
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Em Fogo 27 - Amizade

Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
BURACO NEGRO XVIII
Este é o mais pequeno, dizem. Já visitei o maior conhecido, já andei à deriva neste bem pequenino. Cansei-me.
De olhar dentro deles e não conseguir ver a luz que avidamente sugam à sua volta. Cansei-me.
De olhar-lhes o fundo e ver um mundo ao contrário, era giro, mas como todas as brincadeiras perdeu a graça. Cansei-me.
Vou mudar de Galáxia. Contaram-me de um planeta que, de tão diferente destes que conheço, parece estar à minha medida, agora.
A tecnologia que conhecemos, há muito que lá foi dispensada. Não percebi bem, mas tudo se faz com a energia dos seres que o habitam. É pelo menos refrescante e muito caloroso, suponho!
E as palavras...parece que deixaram de as usar! Passaram aos conceitos-imagem?? Não contam que viram um pôr-do-sol e como ficaram felizes...apenas transmitem a imagem do que viram e a sensação que os fez experimentar. Perfeito!
Acho que vou...descansar das palavras. Espera-me uma quarentena, preciso de me livrar de uma adição dispensável. Preciso aprender a ver, sentir e transmitir.
Acho que vou... já me cansei das palavras que querendo dizer tudo, não dizem nada e das que nada querendo dizer acabam por dizer tudo.
Acho que vou...não sei se voltarei. Dizem que lá, uns quantos são escolhidos para guardar a memória das palavras, preciosidades de um passado atormentado.
Talvez seja essa a escolha que me aguarda e então, quando passar o tempo adequado para que não seja mais uma necessidade usa-las, vos mandarei uma palavra.
Se esse não for o meu caminho...assim que souber como, chegarão, à velocidade da luz, as mais belas imagens que sentir, para lhes contar que estou bem.
sábado, 27 de setembro de 2008
Imaginário XXXII
Este menino era daqueles meninos muito tímidos, muito virados para si, muito metido no seu mundinho, muito entretido com as suas coisas e raramente reparava no que estava à volta dele.
Bem, não seria bem assim.
O menino era muito curioso, muito muito curioso. Ele seguia os carreiros das formigas para ver o que elas faziam, ele contava o tempo que demoravam e chegou até a comer uma para ver a que é que sabia.
Ele olhava o sol pela janela e antes de aprender os movimentos de translação e rotação já sabia de intuição que em cada momento o sol ocupava um lugar diferente. Mas não sabia os nomes. Sabia as coisas.
Então ele sabia muitas coisas que os outros meninos nunca tinham pensado porque estavam sempre a brincar àquelas coisas parvas que todos os meninos brincavam e não serviam para nada. Mas não sabia os nomes das coisas e essas sim, os outros meninos sabiam bem - não as compreendiam nem sabiam como funcionavam mas sabiam todos os nomes de todas as coisas.
Este menino foi crescendo sem nunca ter sentido a falta das brincadeiras. Sentia falta do tempo. Quanto mais olhava para tudo e tentava compreender tudo mais intuitivamente sabia que nunca teria tempo para saber o que estava a seguir.
Um dia uma menina foi ter com ele.
- Olá menino.
- Olá menina.
- Como te chamas?
- Chamo-me o que me quiseres chamar.
- Não tens nome?
- Que importa o meu nome? Eu sou eu independentemente do que me chamares.
O menino pareceu muito complicado à menina, mas também ela sentia algo semelhante, apesar de não ser contra os nomes, ela achava que as coisas deviam ter nomes, só para todos sabermos do que se falava.
- Se virmos desse modo sim, menina, mas até agora nunca ninguém falou comigo das mesmas coisas.
- Queres brincar comigo?
- Brincar? Eu não gosto de brincar.
- Não gostas? Gostas de fazer o quê?
- Gosto de contar estrelas à noite e ver que a cada dia parecem no mesmo sítio mas ao fim de dias as posições são diferentes, por exemplo.
- Essa é uma das minhas brincadeiras favoritas!
- E gostas de apanhar gafanhotos e ver como são as suas patas?
- E carochinhas da areia!!
E o menino e a menina foram brincar.
Ela ensinou-lhe os nomes e ele ensinou-lhe a ter calma e a esperar porque as coisas maiores da vida não se viam ao primeiro olhar ou demoravam tempo a acontecer.
E cresceram juntos. E aprenderam tantas coisas juntos que se esqueceram do resto do mundo.
Quando repararam viviam no mundo deles onde mais ninguém tinha lugar e que mais ninguém compreendia. Mas era o mundo deles. Onde mais ninguém cabia.
Sim, viveram felizes para sempre.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Vivências 50
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Experiência 19
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Em Fogo 26 - Fuga Surreal
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
BURACO NEGRO XVII
sábado, 20 de setembro de 2008
Memórias I
Dias como este transportam-me até à minha infância. Da minha infância os dias que melhor me lembro são os dias cinzentos. E como eu gostava de dias cinzentos...
Não pensem vocês que eu sou uma pessoa cinzenta.
Gosto de todos os dias, não fico triste se estiver sol nem radiante se chover a cântaros. Apenas gosto de todos os dias. Gosto quando faz sol, gosto quando faz chuva. Não gosto muito de vento especialmente o dos dias de inverno que parece lâmina afiada na pele. Não, não gosto de vento. Não gosto dos cabelos na boca, da areia nos olhos nem de, caso esteja a chover, do chapéu-de-chuva a virar-se.
Mas do mesmo modo que gosto de um dia de sol seja ele no inverno ou no verão gosto de um dia de chuva seja quando for. E os dias de chuva para mim são mais especiais, quase os acarinho e muitas vezes anseio por eles.
Dias como o de hoje, dizia eu, levam-me a tempos que parece que já terem sido há muito tempo, não fosse pela nossa referência cronológica terem passado pouco mais de 20 anos e eu diria que tinha sido há décadas atrás - séculos, milénios...
Nestes dias de Setembro que adivinhavam já o fim dos 3 meses de férias de verão eu já não tinha fichas da escola para fazer. Não tendo as minhas fichas não tinha nada para fazer - achavam os crescidos. Mas tinha, eu tinha sempre muito que fazer.
Saía de casa para o quintal e dava uma corrida tentando esquivar-me aos pingos grossos enquanto ouvia, cada vez mais sumida, a voz da minha avó que gritava que eu me ia encharcar e ficar doente e que voltasse para casa. E enquanto ela não vinha abrir a porta para ver o que eu fazia eu rodopiava à chuva correndo para o fundo abrigado do quintal. E quando ela abria a porta já eu estava debaixo de telhas com a minha bata da mercearia vestida.
Abria a mesa de brincar, abria a arca e tirava a minha caixa registadora azul com botões amarelos. Cortava papel que enrolava em rolos apertados e dispunha em caixas improvisadas e devidamente colocadas pela ordem que nesse dia me interessava os produtos imaginários que só eu e os meus clientes imaginários víamos.
Quando a chuva apertava mais a minha loja ficava mais vazia e os clientes tardavam. Nessa altura eu aproveitava para fazer uns desenhos que iam ser quadros um dia ou para fazer as contas do dia e ir buscar mais stocks.
Se chovesse o dia todo eu trabalhava muito.
Quando o sol espreitava os clientes desapareciam. Eu saía do barracão. Fazia uma festinha ao Jota e despia a bata. Com a chegada do sol as brincadeiras acabavam. O meu irmão saía de dentro de casa e vinha buscar a bicicleta dele ao espaço que era a minha mercearia - ou a minha escola ou o meu consultório ou o meu atelier. Eu nunca via a oficina dele e ele nunca via as minhas actividades.
Então quando chegava o sol o meu barracão era outra vez um barracão com dois baús cheios de brinquedos que só ganhavam vida quando chovia.
Sabor a Thunderlady
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Vivências 49
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Experiência 18
Perante semelhante sensação tão bela, e de quase redenção, não ousei perguntar mais nada...
Contudo, como é apanágio dos meus amigos (sabe dEuS porque carga de água) ele prontificou-se a resolver-me desde logo o... tal, o dito, do teorema, ou seja lá o que isso for:
- Repara - dizia convicto - aqui há coisa de umas semanas foi a Lohan...
- Agora é a Minogue...
E dada a minha estupidez... e cara disso mesmo, acabou por me explicar a coisa de forma MUITO sucinta e quase aparvalhada (para mim!):
- Não vês??????? Estão todas a dar em lésbicas!!!!!!!
Sem comentários porque de facto, depois de ter "acabado" uma relação há relativamente pouco tempo e disso me provocar uma quantidade inexplicável de sentimentos contraditórios... não estava "prá`í" virado... e de novo, sem lhe perguntar nada, ele continuou:
- Qualquer dia estamos arrumados!!!!!!! Em prateleiras ou pior...
Ao que eu, na minha maior inocência respondi:
- Os homens diz-se que não voltam porque quando vão não querem outra coisa... As mulheres... bom, as mulheres é apenas porque é o 4º segredo de Fátima. Ninguém o disse mas todos sabemos... uma mulher com outra deve ser... o coiso, o tal e mais não sei o quê...
Estava deprimido, fui até Alfama e bebi mais um copo... esperançado que as únicas pessoas que se cruzassem comigo fossem apenas fadistas, porreiros, sem mágoas (porque já as haviam cantada) e com uma "pint" para pagar!!!!!!
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Em Fogo 25 - Divagações em Flor
Sabor a Carpe Diem
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
BURACO NEGRO XVI

Entrei na pastelaria para fazer tempo. Uma imperial...e um cigarro se pudesse, mas não podia.
Assim entretive-me a olhar à volta, as mesas ocupadas. Naquele bairro, àquela hora, a maioria mulheres, pareciam ser as clientes habituais do fim da tarde.
Numa mesa, quase a meu lado, uma mulher chamou a minha atenção. Ainda na casa dos quarenta, parecendo menos, bem arranjada, dividia o olhar entre um livro e o espaço que a circundava com ar distraído. Bebericava um chá, aparentemente já frio, desfazia restos de scones com os dedos um pouco grossos, sorria por vezes como quem lembra uma boa piada...
Pude ver a capa do livro de relance, reconheci um autor da moda, cujas histórias tanto agradam aos que buscam o pensamento abstracto sobre as coisas do dia a dia e neles encontram explicados os seus sentimentos simples, em definições rebuscadas, e muito reconfortantes...
E eu sei, também o li, e se não fiquei com a ideia mais clara sobre o assunto que trata, pelo menos percebi que há mais gente como eu...
Mas não disto que quero falar hoje...
A tarde foi caindo, bebi mais uma cerveja, continuei a observar a mulher, tão tranquila no seu olhar deambulante, nos seus gestos mansos e tive inveja daquela serenidade.
Entrou mais gente no café, dois sujeitos dirigiram-se àquela mesa e em silêncio, esperaram.
A mulher, chamou o empregado, pagou a conta, levantou-se lentamente...derramou o resto do chá sobre a mesa, desfez o último scone entre os restos de manteiga e doce e seguiu os homens.
Só então lhe vi o brilho alucinado do olhar, o esgar de loucura nos lábios.
Saí, acendi um cigarro à tanto apetecido e soube pelas conversas da rua que era assim... a mulher chegava, pedia um chá com scones, perdia-se no tempo da tarde, até chegarem para a levar de volta à clínica caríssima, para doente mentais, onde vivia à anos e de onde saía todas as semanas para um chá vigiado...
Outro cigarro acompanhou-me as lembranças e fugi para o carro.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Vivências 48
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Experiência 17
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
BURACO NEGRO XV

Hoje lembrei-me como era fácil o tempo que passava contigo!
Corria entre risos, conversas, musica e lágrimas.
Os risos eram sempre felizes ou tristes mas nunca foram só sorrisos.
As conversas sérias ou tontas foram sempre de palavras verdadeiras.
A musica, estranhamente era dividida entre a descoberta e o reviver.
As lágrimas eram tuas, sempre rapidamente apagadas pelo meu estar ali.
Hoje imagino que o teu riso continua fresco e leve mas acredito ouvir nele um soluço.
Hoje as tuas palavras serão ainda fáceis e certas mas acredito saber delas o lado incerto.
Hoje a tua musica continuará a ser a mesma mas acredito ler nela o reavivar da dor.
Hoje as tuas lágrimas rolarão num rosto amassado pela certeza da perda!
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Vivências 47
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Experiência 16
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Em Fogo 24 - A Pintura
Sabor a Carpe Diem