quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Vivência 72...


O meu avô é um sábio. Eu já o sabia faz tempo. Quando estamos juntos o mundo deixa de existir, mesmo! Falamos durante horas ou silencia-mo-nos durante outro tanto e, estamos sempre com um sorriso tolo nos lábios. Ama-mo-nos muito e, coisa rara, sabemos muito bem porquê.

Se o povo diz que família não se escolhe, então eu digo: eu reconheceria o meu avô, no meio de uma imensa multidão e, escolhia-o!

A nossa história de amor é velha.

Segundo ele, foi paixão à primeira vista! Depois da quase morte da minha mãe e da gritaria que se seguiu entre ele e os médicos, lembrou-se que a coisa mais importante ele ainda não tinha visto: eu! Correu pelo corredor adentro e como nas minhas ao lado só havia um menino, ele deduziu (com relativa facilidade) que Eu era mesmo Me... e quando me conta isto rimos sempre.

O meu avô viu-me primeiro do que a minha mãe e do que o meu pai. Diz que apesar do médico dizer que nasci a rir (coisa aliás impossível, dizemos os dois em uníssono), naquele momento em que cruzou olhar comigo, com o vidro a separar-nos, eu olhava muito atentamente para o tal menino ao lado (que dormia feito príncipe) e larguei uma pequena lágrima, tão pequena como os meus olhos e que, apesar de não berrar as lágrimas depois dessa primeira, corriam como se de um rio pequeno se trata-se.

Os dois contamos esta história e uma pequena lágrima cai-nos em jeito de saudade...

O meu avô diz que depois de me ter pegado ao colo que parei de chorar e o olhei muito curiosa. Antes de mim o meu avô já tinha pegado ao colo a minha prima e o meu primo mas diz que nenhum deles lhe agarrou o dedo com tanta força como eu.

Quando comecei a falar a minha primeira palavra foi para ele.
Quando comecei a andar os meus primeiros passos foram para ir ao seu encontro.
Quando me bateram a primeira vez na escola, só ele me queixei.
Quando tive acidentes que quase me custaram a vida, só lhe contei a ele.
Quando me licenciei e acabei o mestrado, o primeiro telefonema foi para ele.
Ainda hoje quando lhe falei de um grande amor, só a ele é que lhe contei o que sucedeu.

Ele com a sua reconhecida paciência, afagou-me a cabeça (como se ainda fosse criança) e disse-me: "Sabes a culpa é minha... Ensinei-te a amar desta forma tão açambarcadora que agora só tu eu te resto para te compreender. Mas não fiques triste nem aches que estás errada, tu também me ensinaste a amar assim, e já foi tarde, porque agora só te tenho a ti e tu ainda tens uma vida inteira pela frente!".

2 sakês:

mimanora disse...

Adorei a história.
Também eu tive uma história de amor assim só que "fugiu-me" mais cedo quando tinha 15 anos.

Anónimo disse...

Esta não me pode fugir... se não, receeio bem que fique com uma mão cheia de nada e outra vazia.

Se é a única que vou ter sincera e duradoura, deixá-la durar mais uns anos, aqueles que ele quiser!


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