quinta-feira, 29 de maio de 2008

Vivência 33...


Acabei de ler ontem a Sonata de Kreutzer de Tolstoi, li outras obras dele sem nunca o compreender de facto, ao contrário desta vez - burrice certamente ou pura falta de visão - para o caso, porém, não interessa.
Na Sonata, Tolstoi fala do ciúme, contudo, o essencial não está no que ele diz mas, eventualmente a forma como escreve sobre o assunto e o que daí poderemos retirar. Trata o ciúme, como se fosse uma obra-prima, provavelmente porque ele próprio era de natureza doridamente sensual e, terrivelmente ciumenta.
Não obstante, depois de se ler a obra, optamos por ser Tolstoi (irão compreender se lerem) ou por sermos algo diferente e, por vermos que o ciúme, na sua essência não passa de uma forma mesquinha e desprezível de vaidade. Também eu, conheço bem esse sentimento. Conheci-o, senti-o e vivi-o de forma intensa. Quase me matou. Ainda assim, nada a lamentar, porque entretanto já paguei um elevado preço para vencer a vaidade.
Venceu-se o ciume, ganhou-se a racionalidade. Só somos, fundamentalmente ciumentos por duas razões: uma, porque deixamos o "verme" reproduzir-se e tomar conta de nós sem sentido, outra, porque quem está ao nosso lado, nos dá razão para acreditarmos que o ciúme é a coisa mais acertada a sentirmos apenas porque não nos dá nada de novo: nem amor, nem atenção, nem orgulho, nem companhia, nem... Enfim, dá-nos a pouca coisa que tem: a sua enorme vacuidade, o seu imenso nada! Ah, quase me esquecia, dá-nos também a noção ilusória, fantasiosa de que somos especiais em algo que nunca fica bem definido, expresso, dito...
Há uma forma de matarmos essa espécie de doença que se apodera em pouco tempo tempo de cérebro, coração, sangue e bílis e, que de certo modo, nos vai danificando alma e corpo, é uma espécie de fusão entre a demência e a loucura para a qual, creio, ainda não inventaram nome mas que denomino de Alzheimer-Psicótica.
Não damos por ela mas, aos poucos vai-se cedendo a todas as manias, mentiras, perseguições silenciosas, abusos calados que nos vão fazendo e no fim, impõem-nos uma forma de estar, uma vida inteira de contenção verbal e física. No fim, o "animal" quebra da pior forma: afasta-se da sua boa humanidade, nasce nele uma mágoa incontrolável e por fim, que nem leoa ferida, deita-se à sombra do embomdeiro e espera morrer.
Foi assim que um dia, bem antes de ler Tolstoi, entendi que o ciume naquela força humilhante, não faz "mossa" ao outro (o outro, recordem, é vazio, também de sentimentos) mas, em reverso da medalha, destrói-nos o sorriso que em tempos gostávamos de ver reflectidos no espelho e isso, é a forma mais triste de, também nós, nos tornarmos em nada.


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