro carro atrás de nós. Onde estão eles? Porque raio não buzinaram, porque raio não vieram atrás de nós?

Ao sairmos algumas pessoas vieram ter connosco. Palavras como "Bem vindas" ou "Vão ver que vai correr tudo bem" eram dirigidas a nós.
E nós completamente estupidificadas. Mas quem é esta gente? Como sabiam o nosso nome?

Uma senhora simpática e afável veio "receber-nos"; pediu que fôssemos com ela. Pedimos-lhe que nos deixasse telefonar. Ela sorriu e murmurando que era normal que nos parecesse tudo estranho e ao início fosse um choque nos íamos habituar, que era bom, ao mesmo tempo que acenava com a cabeça em sinal de assentimento. "Vão ver que... bem, vocês descobrem por vós mesmas."
Os telemóveis estavam "mortos", rede nem vê-la. Era como se tivéssemos entrado na 5ª dimensão.

Queríamos tanto explicar que tínhamos que sair dali, que havia quem esperasse por nós, que estariam preocupados connosco... recebemos em troca sorrisos complacentes de compreensão. Algo se passava.

Fomos recebidas na casa maior onde cabíamos todos. Suavemente alguém nos disse que ninguém nos esperava. (Agora) seríamos nós quem esperaria por alguém. Que com sorte esse alguém se despistaria no mesmo sítio que nós ou num raio próximo e seria acolhido naquele agrupamento.

Afinal o paraíso tinha vedações.

3 sakês:

ThunderDrum disse...

Gostei muito, mas não atingi bem o final...

Carpe Diem disse...

Uma bela historia de dimensões paralelas... gostei muito, fiquei com a ideia de que vocês seriam, no fundo, as almas que ajudariam aquela pessoa a integrar-se mas depois regressariam de novo à vida... um momento de coma, talvez?

Beijos e continua sempre assim
Nuno.

pensamentosametro disse...

E bem altas.


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