Havia flores de todas as cores, de todos os tamanhos, de todos os feitos. Todas as flores eram adoradas por todos.
Mas a nossa flor, a personagem principal da minha história, não se sentia muito adorada. Tinha sempre a impressão que não gostavam dela. Ela via que todos os dias que as outras flores tinham muitos insectos de volta delas, insectos voadores, insectos rastejantes, insectos maiores ou menores, mas todas tinham... excepto ela.
Então a nossa flor vivia muito triste, sentia-se muito só. Ouvia as outras flores rirem e conversarem entre elas e ela... bem, ela nunca se sentiu muito à vontade para meter conversa com elas, é certo. Ela sentia que se dissesse qualquer coisa iria intrometer-se, invadir algum espaço e optava por ficar calada.
Às vezes, quando se atrevia a olhar em redor para outras plantas, se por acaso os seus olhos se fixassem no de outras, tinha a sensação que nem sequer devia estar a olhar para aquele lado. E então sentia-se muito triste.
Um dia, quando um pássaro grande pousou ao pé dela, ela pediu pássaro, podes levar-me para outro sítio? e o pássaro respondeu que poder até podia, mas se a levasse ela morria porque ela tinha uma raiz e se a raiz saísse da terra ela morria de fome e sede. O pássaro viu as lágrimas escorrer pelas pétalas da nossa flor abaixo.
Sabes pássaro, estou tão triste, não tenho amigos, nenhum insecto me visita, estou tão só... e o pássaro disse que era natural. Natural? perguntou a nossa flor, sim, natural, disse o pássaro. Desculpa pássaro, mas não percebo porquê. Eu nunca fiz mal às outras flores nem aos insectos. Pois não flor, mas tu és a mais bela das flores deste jardim e isso assusta as outras flores.
A nossa flor não percebia isso. Eu? Mais bonita que as outras? Não sei, mas não me interessa, isso não é o importante, penso eu. Este jardim precisa de todas as flores para ser o jardim mais lindo, mesmo que elas achem que eu seja a mais bonita, se todas as flores fossem iguais a mim este jardim era muito monótono, não achas, pássaro?
O pássaro tinha a certeza que sim, mas já tinha vivido muito e sabia que ia ser sempre daquela maneira e que muitas flores lhe iam perguntar o mesmo que a nossa flor.
Sabes flor, tu és a mais bela e diz a lenda que para castigo tens espinhos. Que estás condenada a pela tua beleza a ser abandonada pelas outras flores e pelos teus espinhos a que os insectos tenham medo de ti. A tua vida não vai ser fácil, a não ser que encontres um modo de mostrar que os teus espinhos não magoam e que a tua beleza não ofusca.
O pássaro voou para outras paragens. A flor ficou no jardim. Pensou muito no que o pássaro lhe disse e pensou que se era assim tão bonita e ao mesmo tempo tão tímida então seria provavél que as outras flores a achassem arrogante e não quisessem conversar com ela.
Um dia largou um espinho. Doeu muito mas pensou que era um sacríficio para conseguir um amigo. Um insecto aproximou-se e viu que ela tinha perdido o espinho. Começaram a conversar. Quando o insecto espalhou a notícia outros insectos vieram ver o que se passava e a nossa flor pôde mostrar que não era só espinhos e pétalas bonitas, que também tinha sentimentos e que estava só.
O ciúme inicial das outras flores e plantas passou. Começaram a conhecer a nossa flor.
Ainda hoje o jardim vive alegre com harmonia entre todas as flores, insectos e plantas. Todos se aceitam e conhecem uns aos outros. Todos perceberam como as aparências iludem.
sábado, 5 de julho de 2008
Imaginário XXIX
Era uma vez uma flor que vivia com outras flores num lindo jardim.
Sabor a Thunderlady
Servido por V. eram 12:43:00
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 sakês:
:)) pois iludem e nem sempre pela positiva
Acho que o maior problema da sociedade é esse viver sob as aparências e depois, perdem-se coisas que são magníficas e ganham-se, outras que "não prestam".
Tento procurar o que existe debaixo de todos os espinhos deste "mundo" e muitas das vezes encontro coisas e pessoas maravilhosas!!
E às vezes pensamos que estamos certos num julgamento e não poderíamos estar mais onge, né?
Enviar um comentário