domingo, 9 de março de 2008

Absurdo

Contribuição de Maria Bloch do blogue http://malaamarela.blogspot.com


Neste mundo difícil de acreditar, as coisas acontecem de uma só maneira, quando poderiam acontecer de tantas outras, sendo essas as que verdadeiramente interessam. Aprendemos a viver de uma só maneira, tão a mesma que nos confinamos a limites miseravelmente pequenos onde nos dissimulamos como animais. Personagens. Coisas que não fazem falta nenhuma. Como se de um palco de teatro se tratasse... histórias inventadas. Revela-se o eu, sem capa nem disfarce, no corpo de um boneco de papel. Por isso, viver é absurdo. A verdadeira vida não é aquela que nós vivemos, um dia a seguir ao outro, mas aquela que podemos sonhar. Aqueles mil mundos que podemos conhecer, sem sair daqui.

Isso é o mais importante.

Tenta-se fugir mas não se consegue.

Fechar os olhos para não ver. Olhar para o lado, usar o telecomando e ignorar o que nos tentam mostrar. Desligar o aparelho e optar uma vez mais pelo ritmo do som que se mistura com palavras desconexas formando trechos musicais que nada querem dizer. Um Top 40 contínuo, ausente de conteúdo que se contrapõe de forma inequívoca ao formato das notícias e dos comentários que a rádio tão bem sabia dar.

O mundo real passa a ser pintado em tons negros que se misturam com tonalidades de rosa, delineado pelos parâmetros do que o social pretende mostrar. As imagens tornam-se preponderantes e a palavra legenda os actos e os factos que os vestidos fazem desfilar. O que importa não é o que é, mas o que parece ser, e o que parece ser, há muito que já não é. Deixámos de saber e conhecer o verdadeiro sentido das coisas que se formam e diluem num contexto deformado face ao que acontece lá fora. A ausência da redoma revela a crueldade do mundo, uma construção sintomaticamente semelhante nas suas diferenças, como se a regência de uma só bitola tivesse transformado a nossa maneira de ser e compreender o que nos rodeia. Isso ausenta-se da sua forma e deixa de ser importante. Mais um fenómeno a juntar a tantos outros que vão acontecendo e que deixamos que nos entre pela sala, invada a casa com os sons que teimosamente não queremos ouvir e as imagens que desfilam para si mesmas.

1 sakês:

V. disse...

Obrigada pela contribuição.

Gostei muito!


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