quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vivências 36...


Precisei de definir saudade para um colega alemão, para entender eu própria o significado mais profundo da palavra.
Estando ele cá como colega/missionário comunicámos em inglês por ser a "língua do meio" que ambos entendíamos. Ao fazer-me a pergunta a primeira coisa que me veio à cabeça foi dizer-lhe que é o mesmo que dizer que se sente a falta de algo ou de alguém mas muito, tanto, que por vezes a própria palavra por si só não o consegue definir. Ele olhou para mim com ar intrigado e percebia que não tinha entendido nada.
Nessa noite depois de muito pensar e ler, escrevi um género de sinopse, aliás diversas, que fui deitando fora porque nenhuma me deixava com a sensação de que estaria a descrever bem o sentimento/palavra.
No dia seguinte, o Klaus voltou à carga e eu sem nada para lhe dizer de novo, apresentei-lhe os "rabiscos" da noite anterior que de novo não o deixaram muito feliz.
Acontece que, por mero acaso, aquele era o meu último dia de voluntariado naquela instituição e que tinha sido lá que tinha reencontrado um ex-namorado meu que tinha tido problemas graves com droga mas que, não só estava completamente recuperado mas era agora naquela instituição, monitor. Foi aliás a seu convite que lá fui fazer umas horas.
O reencontro foi emocionante mas a partida deixou um nó na garganta em ambos: ele ia partir para o México (numa missão) no mesmo dia em que eu terminava ali o meu voluntariado... Ambos sabíamos silenciosamente que passariam mais outros 10 anos antes de nos reencontrarmos.
Nesse dia ambos agimos como se nada fosse suceder no fim do mesmo. O Klaus por informação que o Pedro lhe deu, sabia por alto da nossa história e do que teria sucedido. Observou-nos nos dias em que esteve connosco com extrema atenção, notámos isso mas tentámos não dar muita atenção ao caso.
Na despedida não trocámos palavras, chorámos ambos sem sabermos muito bem porquê e de repente demos um forte abraço um ao outro.
Antes de entrar na carrinha que os levava para o aeroporto, o Klaus veio ter comigo e disse: "When you two said goodbye, that´s already saudade, right?". Disse-lhe que sim, que era isso mesmo. "You´re strange because you didn´t speak anything!". Disse-lhe no meu melhor inglês que foi por isso que inventámos uma palavra/sentimento: é que ele há coisas que por muito faladas que sejam, nunca traduzem de facto o sentimento que nos vai na alma.
Perguntou-me o que era a alma portuguesa... a ver-me outra vez em sérios trabalhos, sorri-lhe e disse-lhe: é bastante parecida com a mexicana... vais ter tempo para aprender!
O senhor da carrinha apitou, o Klaus entrou, não olhou para trás mas vez um adeus com a mão até desaparecerem na curva um pouco mais à frente... Os meus olhos estavam perdidos no último olhar que o Pedro dava e antes da curva colocou a cabeça fora da janela e atirou-me um beijo. O único que naquelas semanas todas de voluntariado e de convivência me deu.

2 sakês:

Namaste disse...

A saudade quando não é silêncio
... É fado
...É abraço calado...
...É beijo atirado ao vento...

Anónimo disse...

É acima de tudo, na minha opinião: um aperto no coração que por vezes, felizmente, só por vezes, é silenciado!!!!!!


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