quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Imaginário XVIII

Cheguei àquele sítio sem ter ideia de como foi. Tinha a nítida sensação de ter percorrido quilómetros mas não me sentia cansada nem com fome nem com sede. Apenas tinha a sensação de ter andado muito.

Não me lembrava do início da viagem. Não me lembrava de onde partira, nem a que horas, nem se tinha partido sozinha ou acompanhada.

Quando olhei em volta tudo o que vi foi uma imensa extensão de cinzento. Cinzento do chão, que era liso, fastidiosamente liso e cinzento. Tudo o resto à volta era negro tirando uma fonte de luz que nuca percebi de onde vinha. Cada vez que olhava para cima aquela luz imensa fluorescente, que dava um ar de certo modo fantasmagórico à cena, movia-se também, de modo que nunca vi de onde vinha.

Dei um passo. A luz moveu-se. Parei. A luz parou. Corri um pouco, a luz correu comigo. Virei-me de repente mas ela foi mais rápida que eu. Não adiantava, não iria descobrir o que era ou de onde vinha.

Continuei a caminhar na direcção para onde me dirigia originalmente, sem saber como é que sabia que era para li ou até o porquê de ir para ali. Afinal, até perder de vista tudo não passava de uma enorme extensão de chão cinzento e liso numa atmosfera de escuridão.

Andei. Andei muito, sem ter a noção da distância ou do tempo. Andei até chegar ao "fim". Tudo à minha volta e para trás continuava a ser uma enorme extensão de chão cinzento e liso mas à minha frente e prolongando-se até ao infinito para ambos os lados estava o "fim".

Espreitei para ver como é que era o "fim". Espreitei com cuidado. O "fim" era como que o vértice de um degrau gigante, do qual eu não conseguia avistar o fundo.

Virei-me para trás. De um lado tinha uma extensão infinita de chão liso e cinzento. Do outro tinha um degrau infinito. Tudo cinzento, liso, estéril. Completamente estéril, estava completamente só no infinito cinzento e negro.

Enquanto pensava o que fazer surge nas minhas costas uma mão gigante. Só mesmo a mão, sem braço, sem corpo. Uma mão em posição de "apontar", com o dedo indicador esticado e os outros dedos recolhidos. Senti um toque nas costas. Desequilibrei-me e cai.

A queda pareceu infinita. Se ao início estava com medo, a dada altura apercebo-me de que à velocidade que eu estava a cair nem iria sofrer se alguma vez chegasse a embater em alguma coisa. O medo passou e comecei a sentir-me bem com aquela queda.

Quando me comecei a sentir bem e a entregar à queda sinto um obstáculo e o meu corpo a embater violentamente em algo. Afinal a queda teve fim.

Pensei que estava toda despedaçada. Mas não. Levantei-me, olhei em volta. Pude tocar no tal degrau. À minha frente uma extensão estéril e infinita de chão cinzento e liso num ambiente de escuridão a perder de vista. A minha luz fluorescente acompanhava-me ainda.

Sacudi-me, endireitei-me e recomecei a caminhar.

4 sakês:

wednesday disse...

Isso até parece a vida, em certos dias... Mas o importante mesmo é nunca desistir!

pensamentosametro disse...

É, há dias assim, o importante , é a capacidade de nos reerguermos sempre e a cada queda, mais determinados e mais fortes.

Bjos

Tita

ThunderDrum disse...

Pois é, eu ia a dizer o q isto parecia, mas afinal é mesmo...

Carpe Diem disse...

Aqui está uma excelente metáfora para aqueles momentos em que pensamos não terem solução... eu costumo dizer que, na Vida, nada é impossivel e só depende de nós persistir ou desistir de algo.

Continua a caminhar porque só caminhando se vive e ultrapassa as dificuldades que a Vida nos impõe.

Beijos
Nuno.


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