quinta-feira, 25 de outubro de 2007

território fronteiriço

Às quintas sou eu.
É assim que está combinado há séculos, durante todos estes séculos tenho falhado. Mas não hoje, que tenho tempo e cabeça para não falhar. Tenho tempo, cabeça, mas não tenho assunto.
Esta falta de assunto é crónica, não apenas aqui, mas na taberna que dirijo sem ajuda, é um problema que se apresenta crónico e sem resolução à vista - por mais que sejam as promessas e tentativas em contrário.
The Sushi Meeting
O Encontro do Sushi
Sushi: arroz frio, temperado com vinagre, em formas variadas, e guarnecido habitualmente com pedaços de peixe, marisco ou vegetais. Expressão utilizada deste 1893, etimologia japonesa.
Gosto. Desde há anos que escolho jantar em restaurantes desta natureza, onde, invariavelmente, opto por...
Sashimi: prato japonês constituído por finas fatias de peixe cru. Expressão utilizada desde 1876, etimologia japonesa.
A preferência gastronómica reflecte-se aqui, na escrita. Ou assim pensei.
Agora, descubro que o meu tempero tem outra natureza, outra origem: um tempero imperceptível, algo que tem que ser demoradamente degustado para que se possa entender de onde vem o paladar, misterioso - já lhe chamaram enigmático. Eu sei, it comes natural.
Aqui vai.
...


- Olá.
- Há que tempos.
- É verdade... por onde tens andado?
- Por lado nenhum, quase que nem saí daqui.
- Sério?
- Claro, achas que eu ia brincar? Não, quase que nem saí daqui. Distracção tua, que nem me viste
...
- Lembras-te de te ter falado nos fios das meadas que fomos perdendo?
- Sim...
- Pois é. A minha meada desenrolou-se imenso, nestas últimas semanas. Tal foi a velocidade com que o novelo rodou, que nem eu tenho tido controlo sobre os fios, nem sei ainda se perdi o controlo desta coisa. Para te colocar a par de todas as pontas, seriam necessárias semanas de conversa...
- Estás a exagerar. Não queres contar?
- Garanto que não é exagero. Aliás, nem sei se tenho agora tempo para estar a ter esta conversa contigo, o telefone pode tocar a qualquer momento e terei que seguir no meu caminho.
- Tens um caminho, agora?
- Sei lá se tenho... tenho sempre a noção de andar a seguir os caminhos dos outros, na tentativa de que um deles me servisse. Acho que continuo na mesma, a tentar a seguir caminhos alheios, mais ou menos tortuosos.
Aliás, deves recordar-te de um conjunto de frases que te dirigi, a propósito, sobre caminhos e sobre como eu te guiava neles...
- Sim, acho que sim, que te guiavas por mim para te orientares.
- Isso: estou exactamente na mesma, sou a mesma pessoa. Apenas com a diferença de, agora, ouvir outras vozes e de tentar guiá-las - e de tentar guiar-me por elas.
- E estás contente com isso?
- Estou sempre contente quando alguém se digna dirigir-me a palavra, em dar-me atenção. Tu sabes, devias conhecer-me essa faceta, as necessidades que tenho.
- Ok.
- Olha, não gosto desse "ok", soa-me a reclamação: mas... que queres? Sabes que eu necessito de ouvir, sabes que eu necessito de guiar, de ouvido. Tu decidiste calar-te, para mim
E é aqui que eu estou agora. Foi para aqui que me mandaste.
- Como se não tivesses vontade própria.
- Talvez não tenha... eu preciso dos outros para viver...


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