Este menino era daqueles meninos muito tímidos, muito virados para si, muito metido no seu mundinho, muito entretido com as suas coisas e raramente reparava no que estava à volta dele.
Bem, não seria bem assim.
O menino era muito curioso, muito muito curioso. Ele seguia os carreiros das formigas para ver o que elas faziam, ele contava o tempo que demoravam e chegou até a comer uma para ver a que é que sabia.
Ele olhava o sol pela janela e antes de aprender os movimentos de translação e rotação já sabia de intuição que em cada momento o sol ocupava um lugar diferente. Mas não sabia os nomes. Sabia as coisas.
Então ele sabia muitas coisas que os outros meninos nunca tinham pensado porque estavam sempre a brincar àquelas coisas parvas que todos os meninos brincavam e não serviam para nada. Mas não sabia os nomes das coisas e essas sim, os outros meninos sabiam bem - não as compreendiam nem sabiam como funcionavam mas sabiam todos os nomes de todas as coisas.
Este menino foi crescendo sem nunca ter sentido a falta das brincadeiras. Sentia falta do tempo. Quanto mais olhava para tudo e tentava compreender tudo mais intuitivamente sabia que nunca teria tempo para saber o que estava a seguir.
Um dia uma menina foi ter com ele.
- Olá menino.
- Olá menina.
- Como te chamas?
- Chamo-me o que me quiseres chamar.
- Não tens nome?
- Que importa o meu nome? Eu sou eu independentemente do que me chamares.
O menino pareceu muito complicado à menina, mas também ela sentia algo semelhante, apesar de não ser contra os nomes, ela achava que as coisas deviam ter nomes, só para todos sabermos do que se falava.
- Se virmos desse modo sim, menina, mas até agora nunca ninguém falou comigo das mesmas coisas.
- Queres brincar comigo?
- Brincar? Eu não gosto de brincar.
- Não gostas? Gostas de fazer o quê?
- Gosto de contar estrelas à noite e ver que a cada dia parecem no mesmo sítio mas ao fim de dias as posições são diferentes, por exemplo.
- Essa é uma das minhas brincadeiras favoritas!
- E gostas de apanhar gafanhotos e ver como são as suas patas?
- E carochinhas da areia!!
E o menino e a menina foram brincar.
Ela ensinou-lhe os nomes e ele ensinou-lhe a ter calma e a esperar porque as coisas maiores da vida não se viam ao primeiro olhar ou demoravam tempo a acontecer.
E cresceram juntos. E aprenderam tantas coisas juntos que se esqueceram do resto do mundo.
Quando repararam viviam no mundo deles onde mais ninguém tinha lugar e que mais ninguém compreendia. Mas era o mundo deles. Onde mais ninguém cabia.
Sim, viveram felizes para sempre.
sábado, 27 de setembro de 2008
Imaginário XXXII
Era uma vez, numa época qualquer e sem ter que ter obrigatoriamente príncipes, princesas, cavaleiros, bruxas, poções mágicas, nevoeiros, fadas e tantas outras coisas que embelezam as histórias de infância, um menino.
Sabor a Thunderlady
Servido por V. eram 12:29:00
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2 sakês:
Simples, bonito. Resumindo: perfeito imaginário. :)
:)
Quase perfeito... Às vezes temos que pôr uma pitada de real nos imaginários para nos entenderem.
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