terça-feira, 6 de maio de 2008

Em Fogo 17 - Passos


Segui os teus passos... ias mais à frente e eu não reparava em mais nada, apenas na forma como os teus passos deslizavam no passeio, o modo como os teus sapatos faziam uma espécie de bailado naqueles pequenos quadrados de calçada.
Tu nunca olhavas para trás, mas eu seguia-te com o olhar... primeiro ouvia os teus passos e eram eles que me guiavam a ti como uma melodia, depois subi o olhar para as tuas costas direitas e firmes como se demonstrasses que eras dona de ti própria e não precisavas de mais ninguém, acabando por olhar o teu cabelo longo que me deu logo vontade de tocar com a ponta dos meus dedos e sentir a sua suavidade.
Ias apressada, contudo para mim, os teus passos pareciam descrever um momento de dança num dia de chuva ou um passe de magia no meio de um sonho... segui-te, não para saber onde ias, mas para te perguntar se sabias onde os teus passos te levavam.
Quando o sinal ficou vermelho, para ti, consegui alcançar-te e, pela primeira vez, vi-te de frente... reparei nos teus olhos de um intenso castanho perscutadores à procura do que não encontram, a tua boca com lábios carnudos que me deram vontade de ta calar com a minha, o teu rosto doce e suave... olhei para ti mas não me viste, estavas com pressa... não tive coragem de te abordar e, quando o sinal ficou de novo verde, avançaste e eu atrás de ti como sempre.
Repara, não te perseguia, não queria saber onde ias, queria apenas saber se eras feita de sonho e se sabias onde os teus passos te levavam... quando alcançaste o fim da rua sentiste-te perdida e quando perguntaste qual o caminho que devias tomar, fizeste a pergunta a quem estava mais próximo de ti, eu... não ouvi o que perguntaste e apenas te respondi que melhor do que te dizer onde ficava o teu destino seria guiar-te até lá, tu sorriste e disses-te que sim.
Fomos os dois, caminhando lado a lado, sem trocar uma palavra já que os nossos passos dialogavam uns com os outros... os teus suaves e confiantes e os meus pesados e hesitantes, percorrendo o caminho até ao teu destino.
Quando lá chegamos agradeceste-me e perguntaste se podias fazer alguma coisa por mim, eu disse que sim... podias responder-me a duas perguntas. Disseste que bastava que perguntasses e eu assim o fiz:
- És feita de sonhos?
Tu respondeste:
- Sou fruto de um sonho de amor e espero um dia ser o sonho de alguém que me ame e me saiba dar valor.
Perguntei de novo:
- Sabes onde te levam os teus passos?
Tu respondeste:
- Espero que me levem à minha felicidade.
Olhei para ti e, por momentos, perdi-me no teu olhar e tu no meu... parecia que conseguiamos ver o interior do outro e, assim ficamos, até largos minutos se passarem... depois, impulsivamente, roubei-te um beijo nessa boca que me parecia intensa, tu correspondeste... olhámos de novo um para o outro e sem mais palavras seguimos destinos opostos.
Ainda consegui ouvir os teus passos suaves e confiantes enquanto, ao mesmo tempo, pensava porque seria que hoje em dia existe tanta dificuldade em arriscar na Vida e em ser espontâneo. Medo? Ideias pré-concebidas do que "parece bem"? Receio de uma negativa? Só vivendo se experimenta e se sente mesmo que com isso se sofra...
Carpe Diem.

3 sakês:

Anónimo disse...

E então... sonho ou realidade?????

G disse...

Lindo! Valeu a pena esperar... :)

Mais, mais, mais, mais!...

bj

V. disse...

Um beijo roubado ao destinho. um beijo de prova que se pode arriscar. Uma recordação que trazes na memória, mesmo que seja uma recordação virtual foi um beijo que quiseste dar sem medos e sem perguntas.

:)


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