sábado, 19 de julho de 2008

Imaginário XXX

Quando Suzette passou naquela rua lisboeta super-mega-fashion hiper-movimentada ficou horrorizada com um pedinte que por lá andava.
Tirou da sua mala mega-dispendiosa (a bem dizer só aquela mala devia chegar para pagar uns mesitos de renda numa pensão pulguenta ali no Martim Moniz) um lenço rendado bordado perfumado que fez chegar ao nariz à boa maneira das damas da corte francesa de um qualquer século perfumado e revirando os olhos aproximou-se do homem.

- Olhe criatura, você está aí todo andrajoso, mete dó, venha comigo.

E a criatura, embasbacada, lá foi atrás de Suzette, entraram no seu Jaguar com estofos de pele, sempre com muito cuidado para não conspurcar a viatura e chegaram à mansão da senhora - dizia-se ela

- Criatura, você tem nome? Que número veste e calça?

Depois de saber as medidas mandou Jarbas, o seu criado pessoal musculado, à farmácia para comprar quitoso e uns produtos de beleza para a criatura que já entretanto se tinha identificado como Norberto e ao costureiro para que lhe desenrascasse uns dois fatos completos, não era preciso ser de gala, fatos assim para o dia-a-dia da criatura, ai, do Norberto.

Entretanto Norberto era enfiado numa banheira, limpo até aos ossos, dentes escovados, cabelo lavado e cortado... enfim, Suzette nem queria acreditar que debaixo de tanto estrume estava uma criatura que até parecia um senhor.
Norberto, coitado, não era tido nem achado e cada vez que ia abrir a boca para dizer que os ideais (a bem dizer já nem se lembrava quais eram tal foram os anos de fome e frio passados na rua) que o levaram a abandonar a vida de ostentação.
A bem dizer tanto apaparico até lhe sabia bem. Começava a habituar-se. Ele sabia que não devia, mas estava mesmo.

Suzette mandou Idalina servir a Norberto uma farta refeição e depois de Jarbas chegar foi tudo aplicadinho na criatura que no fim estava um mimo. Quem o vira e quem o via... é que nem parecia o mesmo.

Suzette mandou aprontar o Jaguar outra vez, ia sair com Norberto. Quando chegaram á baixa pombalina Suzette saiu, pediu-lhe para ele sair, deixou-lhe um fato de reserva e foi-se embora.


Nessa noite dormiu tão descansada com mais uma boa acção feita. Lisboa é uma cidade por demais bonita para se ver conspurcada com pedintes andrajosos, imundos, mal-cheirosos. Um dia haveria de conseguir pôr todas as criaturas impecáveis para a mendicidade.

3 sakês:

Júlio disse...

Sai cada coisa da tua cabeça! Muito bem! Eu já estou viciado no sushi imaginário. :)

V. disse...

Podes crer... sai com cada coisa que nem sei de onde vem. Mas isto é tipo ... viciante. O mais difícil é o primeiro depois vais desenferrujando e é só permitir que os dedos transcrevam o que vai a passar pela cabeça... :)


Obrigada, Júlio!

Carpe Diem disse...

Fazes mt bem em continuar com estes teus textos, apenas n percebi se o gesto da senhora foi caridade ou uma vaga ideia de ajuda...

Contudo, existe mta falta de olhar para o outro e ajudar, ainda mais quando as pessoas precisam mas também quando não querem dizer q precisam.

Beijos
Nuno.


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