domingo, 3 de agosto de 2008

Experiência 11


Disse uma vez, aquando mais novo, que ansiava conquistar o coração da minha namorada e que não sabia bem como fazê-lo porque já tinha feito um pouco de tudo...

Perguntei aos amigos... fiz as coisas certas... as erradas... demonstrei o mais profundo dos amores e o mais desolador dos desprezos... Nada a demovia de me dar apenas um pequeno contentamento ao fim do dia e julgar que isso seria o bastante... O contentamento, explique-se: ia do taciturno jantar com alguma troca de informações de como foi o dia de cada um, passando pela "loucura" de vermos juntos uma série do seu agrado, até ao lermos em absoluto sossego cada um, o seu livro...

Um dia em que ambos tínhamos acabado de tomar banho e lavávamos os dentes, olhei-a prolongadamente ao espelho, sem que ela desse por isso: descobri nessa altura um rosto humano (?) em que não existia raiva, nem desejo, rosto do qual se desvanecera toda a paixão, que sabia "tudo" e nada queria, nem vingança, nem clemência...

E por momentos pensei: "Será isto a suprema perfeição? Esta solidão absoluta e surda, face às alegrias e dores?".

Viria perceber, 1 ano mais tarde que afinal não! Aquilo era apenas uma pessoa que estava morta por dentro e que já não permitia que a vida lhe entrasse pelos poros enquanto fazíamos amor, ou lhe fosse injectada por agulhas quando ia ao médico, porque mesmo estando ali ao seu lado dando-lhe amor, provando o que era o amor, a única coisa que ela alguma vez fez que se assemelhasse a um sentimento, foi numa dada noite dar-me um valente estalo quando lhe disse: "Estás morta!".

Nesse dia saí porta fora, nunca mais a vi, nunca mais falámos... e dado que nunca pediu desculpa nem nunca quis falar do passado, deduzo que, eventualmente: morreu, mesmo!

6 sakês:

Namaste disse...

Há mortos assim...julgam que estão vivos porque mantêm as funcões vitais...são uma espécie de zombies a tropeçar na vida dos vivos!
Mais vale um vivo imperfeito, que um morto perfeitamente inerte e, pior, incapaz de sentir emoções.

Ana Oliveira disse...

Também já tive disso...em que a maior emoção era: então hoje não se janta, repinpado no sofá a ver o telejornal.
Já vê TV noutro sofá e agora também já só janto quando me dá na real gana!

Luke Skywalker disse...

Conheci só um exemplar destes que aqui descrevi... mas acho que a pessoa em questão é bem mais infeliz do que eu... Talvez o mais triste da história é que a pessoa sabe que se a mentira acabasse, a soberba se fosse e a altivez e orgulho se desvanessem, ela seria Feliz! Seja lá o que isso seja para ela agora!

Luke Skywalker disse...

Ana... Ha ha ha... desculpa mas teve de ser! Contra mim falo mas, ele há homens que nem ao estalo! E mulheres também... que de bom e mau há-o dos 2 sexos!!!!

Mas enfim, se já vê tv noutro local e se neste momento o jantar já é quando lhe dá na real gana então... vai-se no bom caminho. Acho...

Namaste disse...

Ri-te ri-te...que eu também acho que vou no bom caminho!!!

Ana Oliveira disse...

Luke
Mudou de sofá e de cozinheira.
Eu deitei os tachos fora e como cereais...


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